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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

De Bragança a Lisboa eram nove horas de viagem...

Eram umas "quatro ou cinco horas de caminho, num Fiat de três portas, sem ar condicionado", que mais parecia um forno sob o sol de verão. É assim que Inês Valinhas recorda as longas viagens entre Portalegre e Lisboa, com os avós. 
Quando era pequena havia o carro dos avós e o dos pais, outro Fiat, e as viagens longas eram realmente longas. Como cantavam os Xutos & Pontapés, de Bragança a Lisboa eram "nove horas de viagem". E Inês chega a Portalegre em pouco mais de duas horas, no seu próprio carro, de que não prescinde para ir para o trabalho todos os dias, mesmo grávida de oito meses. O marido fica com o outro carro. Na família da irmã há um carro e uma mota e a mãe continua a conduzir.
A história espelha a de tantas famílias portuguesas: o carro tornou-se comum e as distâncias diminuíram muito desde 1986, ano de entrada na então Comunidade Económica Europeia. Se houve uma área em que a adesão mudou a face de Portugal foi a mobilidade, com a rede de estradas à cabeça. O alcatrão invadiu o País: foram construídos 5700 quilómetros de novos troços de autoestradas e itinerários principais e complementares, em grande parte com recurso aos fundos comunitários. Os números são impressionantes e fazem de Portugal o país da União Europeia com mais autoestradas per capita, uma densidade que é o dobro da média europeia.
A acompanhar a aposta na rede rodoviária houve uma explosão do número de carros. O País passou de um por seis habitantes para um por menos de dois habitantes. Houve vantagens: quase tudo ficou mais perto. O tempo médio de distância de Lisboa às capitais de distrito encurtou 43%. Chegar a Bragança demora agora cinco horas, por exemplo.
 
Mas 27 anos depois muitos questionam a aposta na rede rodoviária. 
Para o presidente da Quercus, Nuno Sequeira, foi muito pouco inteligente do ponto de vista ambiental e até económico. "Grande parte desse investimento acabou por revelar-se um mau investimento. Estamos a ter dificuldades para pagar a construção da rede e a prazo vamos ter de pagar a manutenção. Sobretudo, porque foi um investimento desproporcional, por exemplo, em relação à ferrovia". Isto porque, em contraste com a rede de autoestradas, as linhas ferroviárias eletrificadas cresceram muito menos e estão bem abaixo da média europeia. 
Nuno Sequeira considera que o alcatrão não trouxe os benefícios económicos esperados e funcionou como incentivo à explosão do transporte individual, do carro, que é "muito pouco sustentável do ponto de vista ambiental e até do ponto de vista energético, já que o País é obrigado a importar combustíveis fósseis, aumentando a dependência energética do exterior". Nos últimos censos, 62% da população disse ir para o trabalho de carro, um aumento de 42% em relação à década anterior. Uma tendência que é preciso mudar com a aposta no transporte público coletivo e na chamada mobilidade suave: andar a pé e de bicicleta. As bicicletas à procura do seu espaço na estrada. 
É preciso olhar duas vezes e confirmar nas matrículas dos carros que não estamos noutro país - num do Norte da Europa, em que os estacionamentos à porta das estações de comboio têm mais bicicletas que carros e em que um terço da população se desloca a pedalar. É bem mais perto, na Murtosa, distrito de Aveiro, onde 16,9% dos habitantes usam a bicicleta para ir de casa para o trabalho - contra uma média nacional que é de 0,5%, segundo os últimos censos. "Os mais velhos nunca abandonaram este hábito e os mais novos estão a aderir muito bem, como se pode ver pelo estacionamento na secundária", aponta Paulo Guerra dos Santos, um engenheiro que estuda a mobilidade urbana. 
Para Paulo, é preciso dar condições aos habitantes das cidades portuguesas para aderirem à chamada mobilidade suave: aquela em que usamos as pernas - a andar, de patins ou bicicleta - para nos deslocarmos. E isso passa por dar espaço às bicicletas na estrada, como aos outros meios de transporte, e não apenas em vias no passeio. "2011 foi o ano zero da bicicleta, foi o ano em que deixei de conhecer todas as pessoas que andavam de bicicleta", explica, mas é preciso mais. 
Nunca será para toda a gente, mas do ponto de vista ambiental, de saúde e económico só tem vantagens, lembra o presidente da Quercus, Nuno Sequeira.

Por: Patrícia Jesus
in:dn economia

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