Ao longo de séculos em Trás-os-Montes, com fracas vias de comunicação, a província com a mais extensa fronteira terrestre, as feiras desempenhavam papel fundamental na atividade económica. Os homens do campo deslocavam-se às feiras levando animais e produtos da lavoura para venda, fazer as compras necessárias às suas atividades domésticas e do campo, adquirir ou trocar produtos. A situação evoluiu muito, à medida que as vias de comunicação foram rompendo o isolamento dos territórios e evolução dos meios de transporte.
Muitos dos bens deixaram de ser transacionados nas feiras e nas aldeias, onde também se faziam trocas de produtos, surgiram pequenos comércios, logo de seguida ganha maior expressão a venda ambulante, não tardou surgiram as médias e grandes superfícies comerciais. Em Bragança, na década de noventa instalaram-se quatro médias superfícies comerciais. Em menos de meio século, o abastecimento público alterou-se quase de forma radical, assim como a relação entre produtores e consumidores.
O transporte por tração animal que permitia aos agricultores transportar os seus produtos para os locais de venda nas feiras, foi sendo substituído pelo transporte em camionetas e autocarros que, para além de transportarem passageiros, transportavam alguma carga por cima do tejadilho e no compartimento inferior onde também eram transportados pequenos animais. Nas camionetas, veículos de transporte de carga e de passageiros, eram transportadas mercadorias diversas e também pessoas. Alguns camionistas dispunham de licença específica para o transporte de passageiros, adaptando as carroçarias, colocando nq parte da frente, coberturas amovíveis onde eram colocados bancos corridos para os passageiros, a parte de trás era destinada ao transporte de carga e de animais.
Com a evolução dos meios de transporte, os agricultores deixaram de fazer longas jornadas a pé conduzindo os animais à feira, passaram a transportá-los em tratores e camionetas. Também os carros de bois carregados com produtos da terra deixaram de fazer o lento e longo percurso das aldeias para a cidade. Das aldeias vizinhas de Espanha, em particular da zona da Sanábria, vários agricultores conduziam os seus animais à feira de Bragança.
Virgílio Taborda refere que já durante o século XIX, as feiras de Bragança se tinham especializado na comercialização de gado e cereais, embora se transacionassem outros produtos da economia local e regional, que na década de 1930, as feiras da Terra Fria, nomeadamente a de Bragança e dos Chãos se tinham praticamente transformado em mercados de gado.
A criação de gado de todas as espécies reduziu muito, em particular o bovino, que prestava importantes serviços na lavoura, nos transportes de mercadorias, fornecia matéria primas para a indústria e carne para alimentação. Nas últimas três décadas no concelho, o número de animais reduziu de cerca de 6000 animais para pouco mais de 2000. Tudo mudou a um ritmo muito acelerado, isso não significa que a economia da região tivesse baixado. A evolução do comércio, dos serviços, da indústria, tem permitido à região progredir em termos de rendimento médio per capita, aproximando-se da média nacional, apesar de continuar a ser preciso percorrer um longo e difícil caminho para reduzir as assimetrias que persistem e combater o acelerado despovoamento do território.
O abastecimento público de bens mudou muito rapidamente, o sistema comercial disponibiliza diariamente todos os produtos, apoiado numa rede que cobre o território, o que veio a diminuir a importância das feiras, hoje reduzidas a uma pequena componente de produtos da terra e à venda de roupa e objetos variados. Mantém-se ainda a tradição, em particular dos mais idosos das aldeias, de ir à feira, como que um pretexto para vir à cidade.
A Feira está agora instalada em espaço central em termos urbanos, com boa acessibilidade, para vendedores e feirantes, aí se podendo aceder a pé a partir de qualquer ponto da cidade, ocupa uma área contígua ao Mercado Municipal, à Catedral, e aos edifícios sede do Município.
De destacar que os concursos de bovinos de raça mirandesa se iniciaram no ano de 1865, concurso que teve interrupções. A partir do ano de 1998, passou a realizar-se no dia 21 de agosto, dia principal das festas da cidade, dedicado aos agricultores do concelho, realizando-se no recinto do anfiteatro do IPB, junto às cantinas escolares, recinto com boas condições de segurança para centenas de pessoas assistirem ao desfile e classificação dos animais das várias secções a concurso. Após a entrega dos troféus, segue-se o almoço convívio com os agricultores, enquanto se prepara a tradicional luta de touros, à qual assistem milhares de pessoas. A luta de touros decorria em campo improvisado contíguo ao campo de futebol do Trinta, ocorrendo por vezes acidentes graves com a fuga dos touros.
As condições de segurança no espaço improvisado do Trinta eram insuficientes, os agricultores pediam melhores condições, por isso se decidiu assumir a construção de um Recinto de Promoção e Valorização das Raças Autóctones, com plenas condições sanitárias e de segurança, em recinto definitivo e licenciado para o efeito, onde se pudessem realizar os concursos de animais, a luta de touros e reiniciar as feiras de gado. O local escolhido foi na envolvente do estádio municipal, com um moderno e funcional projeto de arquitetura, bons acessos e estacionamento. O recinto foi concluído a 21 de agosto de 2013, aí se fez a festa que os agricultores aguardavam.
Atualmente, na cidade, para além da feira semanal, realiza-se a feira das cantarinhas, a feira do artesanato e a feira “Norcaça/ Norpesca/Norcastanha”.
Na área rural realizam-se algumas feiras. Em Izeda, realiza-se a feira dia 8 e 26 de cada mês e a feira do folar no domingo de Ramos, teve a sua primeira edição no ano de 2000. Na aldeia de Parada a feira mensal deixou de se realizar há cerca de 15 anos, realiza-se agora uma feira anual de artesanato e produtos regionais, tendo ocorrido a 1.ª edição em dezembro de 2007 no pavilhão multiusos, inaugurado no mês de dezembro de 2005. Em S. Pedro dos Serracenos, realiza-se a feira das Cebolas, com a 1.ª edição no ano de 2000. Em Samil realizou-se a 1.ª edição da feira do Pão a 25 de abril de 2014; Em Rabal, realiza-se no dia 15 de agosto, desde o ano de 2002, a feira dos produtos da terra, em espaço construído para a realização de feiras e festividades, inaugurado a 15 de agosto de 2012. Na aldeia de Coelhoso realiza-se desde o ano de 2010, a feira do Cordeiro, no pavilhão multiusos, inaugurado no mês de agosto de 2009.
Em cerca de década e meia foi assegurada a construção de um matadouro municipal, a construção do novo mercado municipal, com a valência de feira dos produtos da terra, a instalação da feira em espaço central e condigno, a construção de espaço próprio para os concursos de gado e de luta de touros, o apoio ao lançamento de algumas feiras anuais, iniciativas que contribuem para a valorização de recursos endógenos, em particular da atividade agrícola, pecuária e florestal. Na era do comércio electrónico, do comércio e logística globais, importa valorizar o que está próximo, é distintivo, seja os recursos endógenos, a identidade, os valores culturais as pessoas o mais valioso recurso de um território.
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(Henrique Martins)
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