Todos os anos, na festa dos rapazes, em honra de Santo Estêvão, é escolhida uma pessoa (tradicionalmente um homem novo), natural da localidade ou dela descendente, para encarnar a figura de um rei, ficando a seu cargo a organização da festa, que dura dois dias.
Este ano, o escolhido foi Emanuel Bouça, um jovem de 21 anos que, apesar de não esconder a satisfação pelo cargo importante que desempenha, durante dois dias, confessa que é uma tarefa “árdua” com os preparativos que “já começaram há dois meses”.
Ontem, dia 5, ao fim da tarde, chegou o grupo de gaiteiros e começou a festa com a primeira volta pela aldeia, a distribuir os cerca de 150 quilos de tremoços e muitos litros de vinho por todas as casas.
Entretanto, no centro da aldeia acontece o baile com uma aparelhagem sonora e, quando o Rei chega, as pessoas presentes são convidadas a dançar a "Murinheira", (típica dos Celtas), uma dança vigorosa, um bailado guerreiro com um misto de cortesia.
Neste dia de Reis, a alvorada aconteceu às seis e meia da manhã. O rei, ostentando uma coroa revestida a veludo e adornada de objetos em ouro, emprestado pelos habitantes, carregando um bastão, em madeira, com uma laranja incrustada, ao som das gaitas de foles e dos bombos, volta a percorrer a aldeia para receber a "manda" (donativos) para custear a despesa da festa, que já não fica nada barata, ronda os 1500 euros.
Outro dado curioso, é que também as crianças acompanham o Rei, fumando cigarros. Emanuel Bouça nega que esta tradição seja incentivadora para incutir nos mais novos o vício do tabaco . “Só começou a fumar quando fui para a universidade e conheço gente que só fuma nesta festa e, durante o ano, nunca mais pega num cigarro”, contou.
Um dos habitantes de Vale de Salgueiro, Eduardo Augusto, já com 89 anos, não sabe há quanto tempo se realiza estas tradições da festa dos Reis, mas contou que já o seu avô falava com entusiasmo desta iniciativa.
A festa acaba com a celebração da missa, onde acontece a cerimónia de entronização e passagem do testemunho. O rei retira a coroa e coloca-a no novo “monarca” que vai organizar a festa em 2018.
E a coroa é de tal forma cobiçada que até há quem manifeste a intenção de dar uma quantia mais generosa para ser rei por dois dias, mas Emanuel Bouça não se deixou influenciar e já formulou o convite a quem tinha em mente.
A festa dos Reis continua a ser uma imagem de marca de Vale de Salgueiro, uma freguesia do concelho de Mirandela.Vale de Salgueiro vai continuar em festa até domingo, com a realização, no fim-de-semana, da terceira edição da feira dos Reis, numa iniciativa da junta de freguesia, em colaboração com o Município de Mirandela.
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