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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira..
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

A “minha” ribeira!...

Ponte-Frieira
Foto de Manuel António Afonso
Sem nunca omitir as minhas origens, porquanto fazem parte da identidade, da minha forma de sentir, viver e interagir, é habitual, todas as semanas, deslocar-me à minha aldeia natal – Frieira. Para além dos afetos pessoais e familiares, gosto do contacto com natureza e as coisas locais, convivendo no presente, com recordações do passado, mais ou menos recente.
Vem isto a propósito da tristeza que emerge em mim, ao ver, em pleno Outono, a ribeira da minha aldeia, a que eu também chamo “a minha ribeira”, sem vida, sem “alma”. Digo “minha”, porque, com ela, tenho uma ligação “umbilical” desde que nasci. Desde que me reconheço, a “minha” ribeira tem sido referência singular em múltiplos aspetos da minha vida, sobretudo porque foi nas suas, outrora limpas e transparentes, águas, que aprendi a nadar e, nas suas margens, a brincar. Arrebata-me, assim, neste clima de “verão prolongado”, profunda nostalgia, ao vê-la como nunca a vi. Seca, vazia de quase tudo, sem alegria, nem vida, de água ausente, despida!... De ventre trespassado, deixando ao léu, desprotegido, o seu leito. Evidenciando uma secura desértica e arrepiadora, que até me causa dor no peito. Quando, neste Outubro, tempo de correr “água nova”, a contemplo, a observo, da minha varanda, e nada mais vejo, além de terra, ou areia, queimadas pelo o sol, que aquece e reflete, sem se espelhar, lembro-me do sonoro e harmoniosamente orquestrado hino das rãs, nas noites de primavera, dos peixes desconfiados, dos patos bravos, da tranquilidade das galinhas de água, ou das tartarugas a nadar. Um curso de água corrente, de muita e diversificada vida, que, neste “frio” estio, parece perdida, mas que prefiro imaginar que esteja adormecida. Na verdade, é desolador ver a “minha” ribeira assim. A ribeira da minha aldeia e só da minha, porque nenhuma outra, usufrui da mesma forma, da sua riqueza, que lhe “irriga o ventre”, num harmonioso e romântico correr, que alegra, potencia o viver e o reviver. 
Poder-se-á pensar que as ribeiras, sendo pequenos cursos de água, são todas iguais, mas não é verdade. A “minha” ribeira é diferente. Linda e muito especial: corre, habitualmente, tranquila, evidenciando a sua vaidade, sustentada na sua singularidade, umas vezes calma, outras, apressada e turbulenta, quando cheia. Trabalhadora incansável, com a alegria que os amieiros e as outras árvores que a ladeiam e a moderam, também lhe transmitem. Vigilantes atentos da rainha que as alimenta e lhes segreda canções suaves e balsâmicas. Estas melodias eram a música de fundo que acompanhava as  brincadeiras e gargalhadas cristalinas das crianças que fomos, de Frieira, e que continuam na nossa saudade. Acredito, ou melhor, tenho a certeza que esses sons ainda continuam por ali lembrando a minha, a nossa presença e a de tantos outros como nós, no vento, no sol e nos aromas da terra.
Recordo-me do açude e das pedras lisas e esféricas com os limos verdes a ondular com o ritmo da água: eram os cabelos, como lhes chamávamos.
Fazíamos "barcos" com as folhas e ficávamos a vê-los seguindo a corrente, imaginando aventuras, conforme a fantasia de cada um, e íamos transmitindo aos outros.
Foram tempos muito felizes. Plenamente felizes, como os recordo: o fazer por fazer e o brincar por brincar...."porque sim", com a alegria genuína da idade da inocência.
Nos tempos de criança não imaginávamos ainda o valor da nossa ponte românica, mas  era (ainda é) linda, assim como tudo o que a rodeava e rodeia.
Não pretendo voltar atrás, não. Só quero ver e ouvir a minha ribeira, contemplar o açude, ver o moinho de água a funcionar e voltar a observar os  amieiros espelharem-se nessas águas a quem transmitem um verde cristalino e irreal, como um espelho panorâmico ilimitado, na certeza de que o Universo lhes confere a força telúrica da terra que anima as raízes, no silêncio da noite quando um manto estrelado se estende sobre a “minha” ribeira!...


Nuno Pires
in:mdb.pt

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