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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 7 de maio de 2018

“Os Livros que ninguém lê”

Graças aos novos processos de produção, tornou-se relativamente fácil e barato editar um livro. Por isso, nunca tanto se editou em Portugal. O processo de composição, paginação, impressão, encadernação, etc, não se comparam com os métodos do passado, em que os tipógrafos colocavam, letra a letra, numa prancha, por cada página do livro, que depois seria colocada numa rotativa de impressão.
E se recuarmos ao tempo de Gutenberg (ano de 1450), o inventor da prensa, que vivendo numa região caracterizada pelo cultivo de vinho pensou e adotou a metodologia das prensas que eram utilizadas para a obtenção do vinho, afim de “exprimir” o suco das uvas. Assim, esta foi tomada como molde embora ainda fosse necessário muito trabalho para transformá-la numa impressora tipográfica. As imagens e os textos eram feitos numa chapa só, como se fosse um grande carimbo onde as frases dos textos eram compostas por várias letras individuais. A evolução, como tudo na vida, não parou e hoje falar dos métodos de Gutenberg é como que falar da “pré-história”, embora ainda existissem há poucas décadas. 

Estes custos fixos de produção, para uma edição livreira, tinham que ser diluídos por uma quantidade económica de exemplares editados. Hoje, graças à evolução das tecnologias de todo o processo, podem fazer-se edições de pequenas quantidades das obras literárias e recorre-se a um conjunto variado de “truques” para tornar mais apelativos os livros e cativarem os compradores e leitores. Desde as capas dos livros, o seu colorido e motivos dão um forte contributo ao impulso de comprar e até ler, mas também o tipo de letra, disposição das páginas, etc, em nada se comparam com as edições do passado, extremamente massudas.

Aliada a estas técnicas de venda, a entrada no mercado das “Grandes Superfícies – vulgo Híper e Supermercados, mas não só”, que disponibilizam os livros “à mão” do comprador e leitor, matou as livrarias tradicionais, e tornou os livros mais acessíveis e mais baratos. Contudo, a quantidade de obras confunde os potenciais leitores, ainda mais com a concorrência, que os livros sofrem, face a outros meios e outra oferta de lazer. Edita-se muito, de autores que ninguém conhece, nacionais e estrangeiros, e a qualidade literária não saiu favorecida.

Muitas vezes, compramos um livro, ou levantamo-lo numa biblioteca, e a desilusão surge, porque a história, a forma de escrita, etc, não justifica o dispêndio de tempo, ele próprio tão escasso. Por isso, os monos literários, isto é, livros sem comprador ou rejeitados pelos leitores tem, como destino final, a destruição das resmas de papel gastas com a sua produção. Grande desperdício dos livros que ninguém lê…

Obviamente que há as exceções e, muitas vezes, donde menos se espera. E eu tenho tido a sorte de “descobrir” autores que me surpreendem com obras de que acabo por gostar muito de ter lido. E alguns, como disse, são desconhecidos ou não “badalados” com os prémios literários atribuídos a outros e que acabam por nos frustrar, quando os lemos. É um facto que o hábito de leitura tem vindo a decrescer assustadoramente nas culturas “ocidentais”, porque os jovens e adultos jovens de hoje não sentem esse apelo e a consequência mais visível é o mau trato que a língua mãe sofre.

É triste verificar que a literacia está muito maltratada e não apenas pelos modernos “analfabetos” da sociedade de hoje, porque também a nível daqueles que usam a escrita na sua função profissional. Esta aversão à leitura é ainda mais inconcebível, se pensarmos que as gerações das “entas” pertencem a uma época, a um meio em que a tendência era exatamente para nos impedir que lêssemos: “para de ler, porque vais estragar a vista; vai lá para fora brincar, porque está um lindo dia; apaga a luz, porque já é tarde, etc, “. Eram” sermões” que ouvíamos.

Hoje, esta mesma (nossa e mais novas) geração diz não ter tempo para ler e acrescenta: onde podemos ir roubar tempo para ler? à televisão, às tarefas diárias, a outras formas de convívio; às redes sociais, etc? Para muitos, existe um conflito entre o desejo de ler e a falta de tempo para o fazer. Por isso, alguns meios de transporte (metro, etc) são, nos tempos modernos, a maior “sala de leitura”. Mas gostar de ler é uma forma de amor, ao livro, à palavra e à vontade de aprender, tal como o é amar alguém (filhos, pais, cônjuge)? Então, por essa ordem de ideias, também amar seria um roubo de tempo, tal como o tempo de leitura.

Outros, argumentam que sai caro comprar livros, mas esquecem-se que há muita oferta gratuita para ler. Por exemplo, bibliotecas, empréstimos de livros e, modernamente, mas sem sucesso, “bancas de troca de livros” livre e gratuita em centros comerciais, jardins públicos, etc. Ler é o alimento da alma e da educação e da formação, tal como o comer, saudável, é vital para o ser humano. Caminhamos para uma preocupante iliteracia, na era dum desenvolvido sistema comunicacional sem paralelo? 


Serafim Marques
Economista (aposentado)
in:noticiasdonordeste.pt

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