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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 16 de junho de 2018

Transmontano – e com muito gosto. É o Mercado dos Zés

Tanto se come, como se bebe, como se leva um pedaço de Trás-os-Montes para casa. Em Março, dois filhos da terra abriram o Mercado dos Zés. Porque querem preservar a “génese” da região.


Um dos Zés já andava a namorá-la há algum tempo — à ideia e à loja. O outro Zé de bom grado acatou o romance; a bem dizer até o inflamou. Aberto a 1 de Março, bem no centro de Mirandela, o Mercado dos Zés é uma loja, com espaço para provas, onde quem chega encontra sobretudo produtos transmontanos, da gastronomia ao artesanato. E é uma carta de amor deles, dos dois Josés, à terra que os viu nascer, à região que os lavrou e talhou. “Porque tudo está cada vez mais industrializado”, diz José Tiago, e é preciso preservar a “génese” do território. Porque está “a perder-se a identidade”, afiança José Beça, e é preciso oferecer a quem chega “produtos diferenciados”.


O exterior do edifício já prepara o mais incauto. Há cortiça a revestir a fachada, oriunda do vizinho sobreiral do Romeu. Um painel de ilustrações de Sónia Borges dá conta de algumas expressões populares. “Vai a carocha do pão?”, pergunta-se numa; “Já larpaste!”, remata-se noutra, como quem diz, já comeste. Pois é, estamos em território transmontano — e com muito orgulho. Lá dentro, há tanto para ver, tanto para provar.

O espaço é amplo, a decoração moderna, mas o aroma não engana. Por detrás do balcão, pendem alheiras (ou não estivéssemos nós em Mirandela), presuntos, chouriços, enfim, fumeiros para todos os gostos. Na vitrina, à la mercearia, vemos o genuíno folar de carnes, a bola sovada, o doce económico, queijos e enchidos de vários feitios. No centro da loja, grandes arcas de madeira expõem frutos secos a granel, como nozes e amêndoas. Há azeites mais e menos ácidos, azeitonas (mais ou menos) curtidas, compotas mais ou menos gourmet.

E, claro, muitas garrafas de vinho à escolha. Atenção, porém, que não se conquista apenas o estômago. Os revivalistas podem levar para casa peneiras e colheres de pau, botas e cestas, tapetes e as típicas mantas da região, tudo obra e graça de artesãos locais. Não há ímanes ou porta-chaves, há pequenos (e adoráveis) pés de oliveira, de três variedades autóctones, a nascer de vasos embrulhados em serapilheira. “É um mimo, que não é nada caro”, afiança José Tiago. “Uma lembrança, em vez de ser um prato a dizer Mirandela, que entendemos que não marca a identidade.”

Rejuvenescer, sem perder as raízes
Há já muito tempo que José Beça, de 39 anos, queria criar um espaço como este na sua cidade. E aquele edifício defronte para o rio Tua, abandonado há cerca de um ano, caía como uma luva nos seus planos. Arquitecto de formação, empresário de profissão, lá convenceu a proprietária a arrendá-lo. Depois, lá tratou de fazer o mesmo com o amigo José Tiago, de 33 anos, que na altura se encontrava desempregado, depois de ter deixado o seu trabalho na autarquia. Juntos perceberam que já existiam muitas lojas em Mirandela neste ramo, mas nenhuma com o conceito que idealizavam.

Um espaço de comercialização de produtos locais, onde também se bebe um copo de vinho (de 1 a 3€) enquanto se “pica” uma tábua de queijos e enchidos ou se experimenta uma tapa. Um local onde artesãos locais mostram e vendem as suas peças. Um sítio em que as pessoas podem “fazer coisas” — já houve provas de vinhos e em breve uma artesã estará a tear um tapete in loco. Sempre num diálogo descontraído entre o passado e o futuro, entre o rústico e a sofisticação.


“A ideia”, admite o primeiro José, o autor do projecto de arquitectura, “também é rejuvenescer”. Mas sem perder as raízes. “Temos muitas relíquias que já não se encontravam há muito tempo e as pessoas levam”, diz José Tiago, aludindo às socas tradicionais ou às peças de latoaria. E que clientes são esses? Habitantes locais, sim, que já vão aparecendo para uns aperitivos antes do jantar, mas também turistas, que chegam em cada vez maior número — na época alta, por exemplo, vão estender a hora de abertura ao fim-de-semana a pensar neles. “Isto pode ser uma alavancagem para que outros negócios possam existir.”

Amanda Ribeiro
Jornal Público

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