Por: Silvino dos Santos Potêncio
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..")
Emigrante Transmontano em Natal/Brasil – desde 1979
...continuação)
Era um tempo de Inverno ou início de Primavera, e quando cheguei à Aldeia, nesse sábado que o mei Tio Mário me trouxe no cavalo dele desde Macedo, eu quase nem vi os meus amigos da Escola Primária em Caravelas… só no domingo na hora da missa!
Por isso na Segunda Feira de manhã, logo cedo ainda quase de noite, a Minha Mãe me tirou da cama, me ajudou a vestir porque eu estava meio acordado e a outra metade meio a dormir e me sentei no escano enquanto ela fritava um ovo rapidamente porque a camioneta já estava parada lá na Estrada.
- Ela Cortou duas fatias de pão centeio, meteu no meio o ovo estrelado ainda quente, e o meu Pai já estava no fundo da escada à espera de irmos para a Estrada (naquele tempo durante o Inverno nem o carro do Padre Moutinho descia para o meio do Povo senão só Deus, e uma junta de bois para o puxar de novo ladeira acima até ao asfalto).
Eu e o Meu Pai subimos a Ladeira do Vale das Chouras que escorregava cumó caraças e ele falou com o Chofer duma camioneta que vinha da Trindade, ou da Vilariça, Santa Comba, eu acho!... e ele ia para Macedo de Cavaleiros.
Como não tinha lugar dentro da Cabina lá me botou na carroçaria que tinha uma lona na parte da frente encostada à cabine e lá fomos.
Os homens na carroçaria a conversar sobre cabras carneiros, bois e vacas, batatas plantadas e as videira enxertadas que iriam florir dali a uns dias. Nabais com grelos e outras coisas… Conversa vai, conversa vem e eu a olhar para o pão com ovo!… como ou não como?
A camioneta entrou em Macedo, virou à esquerda na esquina da Livraria Mascarenhas, passou em frente da casa do Doutor Lima, e eu a pensar que o meu Pai tinha dito ao chofer aonde eu ficar, fiquei à espera!… “passemos” em frente da Cadeia e o homem não parava... comecei a titubear de frio e…Um dos companheiros de viagem virou-se para mim e perguntou; aatãon tu p’raadonde bais!?
- Pra Macedo… Oh cum caraaaaças!
- Oh Ti Zé pare! Pare aí caraago!… Olhe c’o Garoto era pra descer em Macedo e nós estamos em Travanca!...
Começou a bater no capô da Camioneta senão o Chofer não parava… Quando parou a camioneta, eu pulei da carroçaria e comecei a fazer o caminho de volta, mas… quando tentei comer o pão com ovo ele estava frio, praticamente gelado!... atirei-o por cima dum muro de um olival que havia ali do lado oposto ao da Cadeia de Macedo, e lá fui para as Aulas do período da tarde no então Externato Trindade Coelho.
- Em Junho, o Doutor Lima providenciou os Bilhetes de Comboio até Bragança e lá fomos, mas desta vez não fiquemos juntos porque a Senhora da Casa da Rua Direita não tinha vaga e eu fui me hospedar na casa de outra Senhora ali perto do Liceu.
Se bem me lembro, eu tinha tirado menos do que os 13,5 valores necessários para dispensar da Prova Oral e por isso tive que ficar lá em Bragança mais uns dias.
Depois da prova oral fui aprovado e, sem avisar ninguém peguei o Comboio de volta para Macedo, junto com outro rapaz que tinha ficado lá também nessa outra casa. - Acho que a esta altura eu já estava especializado em tomar as minhas próprias decisões.
Facto este que, mais tarde, só muito mais tarde é que viemos as conhecer as consequências dessas atitudes, mas fazem parte das nossa vidas.
Parei de estudar por falta de dinheiro, mas também por influência dos meus Irmãos mais velhos.
Três deles já tinham ido à Tropa e o Meu Querido Irmão Zé Bico andava nela em Lamego.
Da primeira vez que ele veio de Licença a Caravelas, ele trouxe-me umas botas com brochas – as minhas primeiras botas de verdade!, aqueciam bem os pés por cima das meias de lã de carneiro feitas pela minha Mãe, porque antes eu só tinha usado “sócos” que se compravam em Mirandela, ou às vezes o Marcolino e o Fernando Casteloa os consertavam lá mesmo na Aldeia.
Na Primavera seguinte com apenas 13 anos de idade me fizeram Emigrante, e lá fui eu sozinho para Lisboa, mas essa história fica para a próxima!
(E.T. A Antologia de Escritores de Trás Os Montes e Alto Douro coordenada pelo Dr Armando Palavras, me deu a Honra de destacar o Meu Poema “FUI PASTOR EM TRÁS OS MONTES” para ser lido por várias vezes na Sessão inaugural do IV Congresso da Casa de Trás Os Montes e Alto Douro em Lisboa – Maio de 2018)
- Texto extraído do Meu Livro “Curriças de Caravelas – Trovas Comentadas”
Silvino dos Santos Potêncio, nascido a 04/11/1948, é natural da Aldeia de Caravelas no Concelho de Mirandela – Trás-Os-Montes - Portugal.
Este Autor tem centenas de crônicas, algumas já divulgadas sob o Título genérico de “Crônicas da Emigração”. Algumas destas crônicas são memórias dos meus 57 anos na Emigração foram incluídas nos Blogs que todavia estão inacessíveis devido ao bloqueio do Portugalmail.pt, porém algumas foram já transcritas para a Página Literária.
Presidente Fundador do Clube Português de Natal e Membro activo de várias páginas em jornais virtuais ligados ao Mundo da Lusofonia.
01 – POEMAS DE ANGOLA – “Eu, O Pensamento, A Rima!...”
02 – E-Book (Livro Electrônico): “UM CONVITE P’RA TOMAR CHÁ”
03 - CURRIÇAS DE CARAVELAS- TROVAS COMENTADAS é uma Antologia que contém Trovas e Textos Auto Biográficos da Aldeia Transmontana.
São livros da minha autoria já prontos para Edição e publicação brevemente.
Actualmente mantenho uma página literária própria, como Emigrante Transmontano em Natal/Brasil, no Portal Recanto das Letras.
O sitio do Escritor Silvino Potêncio www.silvinopotencio.net está aberto a visitas de todos os leitores de Lingua Portuguesa. Conta já com mais de 56.000 visitantes à data actual.
Muito grato pela Atenção e receba um Forte e Fraterno Abraço.
Endereço atual para contato:
Silvino Potencio
Rua Maçaranduba Nº 7838 – Bairro Pitimbu – Conjunto Cidade Satélite
59067-610 – NATAL – BRASIL
Email: sspotencio@yahoo.com.br
SKYPE: sspotencio
www.silvinopotencio.net
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(Henrique Martins)
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Mais uma vez eu agradeço a publicação do Amigo Henrique Martins, Titular do Blog, pela divulgação dos meus textos.
ResponderEliminarBem hajam todos pela leitura e se tiverem tempo me visitem na minha página. O tempo é ouro e eu vos agradeço por o dividirem aqui comigo!
Um Abraço Transmontano de sempre.
SP
ADOREI SEU TEXTO.
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