É preciso contrariar a tendência enraizada na sociedade de esconder das crianças o que é o alzheimer e outras demências, porque muitas vezes são elas que até podem ajudar os familiares sinalizados com essas doenças.
Quem o diz é Marisa Fernandes, responsável do Gabinete de Alzheimer de Mirandela, que está a funcionar desde 2014, e que tem sentido que este é o principal problema que assola familiares e cuidadores de doentes que sofrem de demência:
“Por norma, o que mais preocupa as famílias é como vão dizer às crianças que o avô está a ter aquele comportamento que é completamente estranho, ele que por norma é uma referência e lhes ensinou a comer à mesa e a saber estar, e naquele momento começa a ter um comportamento desadequado que as crianças não conseguem entender. O ponto mais difícil é tomarmos a decisão de que vamos contar à criança que aquele comportamento do avô, ou do familiar que tem demência, não é normal e faz parte de uma doença. Mas a partir do momento que passamos esta informação à criança, ela torna-se a nossa maior aliada. Por exemplo, quando as pessoas com demência são contrariadas e forçadas a comer, tornam-se agressivas. Portanto, uma das estratégia que temos é dizer às famílias que tentem pedir às crianças que sejam elas a fazer o pedido ao avô para vir para a mesa, o que normalmente funciona.”
Precisamente para facilitar essa comunicação às crianças do que é a doença de alzheimer e outras demências, foi recentemente criado um projeto pioneiro que já está a ser desenvolvido junto das escolas, que passa por sensibilizar as crianças para o assunto com recurso a uma mascote que é o centro das atenções de uma aplicação digital criada por alunos do IPB.
A pedido da Associação Alzheimer Portugal, em parceria com o Gabinete de Alzheimer de Mirandela, um conjunto de alunos da licenciatura Design de Jogos Digitais da Escola Superior de Comunicação, Administração e Turismo de Mirandela, concretizou um projeto de criação de uma mascote para sensibilizar a população mais jovem para uma das doenças mais incapacitantes que afeta milhares de pessoas, como explica Marisa Fernandes, do gabinete de alzheimer de Mirandela:
“Surgiu a ideia de fazer uma mascote, ou seja um boneco simbólico que possa ensinar os meninos o que é a demência. Lançamos depois ao Professor Luís, para nos ajudar a desenvolver este projeto com os alunos dele aqui da escola. A ideia é mesmo esta, é criar uma imagem representativa que possa ajudar o gabinete a explicar às crianças o que é a demência.”
Foi um desafio que os alunos acolheram com muita motivação e o resultado final é brilhante, confessa Luís Pires, o diretor da ESACT de Mirandela:
“A partir de um desafio que inicialmente tinha algo de mais físico e como nós somos um instituto caraterizado por uma grande componente tecnológica, temos um dos cursos que é Design de Jogos Digitais, portanto precisamente orientado para as redes sociais, jogos, etc. E portanto, os alunos olharam para aquilo com um brilho nos olhos fantástico e resolveram logo acolher o desafio e transformar essa mascote física, àquilo que são as necessidades e a usabilidade da sociedade de hoje. É muito engraçado quando nós vemos míudos muito pequeninos a apontarem logo o dedo para telemóveis, computadores e etc. Portanto é essa a apetência, tentando levar aqui a tal mensagem que o GAM queria transmitir, nada melhor do que transformá-la nesta vertente tecnológica. “
O processo foi longo e resultou numa forma inesperada que combinou um elefante e um peixe com várias cores. Mas tudo tem a sua explicação lógica, adianta Marisa Fernandes:
“As crianças associam ao elefante a memória, mas já o peixe é considerado o animal com menos memória, daí a ter surgido esta junção. A mascote tem uma cabeça de elefante, mas tem uma parte de peixe, ou seja, permite-nos explicar às crianças que as pessoas, normalmente, têm muita memória, quando são saudáveis, mas, com o progredir do Alzheimer ou de qualquer outra demência, essa memória vai-se perdendo.
Mas este boneco tem outras características, é multicolor. Inicialmente era branco, depois surgiu a ideia de contarmos a história a meninos de uma escola da Nossa Senhora do Amparo e pedir para que eles próprios o pintarem. Foi engraçado porque percebemos que a maioria deles não pintou o nano de uma cor, colorindo-o o que lhe deu um toque especial, foi colocar-lhe um coração. Porque provavelmente nós conseguimos passar muito bem a mensagem que é dizer que estas pessoas querem que nós cuidemos delas com o coração, que tenhamos muita paciência, muito amor e carinho e que esse é o sucesso para cuidar de alguém com Alzheimer.”
O Peixe-Elefante mereceu uma menção honrosa da Associação Alzheimer Portugal e já beneficiou de um fundo atribuído pelo orçamento participativo da Ordem dos Enfermeiros para que durante o ano de 2019, grande parte das escolas do distrito de Bragança recebam a visita desta mascote e que os mais novos percebam o que é esta doença de alzheimer.
Mais não é do que morte das células cerebrais e consequente atrofia do cérebro, com causas e tratamento ainda desconhecidos. Os doentes de Alzheimer tornam-se incapazes de realizar a mais pequena tarefa, deixam de reconhecer os rostos familiares, ficam incontinentes e acabam, quase sempre, acamados.
Um projeto pioneiro, nasceu, em Mirandela, com o conceito de uma mascote, um peixe-elefante, para ajudar a ensinar às crianças o que é o alzheimer e outras demências.
INFORMAÇÃO CIR (Terra Quente FM)
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