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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Amor em forma de tio

Por: Paula Freire
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)


-palavras de um tio pelo olhar de uma mãe-
------------------------------------------------- Sim, eu não sabia. Permanecia deleitado na minha grandiosa omnipresença de filho mais novo da família, habituado aos cuidados e anseios constantes de todos os seus constituintes. Muito senhor de si e do seu reinado, solteiro (e talvez bom rapaz!), tendo por único e como certo o incontornável amor de mãe que sempre perdoa e satisfaz todos os caprichos. Não sabia… Desconhecia que o meu reinado estava prestes a sucumbir como castelo de areia arrastado num ímpeto pelo mar adentro. E, então, eis que surge aquele pequeno e irresistível ser, tão minúsculo que, ao segurá-lo, toda a minha força mais comedida na ponta dos dedos me soava desmesuradamente brutal, aquele ser com uma voz estridente e aguda capaz de furar tímpanos incautos. Aquele ser que despertou em mim sentimentos de empatia e amor desmedido, antes inalcançáveis, e que logo nos seus primeiros dias de vida me ofereci para acompanhar durante a noite. “Para vocês descansarem!” - dizia eu de soslaio à irmã e ao cunhado. Mas, na verdade, queria mesmo era ter aquele pedacinho de vida só para mim, para idolatrar e consciencializar-me de que agora… era tio! E assim, perceber aquela deliciosa sensação de ficar uma noite inteira acordado a babar-me e a admirar com cara de pateta esse milagre tão pequeno, careca, sem dentes e… imensuravelmente lindo que, não me pertencendo, era todo meu! E pouco a pouco, destronado do reino e acompanhando a vida de quem vive uma outra história que faz parte da minha, lá fui descobrindo a natural magia de ser tio, através de um amor iluminado, adocicado, cheio de cumplicidades e sempre disponível. Num reinado onde agora o rei é a Princesa; os caprichos “são ordens, senhora”; onde as regras servem para saltar à corda; onde a bonecada é compincha na aventura; o reportório de filmes da Disney ocupa horários nobres com assistência garantida a dois e olhos proibidos de se desviarem do écran para não perder pitada da surpresa (revista diariamente); onde o “general” e “comandante” passam a figuras de arquivo morto… O meu “eu” foi obrigatoriamente decretado a passar para estatuto de criança, ainda que sempre em segundo plano e que também já começando a ficar careca (e, eventualmente daqui a umas poucas luas, igualmente sem dentes!), descobriu que no seio da família, ser tio… de repente é amor!

Paula Freire - Psicologia de formação, fotografia e arte de coração. Com o pensamento no papel, segue as palavras de Alberto Caeiro, 'a espantosa realidade das coisas é a minha descoberta de todos os dias'.

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