quinta-feira, 30 de maio de 2019

Bragança: pousada modernista com identidade transmontana

A pousada dirigida pelos irmãos «Geada» é um ícone da arquitetura da cidade. E aqui funciona o G, primeiro Estrela Michelin de Trás-os-Montes.
Quarto da Pousada de Bragança

Desenhada no final dos anos 1950 por José Carlos Loureiro, a Pousada de Bragança foi um «grito de liberdade» deste arquiteto da escola do Porto. Quem o diz é António Gonçalves, mais conhecido por Tó «Geadas», que faz dupla na pousada e respetivo restaurante com o seu irmão Óscar, que recentemente conseguiu pôr Bragança no mapa das estrelas Michelin.

A cidade transmontana estava, na época do Estado Novo, «a 10 horas do poder central e o arquiteto pode dar asas à criatividade. Toda a Pousada foi concebida sob uma ótica muito diferente do que era a estética da época», explica António, apontando para as enormes janelas que percorrem toda a extensão da sala e do restaurante. «Tudo é panorama» que enquadra o Castelo de Bragança e a cidadela que o envolve.

Foi há cinco anos que os irmãos ficaram responsáveis pela Pousada, que lhes foi concessionada pelo Grupo Pestana. Foi o momento ideal para desenvolverem um projeto próprio que já andavam pelas suas cabeças. Mas a ligação da família Gonçalves àquele edifício é bem anterior. Foi ali que o pai deles, Adérito Gonçalves, começou a trabalhar com apenas 11 anos e também onde viveu durante parte da sua vida. Depois de lá sair, com toda a experiência que ganhou na área, abriu o restaurante Geadas, em Vinhais, que veio dar origem ao Geadas de Bragança.

Desde que foi parar às mãos dos irmãos, a Pousada já mudou muito. A última intervenção mais a fundo tinha sido efetuada em meados dos anos 1990, pelo arquiteto original. «Nessa altura, ele imprimiu ao edifício a estética daquela década. Agora, decidi voltar atrás, e com um arquiteto local voltei-me novamente para os anos 1950 e 60. «O nosso maior medo era descaraterizar a unidade», admite António. Por isso, o regresso ao modernismo era o regresso à personalidade original do edifício. A palete de cores utilizada (os azuis, os verdes, os cinzentos) vem do painel de azulejos de Júlio Resende e da tapeçaria da Graça Morais, que se encontram nas paredes da confortável sala com lareira e do restaurante. «A partir destes elementos começou a deambular-se pelos 28 quartos – todos eles com vista para o castelo – e pelo próprio restaurante, imprimindo uma estética modernista», conta. Desde aí que o espaço tem vindo a crescer em visibilidade e prestígio.

Cinco anos depois de tomarem conta do espaço estão, dizem os próprios, «a colher os frutos» do seu trabalho. O restaurante foi distinguido o ano passado com uma estrela Michelin, a primeira para Trás-os-Montes. O que enche de orgulho os irmãos, que moldaram o espaço espelhando a sua forma de estar e a sua identidade.






Evasões
(Fotografias de Rui Manuel Ferreira/Global Imagens)

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