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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

A Lei do UsoCapião!

Por: Silvino dos Santos Potêncio
(colaborador do "Memórias...e outras coisas..")
Emigrante Transmontano em Natal/Brasil – desde 1979
Ladrões e Mentirosos são dois tipos de pessoas que eu não tolero e não importa quem sejam. Próximos ou afastados, conhecidos ou desconhecidos e até falsos Amigos,  são muito mais comuns do que se pode pensar. Isto me leva ao pensamento de lembrar aquele proverbial ditado; “no melhor pano cai a nódoa” e, vos escrevo hoje isto aqui por infeliz facto constatado “in loco” por mim mesmo que já estou na Emigração há mais de 58 anos. Todavia nos dias de hoje, podem crer!, isso acontece quase por todo o lado.
Na hora de emigrar e cada um tem sempre um motivo forte o bastante para viajar, não importa quais sejam as dificuldades. Muitas vezes é a falta do suficiente até para comer, e quase sempre por obra do destino ou um certo fatalismo na ânsia da liberdade em ir mais além e melhorar de vida. E com essa vontade no tino da sobrevivência nós nos aventuramos pelos caminhos nunca dantes trilhados, e portanto cada passo dado é uma nova aventura cujo final, eu acho que nem mesmo Deus sabe o que será?!   
O direito Português tem bases seculares e uma delas é o entendimento Latino do “uti possidetis”  -  O qual formou a base do Princípio do Direito Internacional. Princípio este que estabelece que quem ocupa um território ou propriedade pertencente a outrem durante um longo tempo, o usuário se acha no direito de o possuir o que tiver sobre ele, prédio ou construção urbana?!
Na prática esta arenga é muito comum e se traduz popularmente em um sentimento idealista muito em voga ultimamente ou seja: “a terra a quem a trabalha”!, mas…e tem sempre um “mas” para ser questionado em julgamento nas barras dos tribunais. Isso porque a Lei se chama “usocapião” e não usurpação. Ou seja; é preciso  comprovar o uso da terra e adquirir o direito de facto de a possuir e utilizar.
O meu Pai, que Deus já lá tem desde 01 de Abril de 1969, ele foi “Feitor” de várias Terras na Aldeia onde nasceram os 11 Filhos porém destes todos, só 8 sobrevivemos e, sendo eu o mais novo, acabei por me tornar o primeiro Emigrante da Família quando completei os  meus 13 anos de idade. Os meus Irmãos mais velhos todos tinham saído já de casa mas apenas para cumprir o serviço militar, como também o havia feito o nosso Pai, no tempo dele. Depois do serviço militar cumprido todos voltaram ao lar.
Por certo ele jamais soube o que é a Lei do Usocapião, e mesmo que soubesse,  pelo pouco que ele me ensinou enquanto estive em casa,  posso jurar que ele jamais tomaria tal atitude.  -  O tempo passou, a evolução das leis e das mentalidades se adaptou a quem estiver presente e, de certa forma, surge então o também muito popular dichote; “quem vai ao mar, perde o lugar”.
Acontece que, muitos de nós Emigrantes fomos e ainda continuamos a ir “ao mar”, e demoramos para voltar. A grande maioria de nós, principalmente aqueles que atravessamos o mar nas suas múltiplas direcções,  demoramos tanto tempo para voltar ao lar, que quando voltamos, a mais das vezes já nem encontramos nada que o valha para recordar, para visitar, para reviver ao menos as lembranças de um passado já tão distante  definitivamente perdido na poeira do tempo.
- Mas a decepção maior é quando alguém usa a “ Lei do Usocapião”. Esta  entra em vigor,  e o sujeito deserdado daquilo que lhe pertence por direito consanguíneo ou não, ele  tem apenas duas alternativas: contratar um Jurídico especializado nesse tipo de usurpação do que era de todos, e acaba por gastar todas as economias duramente angariadas lá na “Estranja” onde a vida de “Cigano sem Pátria e sem Lar”, se exerce dia após dia, ano após ano, com um único lenimento na ideia que é o pensamento em voltar às origens. Geralmente perde a luta porque a Lei é cara, mas perde muito mais porque a amizade a confiança deixou de existir.
A burocracia dos cartórios, dos notários, dos Tribunais custa os olhos da cara, e é o argumento mais usado pelos mentirosos, usuários dessa mesma Lei. É a arenga dos oportunistas, daqueles que nunca saíram do ninho e,  sobretudo, é uma batalha perdida de quem está ausente há muitos anos.
A outra alternativa é bem mais simples, mas dói mais, muito mais! - Dói no Coração e na Alma de quem nunca conseguiu subir na vida de Emigrante porque a honestidade e a dignidade do Emigrante é um caminho sempre a subir. Muitos ficam pelo caminho… outros desistem antes mesmo de enxergarem o óbvio que é o esquecimento porque quem não é visto não é lembrado.
Esquecer é desistir de tudo, e isso  nem sempre é fácil. Porém nós  esquecemos!,… esquecemos  e olvidamos mais facilmente quando conhecemos a realidade da vida. Nós  sabemos que desta vida nada levamos.
Por isso eu costumo glosar pensamentos como este do Grande Miguel Torga: “Como a gente se perde! A linguagem que o meu sangue entende — é esta. A comida que o meu estômago deseja — é esta. O chão que os meus pés sabem pisar — é este.  E, contudo, eu não sou já daqui. Pareço uma destas árvores que se transplantam, que têm má saúde no país novo, mas que morrem se voltam à terra natal”.
Vez por outra eu me defronto com os meus próprios pensamentos os quais, muitos, muitos!… eu os deixo registados em frases minhas com base na própria experiência pessoal. E vos digo; eu não tenho prémios nem loas das muitas ações que eu já fiz na vida. Para me acalmar eu recordo só as boas, e das más me resta somente uma grande “ferida”! Nada mais…

Silvino dos Santos Potêncio, nascido a 04/11/1948, é natural da Aldeia de Caravelas no Concelho de Mirandela – Trás-Os-Montes - Portugal.
Este Autor tem centenas de crônicas, algumas já divulgadas sob o Título genérico de “Crônicas da Emigração”.  Algumas destas crônicas são memórias dos meus 57 anos na Emigração foram incluídas nos Blogs que todavia estão inacessíveis devido ao bloqueio do Portugalmail.pt, porém algumas foram já transcritas para a Página Literária. 
Presidente Fundador do Clube Português de Natal e Membro activo de várias páginas em jornais virtuais ligados ao Mundo da Lusofonia.
01 – POEMAS DE ANGOLA – “Eu, O Pensamento, A Rima!...”
02 – E-Book (Livro Electrônico): “UM CONVITE P’RA TOMAR CHÁ”
03 - CURRIÇAS DE CARAVELAS- TROVAS COMENTADAS é uma Antologia que contém  Trovas  e Textos Auto Biográficos da Aldeia Transmontana. 
        São livros da minha autoria já prontos para Edição e publicação brevemente. 
Actualmente mantenho uma página literária própria, como Emigrante Transmontano em Natal/Brasil, no Portal Recanto das Letras.   
O sitio do Escritor Silvino Potêncio  www.silvinopotencio.net  está aberto a visitas de todos os leitores de Lingua Portuguesa. Conta já com mais de 56.000 visitantes à data actual.

Muito grato pela Atenção e receba um Forte e Fraterno Abraço. 

2 comentários:

  1. Mais uma vez eu venho agradecer aqui de público ao Amigo Henrique Martins pela divulgação dos meus escritos neste espaço.
    Na verdade, o texto em pauta é mais um alerta e não uma das minhas crônicas da Emigração.
    Como se costuma ouvir: quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não tem arte!
    Para piorar a situação a usurpação conta hoje com um despreparo total da Justiça, mas fico por aqui. Um Abraço Transmontano de sempre e fiquem com Deus!
    S.P.

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  2. Caro amigo e parceiro do MOC,Sr.Silvino Potêncio;
    Seu artigo me fez refletir muito sobre a frágil e insustentável leveza do ser humano, quando deslocado do rincão onde tem raízes,e se aventura por terras nunca dantes visitadas.
    Também eu sai da "minha terra"aos treze anos de idade. Também eu sentia saudade dos parentes,do cão amigo, do murmúrio do riacho e dos antigos amigos, que jamais vi novamente.
    Embora dentro do mesmo país,este Brasilzão,país continente,raras foram as vezes que voltei ao lugar da infância. A última vez que meus olhos captaram os locais onde desfilei minha meninice caipira,foi há 28 anos!!!!Estive próximo da fazenda onde morava mais vezes;mas por um motivo ou outro, preferi ficar na cidade e não visitar o meu antigo rincão, talvez para não me causar uma decepção ao ver a realidade dos fatos atuais; inda mais que para ir da cidade até o local,há que se ter uma logística forte (é longe,estradas de terra esburacadas ou inacessíveis,não existência de locais para encontrar combustível, onde comer, etc..),o que dificulta em muito.
    Fico muito contente que você esteja no Brasil, embora a distância entre nossas moradas equivalem a vinte vezes, ida e volta, de Bragança até Lisboa. Infelizmente, para mim,o lado econômico preocupa: vivo de uma parca aposentadoria e não tenho conseguido, nos últimos anos,uma maneira de ganhar o vil metal de maneira honesta e contínua,para ir vivendo,durante a descida do Monte da Vida,onde me encontroa gora.
    Parabéns pelo seu artigo e pelas recordações que se fizeram aflorar em minha mente.Agradeço também ao Henrique Martins, por permitir que pessoas como você e eu,possam viver um pouco de saudade que,embora doída, se manifeste em nossos artigos,crônicas, poemas, contos e causos. Concordo com o autor que dizia que na "...na língua reside a nacionalidade"!

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