Por: Humberto Pinho da Silva
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Em meados dos anos setenta (ou oitenta?), do século passado, fui visitar Villarandelo de Morais, diretor do semanário: " O Comércio de Gaia".
Recebeu-me festivamente, na tipografia do jornal, após os formalismos de cortesia, proseamos demoradamente. Villarandelo era grande conversador, e excelente conferencista. Durante a conversa, revelou-me a dificuldade de ser diretor de publicação periódica, em tempos democráticos:
- " Em ditadura, havia censura. Compunha-se o jornal e enviávamos ao censor. Este cortava: frases, parágrafos, textos inteiros e fotografias, por vezes advertia.
"Tínhamos depois trabalho árduo, para tapar os espaços em branco.
" O jornal saia e dormíamos tranquilos. Não concordava, nem concordo, de modo nenhum; mas que fazer?
" Com o regresso da liberdade, sou eu que tenho de realizar o papel de censor. Se o artigo é ou parece-me ofensivo, é uma dor de cabeça, para avisar o autor, da minha atitude.
" Certa ocasião li num diário lisboeta, texto que me pareceu excelente. Resolvi reproduzi-lo. Mal eu sabia o que iria acontecer.
" Decorridas semanas recebi intimação para comparecer, e fazer declarações.
" Expliquei que o dito artigo fora publicado num jornal de Lisboa. Limitei-me de o transladar.
" Livrei-me de sarilhos, mas tive incómodo e despesa com o advogado. Então pensei: publicação como a minha, não possui meios financeiros para arcar essas despesas. Grande empresa jornalística tem juristas próprios ou avençados, mas o pequeno periódico?
Compreendi: escrever e publicar, é tão perigoso em ditadura como em democracia, onde por cada "palha" se recorre à justiça... e são problemas sem fim...
Recebeu-me festivamente, na tipografia do jornal, após os formalismos de cortesia, proseamos demoradamente. Villarandelo era grande conversador, e excelente conferencista. Durante a conversa, revelou-me a dificuldade de ser diretor de publicação periódica, em tempos democráticos:
- " Em ditadura, havia censura. Compunha-se o jornal e enviávamos ao censor. Este cortava: frases, parágrafos, textos inteiros e fotografias, por vezes advertia.
"Tínhamos depois trabalho árduo, para tapar os espaços em branco.
" O jornal saia e dormíamos tranquilos. Não concordava, nem concordo, de modo nenhum; mas que fazer?
" Com o regresso da liberdade, sou eu que tenho de realizar o papel de censor. Se o artigo é ou parece-me ofensivo, é uma dor de cabeça, para avisar o autor, da minha atitude.
" Certa ocasião li num diário lisboeta, texto que me pareceu excelente. Resolvi reproduzi-lo. Mal eu sabia o que iria acontecer.
" Decorridas semanas recebi intimação para comparecer, e fazer declarações.
" Expliquei que o dito artigo fora publicado num jornal de Lisboa. Limitei-me de o transladar.
" Livrei-me de sarilhos, mas tive incómodo e despesa com o advogado. Então pensei: publicação como a minha, não possui meios financeiros para arcar essas despesas. Grande empresa jornalística tem juristas próprios ou avençados, mas o pequeno periódico?
Compreendi: escrever e publicar, é tão perigoso em ditadura como em democracia, onde por cada "palha" se recorre à justiça... e são problemas sem fim...
Humberto Pinho da Silva nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG”. e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".
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