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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 26 de setembro de 2021

O que procurar no Outono: o carvalho-alvarinho

 O outono chegou oficialmente e muitas são as plantas que a partir de agora se começam a despedir das suas folhas.

Foto: Joanna Boisse/Wiki Commons

É no outono que as folhas das árvores e dos arbustos começam a mudar de cor. Tornam-se amarelas, laranjas, vermelhas e até castanhas, acabando lentamente por cair e cobrindo os caminhos por onde passamos.

Esta é uma estratégia ou mecanismo de autoproteção das plantas. Na época mais desfavorável, libertam-se das folhas para se protegerem do frio e assim reduzirem ao máximo o gasto de energia, concentrando a maior disponibilidade de nutrientes, água e luz solar sobre o seu caule para sobreviverem nas condições adversas que se avizinham.

As plantas que assumem esta estratégia de defesa e proteção são apelidadas de folha caduca. 

O carvalho-alvarinho (Quercus robur), uma das espécies de carvalhos nativos com maior longevidade e uma espécie florestal por excelência, partilha essa estratégia com muitas outras árvores e arbustos nativos de folhagem caduca.

Foto: AnRo0002/Wiki Commons

É nesta altura do ano, ainda antes de perder as folhas, que o carvalho-alvarinho nos encanta com a sua beleza rara. Os bosques caducifólios, mistos ou puros desta espécie, são deslumbrantes: as diferentes tonalidades das cores das folhas contrastam com as cores dos frutos que ainda se encontram nas árvores, em diferentes fases de maturação.

Carvalho-alvarinho

O carvalho-alvarinho é uma espécie da família Fagaceae e é também vulgarmente conhecido como carvalho-roble, alvarinho, roble, carvalho, carvalheira, carvalho-comum e carvalho-nacional.

É uma árvore de grande porte, que pode atingir os 45 metros de altura, e formar copas amplas, largas e globosas, bastante ramificadas e não muito densas. Os troncos são geralmente erectos e robustos, de casca lisa quando jovens, que se torna grossa e fendida com a idade.

Foto: Joanna Boisse/Wiki Commons

As folhas são maioritariamente caducas, pois caem na época mais desfavorável. No entanto algumas permanecem nos ramos, já depois de secas, até que as novas as substituam. Por isso, também podemos dizer que são marcescentes. São glabras nas duas faces, desde jovens, e possuem pecíolo curto.

Na fase inicial de formação, as folhas são de cor verde-clara, tornando-se verde-escuras na página superior e verde-claro-azuladas na página inferior. No outono, a coloração das folhas torna-se acobreada antes destas começarem a cair. São alternas e simples, com forma oval e margem recortada em grandes lóbulos irregulares e arredondados. Cada folha possui 3 a 8 pares de lóbulos. Na base do limbo, a envolver o pecíolo podem encontrar-se dois pequenos lóbulos em forma de aurículas (orelhas).

Foto: Zerocool.marko/Wiki Commons

O carvalho-alvarinho floresce entre março e maio, simultaneamente com a formação das primeiras folhas. É uma espécie de floração monóica, pois possui flores femininas e masculinas que surgem separadamente no mesmo indivíduo e que florescem desfasadamente no tempo para evitar a autofecundação.

As flores masculinas surgem dispostas em amentilhos verde-amarelados e filiformes e as femininas em amentilhos mais pequenos e arredondados, pouco vistosos e geralmente agrupados de 1 a 5 na extremidade dos raminhos.

Esta espécie começa a produzir fruto a partir dos 35 anos, sendo mais regular e de qualidade a partir dos 60 anos de idade, e regista períodos de safra e contrassafra. 

O fruto é uma glande, ou bolota, ovóide a cilíndrico, com pedúnculo comprido, envolvido por uma cúpula de forma subaplanada e de escamas aplicadas.

As bolotas começam a formar-se no final da primavera e são inicialmente verdes, permanecendo assim ao longo de todo o verão. Amadurecem entre setembro e outubro, quando assumem uma cor acastanhada.

Foto: böhringer friedrich/Wiki Commons

Etimologicamente, o termo genérico Quercus é o nome clássico em latim dado ao Carvalho, uma planta sagrada para Júpiter, e deriva do celta “Kaer-” e “-quer” que significa “Bela árvore” ou “A árvore por excelência”. O termo robur significa força, vigor, robustez, em latim, e estará associado ao facto da madeira desta árvore ser particularmente dura e robusta.  

A árvore mais amada e conhecida

O carvalho-alvarinho é uma das espécies com maior ocupação natural no continente europeu, sendo mais predominante nas regiões do Norte e na região do Mediterrâneo.

É uma espécie muito característica da flora nacional e ocorre com maior predominância a Noroeste, nas regiões do Minho, Douro Litoral e Beira Litoral, onde domina o clima temperado, com maior influência atlântica. Existem também alguns focos nas regiões do Douro Interior e na faixa do Litoral, até ao Sul.

Pode ser visto de forma isolada, disperso em pequenos núcleos puros, ou em bosques mistos com outras folhosas caducifólias (ex. aveleira, carvalho-negral), em pinhais abertos e matas, em regiões de planícies, vales e colinas.

Habita preferencialmente locais com exposição solar plena, principalmente em idade jovem, e é pouco exigente do ponto de vista edáfico, ainda que tenha preferência por solos férteis, profundos, soltos e húmidos, com boa retenção de água.

Assim que esteja bem estabelecido, o carvalho-alvarinho é bastante resistente à seca estival, necessitando contudo de humidade ambiental. As folhas jovens são muito sensíveis ao oídio. Também resiste ao frio e às geadas tardias e é bastante tolerante a ventos fortes, devido ao seu sistema radicular pivotante, com raízes secundárias bastante profundas.

Foto: Joanna Boisse/Wiki Commons

Ecologicamente, os carvalhais de alvarinho são ecossistemas de grande importância ambiental, uma vez que são um habitat fundamental para inúmeras espécies de fauna e flora nativa. A riqueza faunística destes ecossistemas é das mais elevadas em Portugal Continental, albergando em todas as suas partes (casca, fruto, folhas, raízes, entre outros) inúmeras espécies de aves, insectos, invertebrados, fungos, líquenes, musgos, fetos, entre outros. A sua proteção e conservação são assim fundamentais.

O carvalho-alvarinho é também uma valiosa fonte de alimento para inúmeros insetos (como larvas de borboletas), pequenos mamíferos (por exemplo esquilos) e algumas aves (como os gaios). Muitos destes animais são também os principais responsáveis pela disseminação natural da espécie.

Árvore florestal de excelência

É considerada uma espécie muito interessante na defesa e proteção contra incêndios, pois possui uma maior resistência à passagem de um incêndio florestal em relação a outras espécies do mesmo habitat. Os exemplares mais velhos de alvarinho são bastante resistentes devido à casca espessa que possuem. Já os exemplares mais jovens, facilmente regeneram da base. É por isso uma árvore muito utilizada na compartimentação, sobretudo de resinosas, pois funciona como barreira para retardar o avanço das chamas.

Considerada uma típica espécie florestal, o carvalho-alvarinho possui a mais nobre das madeiras de todos os carvalhos e é considerada uma das mais valiosas madeiras duras da Europa. Para além de dura, a madeira é pesada, de grão fino e apresenta anéis de crescimento muito bem definidos. É bastante resistente e imputrescível, ideal para a construção de edifícios e para a construção naval. É também usada em marcenaria, soalhos, tanoaria, artesanato, entre outros.

Por apresentar tão elevada qualidade esta terá sido uma das madeiras mais procuradas na Europa, sobretudo durante os Descobrimentos, o que contribuiu para o declínio de vastas áreas naturais desta espécie, especialmente em Portugal.

O alvarinho também tem aplicações medicinais. A casca desta árvore é usada, desde há muito, em medicina tradicional, como anti-inflamatório, antisséptico, adstringente, descongestionante, hemostático e tónico. As principais utilizações são no tratamento de hemorragias e desinterias, e externamente no tratamento de feridas e erupções cutâneas.

As bolotas são nutritivas mas indigestas e foram durante muito tempo utilizadas na alimentação humana. Antes do aparecimento do trigo, as bolotas eram usadas para a produção de farinha de bolota, para pão, e como substituto da amêndoa, depois de cortadas e assadas.

A casca desta árvore é rica em taninos e terá sido uma das primeiras a ser usada para curtir peles, no Paleolítico. Em Portugal, a casca também foi muito procurada pela indústria de curtumes.

Embora existam usos perdidos, o carvalho-alvarinho tem um grande valor paisagístico, formando ambientes de rara beleza.

Isolado, em bosques e bosquetes, ou em alinhamentos, o alvarinho é considerado uma árvore ornamental de excelência, pela sombra da sua copa e beleza ímpar e por não precisar de cuidados especiais se for conduzido e plantado em local adequado. Pode ser visto em parques, jardins e outros espaços verdes.

Espécie de grande longevidade

O carvalho-alvarinho é uma espécie com grande longevidade e imponência, sendo um dos representantes da vegetação secular de Portugal. Pode viver mais de 500 anos e existem registos de exemplares milenares.

O exemplar mais antigo registado em Portugal é o ‘Carvalho de Calvos’ da Póvoa de Lanhoso, Braga, que terá mais de 500 anos.

Carvalho de Calvos. Foto: Graça Saraiva

Já os carvalhos que compõem o maciço da Senhora das Valinhas, no Monte Córdova, Santo Tirso, é uma verdadeira relíquia da floresta portuguesa, com árvores maioritariamente bicentenárias. 

Na Europa também são conhecidos verdadeiros monumentos vivos: o ‘Major Oak’ da floresta de Sherwood em Inglaterra, que se estima ter cerca de 1000 anos, e o ‘Carroll’s Oak’, no parque de Birr Castle Demesne na Irlanda, com mais de 400 anos.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Marcescente – folha que persiste na árvore, mesmo depois de murcha ou seca. Geralmente fica pendurada na árvore até à formação das novas folhas, na estação mais favorável.
Glabra – sem pelos.
Pecíolo – pé da folha que liga o limbo ao caule.
Lóbulo – recorte pouco profundo, e geralmente arredondado do limbo da folha. 
Limbo – parte larga de uma folha normal. 
Aurícula – expansão semelhante à de uma pequena orelha que se encontra na base de certos órgãos laminares, como folhas, sépalas, etc.
Monóica – espécie que apresenta flores femininas e masculinas separadamente na mesma planta. 
Amentilho – inflorescência semelhante a uma espiga, onde as flores, geralmente unissexuais, surgem agrupadas num eixo comum. 
Safra – período de tempo em que a produção de fruto é elevada (ano de boa colheita).
Contrassafra – intervalo de tempo, geralmente um ano, em que não houve safra ou em que a colheita foi má.
Pedúnculo – “Pé” que sustenta a inflorescência.
Cúpula – invólucro duro, em forma de taça, formado por numerosas e pequenas brácteas, que protege e envolve (totalmente ou parcialmente) a flor e o fruto de algumas espécies arbóreas e arbustivas, nomeadamente da família Fagaceae.

Carine Azevedo

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