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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

Autor de Vinhais recria em novos contos estórias do imaginário popular

 O sobrenatural foi a explicação encontrada ao longo dos tempos para o inexplicável pelas gentes transmontanas perpetuado em histórias que inspiraram um novo livro em volta do imaginário popular, com apresentação marcada para quinta-feira em Vinhais.


O autor é Roberto Afonso, um professor estudioso e colecionador deste património imaterial, que transformou as histórias de encantar e de medos de antigamente em novos contos reunidos no livro “(Às) Contas com Almas Penadas e Diabos, Bruxas e Maus-olhados”.

São 33 contos criados, como antecipou à Lusa, a partir de relatos orais de 26 informantes de várias aldeias do concelho de Vinhais, no distrito de Bragança, “todos ligados à superstição, aos medos, aos bruxedos, aos feitiços”.

A partir destes relatos, construiu “uma narrativa ficcionada” e em quase todos os contos incorporou uma oração, ou um esconjuro, um responso, que foram também recolhidos em vários pontos do concelho transmontano.

O livro será apresentado, na quinta-feira, no Centro Cultural Solar dos Condes de Vinhais, em paralelo com a inauguração de uma exposição com as ilustrações feitas para cada conto pelos colegas professores de artes visuais da escola de Vinhais Alberto Lebreiro, Ana Paula Ortega e Rui Correia.

O bispo da diocese de Bragança-Miranda, José Cordeiro, assina o prefácio desta publicação com a chancela da Oficina do Livro, que se inspira nas estórias dos tempos em que “era à noite, à volta da lareira, que vizinhos, familiares e amigos confraternizavam alegremente, partilhando momentos de boa disposição que os faziam esquecer as agruras do dia a dia e as longas e penosas horas passadas a trabalhar, no campo, de sol a sol”.

Era nestes serões “na velada, folheando o testamento oral de tempos de antanho que, de boca em boca, de geração em geração, se transmitiam estórias de encantar ao mesmo tempo que se despertavam “medos”, como relata o autor.

Deste imaginário fazem parte “luzes avistadas ao longe nos montes, barulhos súbitos com soalhos a ranger e portas a abrir, encostos aterrorizantes, fantasmas e espíritos perturbadores, lobisomens e demónios que encarnavam em animais, velhas bruxas desdentadas e corcundas, almas penadas, vagueando pelo mundo em busca da salvação, e as manhas e malícia do diabo”.

“Vivências de um povo profundamente crente e supersticioso que se refugia na fé, na oração, em mezinhas e esconjuros, muitos deles integrados nos contos, para enfrentar, combater e vencer as forças das trevas”, refere.

O confronto entre o bem e o mal são uma constante neste imaginário e a escolha desta época para lançar o livro foi feita justamente por coincidir com o período mais forte das festas de inverno no Nordeste Transmontano, com os mascarados e o profano e o sagrado a caminharem lado a lado.

São histórias de Vinhais, mas que fazem parte do imaginário popular nacional como retrata também a coleção particular que Roberto Afonso junta desde jovem, com 85 máscaras e 170 figuras de 50 artesãos de vários pontos do país.

O livro vem ao encontro de uma das exposições que tem feito e que se encontra patente em Vinhais, com o título “Entre Deus e o Diabo” com figurado, sobretudo de artistas de Barcelos, no Minho, e Estremoz, no Alentejo, em que aparecem também “estes diabos, estas bruxas, estes monstros, um tema universal.

Roberto Afonso é professor de português e inglês em Vinhais, mas desde cedo que mostrou “um grande interesse, uma paixão e fascínio” por tudo que é a identidade cultural, as raízes, o património locais, “que eram um bocado desvalorizados e considerados até menores”, como observou.

Quando fez parte do executivo municipal de Vinhais ajudou, em 2006, a recuperar a tradição da quarta-feira de Cinzas e, mais tarde, criou, em torno dela, os Mil Diabos à Solta, uma procissão de gente vestida de vermelho que se tornou num produto turístico, assim como a Festa da Cabra e do Canhoto da aldeia de Cidões.

A coleção particular de máscaras deu origem a uma exposição itinerante que, há quatro anos, percorre Portugal e Espanha e que reuniu em dois livros a história e autoria de cada exemplar.

Foi também coautor da coletânea, com dois volumes, dos Contos e Lendas Transmontanos dos concelhos de Bragança e Vinhais.

Roberto Afonso lembra-se do tempo em que os jovens “tinham vergonha” destas tradições “porque lhes chamavam logo parolos”.

Hoje em dia, esta identidade cultural é motivo de orgulho e até oportunidade de negócio para artesãos que vendem em feiras e lojas e ajudam a mostrar e perpetuar este património.

Para este percurso tem contribuído também o envolvimento das escolas, já que professores e alunos participam permanentemente nos eventos ligados a estas tradições, nomeadamente com a construção de elementos alegóricos.

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