Artur Botelho teve uma vida profissional de manga-de-alpaca sentado à secretária. Mas não era homem para se esgotar nisso. Tinha apetência pelas coisas do espírito, e em especial da literatura. Fica-nos a impressão de que devia ler muito e assimilar menos mal aquilo que lia. E foi compondo uma obra literária de certa monta. A saber: estreou-se em 1914 com um livro de versos, “Alma Lusitana”; seguiu-se o drama histórico “Camões”, de 1919; em 1923 sai a obra que é pretexto para este feixe de crónicas, “Guerra Junqueiro falso poeta”; e em 1928, novo poema heróico, “O mar tenebroso”. Finalmente, publicou entre 1935 e 1937, em fascículos, aquela que parece ser a sua coroa de glória, uma epopeia, “A Europíada”. Parece que, quando morreu tinha nada menos de cinco livros para publicar.
Na “Europíada”, Artur Botelho narra os lances mais decisivos da I Grande Guerra (1914-1918) e celebra os vencedores, numa altura em que se avolumam os receios duma segunda guerra mundial, que viria a ter lugar entre 1939 e 1945. Seguindo o modelo dos “Lusíadas”, é composto em estâncias de oitava-rima arrumadas em cantos. Mas, em matéria de extensão, deixa o modelo a perder de vista. Enquanto “Os Lusíadas” não vão além dos 10 cantos e 1102 estâncias, o poema de Artur Botelho soma 25 cantos e 2550 estâncias. É preciso ter fôlego!
O editor do poema é Alfredo Pereira Botelho de Araújo. Pelo nome, aventuro-me a pensar que seria irmão do poeta.
Como os meus Amig@s hão-de querer ver uma amostra do poema, aí lhes deixo a estrofe com que abre:
Na “Europíada”, Artur Botelho narra os lances mais decisivos da I Grande Guerra (1914-1918) e celebra os vencedores, numa altura em que se avolumam os receios duma segunda guerra mundial, que viria a ter lugar entre 1939 e 1945. Seguindo o modelo dos “Lusíadas”, é composto em estâncias de oitava-rima arrumadas em cantos. Mas, em matéria de extensão, deixa o modelo a perder de vista. Enquanto “Os Lusíadas” não vão além dos 10 cantos e 1102 estâncias, o poema de Artur Botelho soma 25 cantos e 2550 estâncias. É preciso ter fôlego!
O editor do poema é Alfredo Pereira Botelho de Araújo. Pelo nome, aventuro-me a pensar que seria irmão do poeta.
Como os meus Amig@s hão-de querer ver uma amostra do poema, aí lhes deixo a estrofe com que abre:
Eu canto a Grande Guerra que, no mundo,
Correu como um tufão de fogo insano,
Das altas regiões do céu profundo
Às entranhas da terra e do oceano;
E os seus chefes de génio mais fecundo,
Que, vibrando num alto ideal humano,
Tiveram a sublime e ingente glória
De levar tantos povos à vitória.
Pela amostra, não junto a minha opinião à dos que reverenciam Artur Botelho como o segundo poeta épico português.
Parece-me evidente o desejo de emulação de Camões, mas ter-se-á ficado pela imitação. Atente-se naquelas ‘altas regiões do céu’ e naquela ‘sublime e ingente glória’. Não vêem ali respingos da linguagem camoniana?
Não terminaremos este capítulo sem transcrever o texto com que se publicita o poema. Reza assim: «A oitava, que é a mais bela forma da epopeia, e que atingiu o seu maior esplendor nos Lusíadas e na Jerusalém Libertada, perdeu muito do seu brilho nos poetas que tentaram imitar o nosso divino Camões; mas, neste poema, ela é resgatada do desaire que sofreu, pois é tratada com a maior elevação e aticismo, à luz do mais alto ideal e apurado gosto do nosso século. O ilustre autor alicerçou o seu formoso poema — que há-de brilhar ao lado dos mais belos da humanidade — na ciência moderna e na mais nobre e transcendente filosofia.»
Estes publicitários são uns exagerados.
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