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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

“Linha de Trás-os-Montes permite escoar mercadorias de todo o Norte”

 Repor comboio nos distritos de Vila Real e Bragança permite fortalecer coesão territorial em vez de "rasgar o território", como fez a autoestrada da região transmontana, frisa Associação Vale d'Ouro.

Autores do estudo da Linha de Trás-os-Montes: Kátia Rocha, Cláudio Pereira, Alberto Aroso e Luís Almeida, com um comboio japonês de alta velocidade (Shinkansen)
 junto à locomotiva em exposição em Vila Real.

O comboio pode voltar a parar em Vila Real, Bragança e Mirandela com a construção da Linha de Trás-os-Montes. A proposta é da Associação Vale d’Ouro e conta com o apoio dos municípios desta região. Além de pôr a cidade do Porto a 2 horas e 45 minutos da capital espanhola, a nova ligação ferroviária pode pôr a cidade Invicta a menos de 1 hora e 15 minutos de Bragança.

As empresas também podem ficar a ganhar com a nova linha. “É uma oportunidade de escoar as cargas do Porto de Leixões e todo o tecido industrial do Norte”, referem ao ECO os autores do estudo. A nível territorial, o trajeto sobre carris também servir como um “fator de coesão” em vez “rasgar o território”, como aconteceu com a autoestrada A4.

Qual é a utilidade da Linha de Trás-os-Montes para passageiros e para mercadorias?

Luís Almeida (LA): Significa a revolução de toda a mobilidade de Trás-os-Montes e do país. Trata-se de uma linha de altas prestações que corta a diagonal entre Porto e Bragança e que depois consegue a ligação, de 40 quilómetros, da fronteira até Zamora, com tempos de viagem que rondam as 2h45 até Madrid.

Ainda no outro dia, em Miranda do Douro, ouvia a população a queixar-se da falta de médicos que pudessem estar nos centros de saúde. Com a nova linha, um médico do Porto pode ir para Miranda do Douro de manhã, dar as consultas e regressar a casa à noite – e vice-versa. Nenhuma das novas linhas propostas para o país pode provocar um impacto tão grande como esta.

Para as mercadorias, trata-se de ligar diretamente à Europa a segunda maior área metropolitana do país sem estar dependente do centralismo de Madrid e é uma oportunidade de escoar o Porto de Leixões e todo o tecido industrial do Norte – que está sobretudo acima do Douro.

Porquê apostar nesta linha quando há um projeto de modernização da Linha da Beira Alta, que é muito defendido pela indústria em Portugal?

Alberto Aroso (AA): Só em 2021 uma associação resolveu desmistificar a Linha de Trás-os-Montes. Se isso tivesse acontecido mais cedo, a postura de quem defende outro corredor iria mudar. É à volta do Porto de Leixões e do aeroporto Francisco Sá Carneiro que estão os principais operadores logísticos, como a Tertir e a Cosco. É nesta zona que estão muitos contentores. À volta do Porto de Aveiro não há nenhum operador logístico. A linha tem de se adaptar ao contexto e ao centro de atividade económica. O que faz sentido é a linha ser construída no norte do país. A Linha do Minho serve o fluxo de mercadorias da fachada atlântica, que passa pelo transporte de produtos siderúrgicos e de madeira. Pode-se pensar que esta linha pode transportar contentores até Monforte de Lemos, em Espanha, e seguir para a Europa.

Qual a ligação da nova linha com a restante rede ferroviária nacional?

LA: A linha arranca junto ao aeroporto Francisco Sá Carneiro, onde se espera que passe a nova linha de alta velocidade até Vigo. Os comboios da Linha do Minho também poderão entrar nesta linha. Em Vila Meã, haverá ligação à Linha do Douro, que passará a estar acessível ao aeroporto Francisco Sá Carneiro, o que é muito importante para o turismo.

Também propomos uma ligação a Chaves, com a reformulação do canal da Linha do Corgo, que passará da bitola métrica para a bitola ibérica e permitir velocidades de até 160 km/h, permitindo a continuidade de serviços.

Na chegada a Zamora, além da ligação à linha convencional, permitirá aceder à linha de alta velocidade até Madrid.

As autoestradas para o interior são criticadas porque servem sobretudo para retirar a população mais depressa dos locais do que as povoar. O comboio terá um efeito diferente a nível de coesão?

LA: A Kátia [Rocha] é de perto da região de Chaves e quanto a A24 foi aberta verificou-se que a maternidade teve menos atividade. Nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa, nota-se que a população concentra-se em torno da linha do comboio. As autoestradas rasgam o território; o comboio promove a coesão. Espanha faz isto há 30 anos.

AA: As políticas atuais de coesão dão um claro enfoque à utilização do caminho-de-ferro como espinha dorsal de todo o sistema de mobilidade e à utilização de todas as vias existentes. Daí a integração da Linha do Douro com a Linha de Trás-os-Montes.

LA: Com a Linha de Trás-os-Montes e a Linha do Douro, estamos a cobrir dois terços do norte do país com uma estação de comboios a 30 minutos de distância, no máximo.


A nova linha não pode pôr a Linha do Douro como um serviço cada vez mais restrito a turistas? Ou isso não é necessariamente mau?

LA: O turismo é o futuro da Linha do Douro mas há movimentos casa – trabalho diários que só não são mais frequentes porque houve um esquecimento total do que acontecia nesta linha. Se não fosse assim, o Pinhão poderia estar a hora e meia do Porto – em vez das atuais 2h30. Se reduzirmos os tempos de viagem, ainda assim, poderemos ter mais pessoas a morar na Régua, São João da Pesqueira e no Pinhão, pois as sedes de concelho estão a menos de 10 minutos da linha de comboio. A Régua pode mesmo ser uma cidade-satélite do Porto.

AA: Com a eletrificação até à Régua, será possível fazer um comboio Intercidades Porto – Régua de 1h30. Com a linha de Trás-os-Montes e a ligação a Vila Meã, Régua ficaria a 1h15 do Porto. Podemos colocar Trás-os-Montes no mapa da Península Ibérica, o que dará uma nova dinâmica na procura da região, atraindo mais pessoas. Basta ver o que aconteceu com a cidade do Fundão, que foi capaz de atrair quadros qualificados na área digital. Atualmente, Trás-os-Montes é a região de Portugal mais próxima do centro da Europa e, no entanto, é a que está mais afastada do centro da Europa.

O orçamento proposto para a construção da linha é de 4,4 mil milhões de euros. Quem acham que vai financiar as obras? Poderão entrar fundos privados?

LA: É um investimento ao nível do Corredor Internacional Norte, que já se decidiu que vai ser feito. A dúvida é se o fazemos a norte ou a sul do Douro. Temos de escolher a localização que gera mais-valias estratégicas traz para o país e a que permite amortizar este investimento mais depressa. Se é acima ou abaixo do Douro, este estudo tem de ser seriamente feito, para se tomar a melhor decisão possível. Temos de gastar muito bem o dinheiro.

AA: A linha pode ser financiada através do Orçamento do Estado e com fundos comunitários. Em alternativa, pode ser constituído um agrupamento de todos os concelhos da região. Estes municípios, depois, podem ir bater à porta do Banco Europeu de Investimento, apresentar um projeto de investimento conjunto e depois financiarem-no sem estarem dependentes do Orçamento do Estado. Depende muito da vontade política de toda a região. Na fase de obra, este investimento vai gerar um nível de incorporação nacional de perto de 90%, catalisando a economia nacional.

O que explica que no Plano Ferroviário Nacional tenha sido proposta uma linha entre Caíde e Bragança, sem continuidade até Espanha?

LA: Aí está o exemplo de um mau investimento. É deitar dinheiro fora.

AA: Tal como essa linha está proposta, um autocarro é mais rápido entre Porto e Bragança do que um comboio. Não vale a pena fazer sequer uma escavação.

LA: Não vamos fazer um buraco no Túnel do Marão para se pôr um comboio a 120 km/h. Não faz sentido.

O vosso estudo diz mesmo que só se justifica construir a linha se os comboios circularem a pelo menos 200 km/h.

LA: Só assim teremos tempos de viagem competitivos. Se a linha apenas começar em Caíde, perde-se logo mais de 45 minutos à saída do Porto por causa da saturação da linha do Douro. Com este tempo, praticamente dá para chegar a Vila Real.

Têm apoio da CCDR-N para o vosso projeto?

LA: Mostrou-se favorável às vantagens que este estudo introduz no Norte mas são os autarcas que terão a palavra final.

Quando poderemos ter a Linha de Trás-os-Montes a funcionar?

LA: A linha Porto-Soure, com 150 quilómetros, ficará pronta em cinco anos. Temos pela frente pelo menos dois anos de estudos de impacto ambiental e de impacto económico. Usando os modelos das parcerias público-privadas e com uma vontade férrea local e do Estado, não é ser demasiado otimista dizer que daqui a 10 anos poderia estar a circular um comboio entre Porto e Vila Real, por exemplo. Se amanhã o ministro João Galamba disser que a linha é para avançar, podemos apostar numa estimativa de 10 a 15 anos.

AA: Com um projeto de execução pronto até 2030, conseguiríamos inaugurar a linha em 2035, no máximo dos máximos.

Diogo Ferreira Nunes
Jornalista

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