Junta de Freguesia estabeleceu parceria com unidade móvel de fisioterapia, para melhorar saúde física dos idosos, mas as melhorias foram em termos mentais
Nem a neve impediu os idosos de Pinela de se juntarem. A curiosidade falou mais alto e pé ante pé lá foram até ao centro social da aldeia. Tinham ouvido falar que havia uma sessão gratuita de fisioterapia e não quiseram faltar. A aldeia de Pinela fica a quase meia hora da cidade de Bragança.
Numa aldeia com 160 habitantes e em que a média de idades ronda os "70 anos", são poucos os que se conseguem deslocar para obter este tipo de serviços. Não só pela dificuldade de mobilidade, mas também por questões financeiras. E por isso não quiseram desperdiçar a oportunidade. "Braços no ar, vamos respirar fundo e depois expulsar o ar": foi assim que começaram os exercícios de relaxamento e todos obedeciam. Mas se o objectivo era activar os músculos do corpo, foram os músculos da cara que mais trabalharam. Foi gargalhada atrás de gargalhada, porque ali, mais do que uma sessão de fisioterapia física, foi também fisioterapia mental. Basta dizer que estamos no interior, onde a desertificação é cada vez mais um problema e o envelhecimento é acentuado. E com o frio são poucos os idosos que saem de casa em pleno Inverno. Por isso, qualquer actividade é um pretexto para se juntarem.
Numa aldeia com 160 habitantes e em que a média de idades ronda os "70 anos", são poucos os que se conseguem deslocar para obter este tipo de serviços. Não só pela dificuldade de mobilidade, mas também por questões financeiras. E por isso não quiseram desperdiçar a oportunidade. "Braços no ar, vamos respirar fundo e depois expulsar o ar": foi assim que começaram os exercícios de relaxamento e todos obedeciam. Mas se o objectivo era activar os músculos do corpo, foram os músculos da cara que mais trabalharam. Foi gargalhada atrás de gargalhada, porque ali, mais do que uma sessão de fisioterapia física, foi também fisioterapia mental. Basta dizer que estamos no interior, onde a desertificação é cada vez mais um problema e o envelhecimento é acentuado. E com o frio são poucos os idosos que saem de casa em pleno Inverno. Por isso, qualquer actividade é um pretexto para se juntarem.
Júlia Afonso foi uma das idosas a participar. Tem 85 anos e vive sozinha. A sua companhia é a bengala que traz consigo, porque tem dificuldades em andar, devido a ter a "coluna esmagada". Mas nem por isso deixou de ir. "É preciso ir para a frente, não se pode olhar para trás, o caminho é para a frente", afirmou. Mesmo com as suas limitações, foi fazendo os exercícios de mobilidade, com a ajuda do fisioterapeuta. Quando soube que um fisioterapeuta iria à aldeia disse ter ficado "surpreendida", porque era a "primeira vez" que tal coisa acontecia. E como vive "pertinho" do centro social, decidiu ir. E gostou? "Gostei muito, porque em vez de estar sozinha estava com companhia", disse. "Companhia", "convívio" e "passar o tempo", foram as palavras que mais se ouviram naquela tarde. Com o intuito de melhorar a saúde física daquelas pessoas, a sessão acabou também por ter uma importância na saúde mental. "As pessoas que vivem sozinhas precisam muito de companhia para passar o tempo", contou Júlia Afonso, salientando que esta foi uma forma de não estar sozinha "a pensar no que não deve". "Não faltei e venho para a próxima, sempre", rematou.
Com menos idade estava Maria de Lurdes Gonçalves. Tem 68 anos e se houvesse um concurso que avaliasse quem mais se divertiu e riu naquela tarde, a taça era sua. "A gente gosta de animação", disse, realçando de imediato que "isto faz falta". Admitiu que foi o convívio que a levou ali. "Isto é importante. No Inverno não saímos muito, só ao domingo". Mas também pela falta de mobilidade. "Mexi-me muito mais e é para continuar todas as semanas", afirmou. No meio de várias mulheres estava um único homem, Hirundino Garcia, de 79 anos. "Andei na galhofa", contou com um sorriso no rosto. Vê-se que não é um homem de muitas palavras, mas as suas expressões faciais vieram a confirmar o que já se previa. "Gostei e volto a vir", disse, acrescentando que "para a próxima vem a mulher também". Esta foi só a primeira de várias sessões de exercícios de mobilidade e relaxamento que vão acontecer de 15 em 15 dias, durante seis meses.
Trata-se de uma parceria entre a Junta de Freguesia de Pinela e a Unidade Móvel de Fisioterapia Resineves. "A população da freguesia precisa deste tipo de actividades mais físicas, que podem ajudar a prevenir lesões, mas também a parte cognitiva, para os estimular. Mas aqui o maior foco é criar o espírito de comunidade que se perdeu durante a pandemia", disse o presidente da junta, Alex Rodrigues.
Esta já não é a primeira vez que a junta de freguesia adere a projectos para melhorar as condições de vida da população. Em 2018, através da Cruz Vermelha de Bragança, disponibilizou serviços de enfermagem e em 2020 também aderiu ao projecto Desporto Sénior que foi suspenso por causa da pandemia. A freguesia de Pinela, composta pela aldeia de Pinela e a anexa Valverde, onde também são proporcionadas sessões, tem cerca de 180 habitantes. Muitos deles moram sozinhos. "Nós temos aqui muita gente que vive sozinha, não vê ninguém durante o dia, e isto é uma forma de as obrigar a sair casa e se divertir um pouco, ao mesmo tempo que está a tratar da sua saúde", afirmou.
Alex Rodrigues explicou que há pessoas que não têm capacidade financeira para suportar este tipo de tratamentos, mas também há pessoas que tendo capacidade financeira, não têm forma de ir a Bragança, porque não têm carro, o que as obriga a "sujeitar" ao horário do autocarro. E, por isso, decidiu avançar com esta parceria. Além dos exercícios de mobilidade, a unidade móvel está equipada para prestar outro tipo de serviços, como massagens localizadas, a custos mais reduzidos, uma vez que têm esta parceria com a junta de freguesia. Podem também fazer sessões de fisioterapia particulares, nos concelhos de Bragança, Vinhais, Macedo de Cavaleiros e Vimioso.
O objectivo é "aproximar" os cuidados de saúde da população. "O que nós pretendemos mesmo é que estes cuidados estejam o mais próximo possível, evitando o custo de deslocação à população", disse Emílio Neves.
Numa região, onde as acessibilidades são um problema e o envelhecimento é uma realidade, são muitas vezes as juntas de freguesia a salvação para a resolução de problemas.
Jornalista: Ângela Pais
Sem comentários:
Enviar um comentário