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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Oliveira: uma “velha” mediterrânica, com milénios de cultivo

 A oliveira é uma das árvores mais associadas à bacia mediterrânica, onde é cultivada há milénios. É uma espécie adaptada à seca e a solos pobres, que cresce lentamente ao longo de centenas e até milhares de anos. Fique a conhecê-la neste artigo em colaboração com António Cordeiro.


A oliveira faz parte da nossa tradição, cultura e paisagem, seja como árvore de cultivo ou ornamental. Está presente à mesa, na forma de azeitonas ou de azeite, faz parte da toponímia, é nome de família, está associada a tradições religiosas e é símbolo de paz, longevidade e glória.

De nome científico Olea europaea, pertence à família das Oleáceas. Desta família botânica fazem parte seis espécies nativas do continente e cinco das ilhas:

– É uma das poucas plantas cultivadas de origem mediterrânica. A sua difusão é antiga e as referências à espécie em Portugal também. O Código Visigótico, do ano de 560 d.C., estipulava multas para quem arrancasse oliveiras alheias (o povo visigodo ocupou a península ibérica entre o século V e VIII). Já antes, Estrabão, filósofo, historiador e geógrafo grego, que viveu no final do século I a.C., falava de olivais no Ribatejo. Existem dezenas de topónimos relacionados com a oliveira no nosso país – como Olivais ou Azeitão -, além de várias famílias Oliveira e até nomes próprios, como Olívia ou Olívio.

– Pode viver centenas ou até milhares de anos, mas como os seus troncos vão ficando ocos à medida que crescem, perdendo a parte mais antiga da madeira, não é possível datar estas árvores com precisão, nem pela contagem dos anéis de crescimento, nem pelo método de datação de carbono. Face a esta dificuldade, a UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro desenvolveu um método alternativo: uma estimativa baseada em medições das árvores. Embora não seja reconhecido pela restante comunidade científica, este método estimou a existência de oliveiras com mais de 2000 anos e a que poderá ser a árvore mais velha em Portugal.

– Tem o seu nome derivado do latim oliva, mas as origens da palavra vêm do grego elaia ou do grego micênico elaiva, que significam óleo.

– Os textos bíblicos dizem que a espécie sobreviveu ao dilúvio e ficou associada à paz, quando uma pomba voltou à arca de Noé com um ramo de oliveira no bico. Picasso usou esta mesma ideia na sua Pomba da Paz, em 1949. Além desta ligação ao Cristianismo, a oliveira e o azeite são também respeitados no Judaísmo e Islão, estando associados à luz, purificação e substância.

As flores, pequenas e brancas, agrupam-se em cachos ramificados, e florescem entre abril e junho. Esta é uma espécie monóica, ou seja, uma mesma árvore tem flores de ambos os sexos. As flores podem ser hermafroditas ou ter apenas um dos sexos:

– As flores hermafroditas são chamadas de perfeitas, pois são elas que, depois de polinizadas dão origem ao fruto. O pólen que permite a fertilização é, na maioria dos casos, transportado pelo vento (menos frequentemente por insetos ou aves), a partir de outras oliveiras, embora a autopolinização possa ocorrer;

– As masculinas são chamadas de flores imperfeitas, por não serem capazes de gerar fruto devido a uma falha de desenvolvimento (ou não possuem ovário, ou este órgão é rudimentar e não funcional).

O fruto é uma drupa, que bem conhecemos – a azeitona – que surge a partir de junho e amadurece em outubro-novembro.

Oliveira é uma espécie rústica, bem-adaptada ao clima mediterrânico

A oliveira é uma espécie adaptada ao clima da costa do Mar Mediterrânico, até aos 600 metros de altitude, onde os verões são quentes e secos, e os invernos frios e chuvosos. Como várias espécies adaptadas a esta região e clima, é tolerante à secura – considerada uma espécie termófila – e pode crescer em todos os tipos de solos.

A oliveira apresenta características morfológicas, anatómicas, fisiológicas e bioquímicas que a ajudam a reduzir a perda de água e a tolerar condições de secura e até alguma desidratação:

– As folhas estão “desenhadas” para minimizar as perdas de água por transpiração e para receber o máximo de energia sem aumentos excessivos de temperatura (que levariam ao aumentam a evaporação);

– As raízes (sistema radicular) são extensas e crescem mais ou menos paralelas à superfície do solo (e não tanto em profundidade), o que lhes possibilita absorver a água das chuvas leves e intermitentes, típicas do clima mediterrânico;

– Quando se encontram em condições de secura moderada, as oliveiras param o seu crescimento, mas não a atividade fotossintética, o que lhes permite acumular reservas e aumentar as suas raízes (sistema radicular).

A capacidade da oliveira de prosperar e ter produções aceitáveis, mesmo em condições de secura e solos pobres, foi uma das principais razões para a expansão da sua cultura.

A utilização e exploração do zambujeiro (silvestre) está documentada no Próximo Oriente e até à Espanha desde o período Neolítico, que teve início há cerca de 10 mil anos. Esta oliveira silvestre ter-se-á disseminado naturalmente, provavelmente levada por aves migratórias, e cresceu nos locais onde encontrou melhores condições para prosperar. Mais tarde, ter-se-á cruzado com variedades cultivadas para a produção de azeitona e azeite.

Embora não haja certezas sobre o local de origem da espécie, é normalmente aceite que a domesticação da oliveira tenha começado no Médio Oriente, há cerca de seis mil anos. Ainda assim, encontram-se evidências do seu cultivo noutros locais do Mediterrâneo, mais ou menos pela mesma época.

Um trabalho recente revelou que a domesticação desta espécie terá tido origem no Mediterrâneo oriental, na região entre a Síria e a Turquia. De lá, esta cultura espalhou-se para o Chipre e seguiu rumo a oeste, para a Turquia, Grécia, Itália e para o resto do Mediterrâneo, paralelamente à expansão das civilizações e do comércio nesta parte do mundo.

Esta expansão e domesticação foi um processo longo e contínuo, que envolveu cruzamentos genéticos entre as árvores cultivadas e as variantes silvestres de zambujeiros que existiam em vários locais (inclusive em Portugal), o que pode explicar as diferentes origens de cultivo um pouco por todo o Mediterrâneo. Esta história milenar leva a que a espécie seja considerada nativa por praticamente todos os países da Bacia Mediterrânica.

Ao longo do tempo, a domesticação prosseguiu por grande parte do mundo e hoje podem ser encontradas oliveiras em locais tão distantes como a Austrália, a América do Norte e do Sul, a África do Sul e o Havai.

Pensa-se que terão sido os Fenícios a expandir a cultura da oliveira pelo Mediterrâneo Ocidental, Norte de África e Sul de Espanha. A par com os Gregos, terá sido este povo a trazer a oliveira até Portugal, tendo depois os Romanos impulsionado a sua cultura e a produção de azeite.

Com uma história tão longa pelo Mediterrâneo, a cultura da oliveira e a produção de azeite fazem parte da história e património cultural e gastronómico dos povos da região. Não é, por isso, de estranhar que Itália, Espanha, França, Grécia e Portugal sejam dos países com maior área de olival no mundo e deem à Europa o título de maior produtor global de azeite.

Em 2022, existiam na União Europeia (EU-27) mais de 5 mil milhões de hectares de oliveiras, de acordo com os dados do Eurostat (Crop production in national humidity – olives), e cerca de 95% das oliveiras estavam localizadas na região mediterrânica. Espanha liderava, com 2,6 mil milhões de hectares (52% do olival da EU-27) e Portugal ocupava a quarta posição, com 380 mil hectares (7,5%), depois de Itália, com 1,1 mil milhões de hectares (21,5%), e Grécia, com 905 mil hectares (18%). Fora da UE, era a Turquia que se destacava em área de olival, com cerca de 889 mil hectares (em 2021).

A maior parte deste olival é plantado com o objetivo de obter azeite (apenas cerca de 6,1% da área total se destina à à azeitona de mesa), o que destaca a Europa como a produtora de dois terços do azeite mundial.

Sabia que a oliveira…

– É uma das poucas plantas cultivadas de origem mediterrânica. A sua difusão é antiga e as referências à espécie em Portugal também. O Código Visigótico, do ano de 560 d.C., estipulava multas para quem arrancasse oliveiras alheias (o povo visigodo ocupou a península ibérica entre o século V e VIII). Já antes, Estrabão, filósofo, historiador e geógrafo grego, que viveu no final do século I a.C., falava de olivais no Ribatejo. Existem dezenas de topónimos relacionados com a oliveira no nosso país – como Olivais ou Azeitão -, além de várias famílias Oliveira e até nomes próprios, como Olívia ou Olívio.

– Pode viver centenas ou até milhares de anos, mas como os seus troncos vão ficando ocos à medida que crescem, perdendo a parte mais antiga da madeira, não é possível datar estas árvores com precisão, nem pela contagem dos anéis de crescimento, nem pelo método de datação de carbono. Face a esta dificuldade, a UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro desenvolveu um método alternativo: uma estimativa baseada em medições das árvores. Embora não seja reconhecido pela restante comunidade científica, este método estimou a existência de oliveiras com mais de 2000 anos e a que poderá ser a árvore mais velha em Portugal.

– Tem o seu nome derivado do latim oliva, mas as origens da palavra vêm do grego elaia ou do grego micênico elaiva, que significam óleo.

– Os textos bíblicos dizem que a espécie sobreviveu ao dilúvio e ficou associada à paz, quando uma pomba voltou à arca de Noé com um ramo de oliveira no bico. Picasso usou esta mesma ideia na sua Pomba da Paz, em 1949. Além desta ligação ao Cristianismo, a oliveira e o azeite são também respeitados no Judaísmo e Islão, estando associados à luz, purificação e substância.

Sabia que o azeite…

– A palavra terá origem na expressão árabe az zayt – sumo de azeitona.

– Faz parte da Dieta Mediterrânica, considerada Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, em 2013.

– Na antiguidade, era usado para iluminação, mas também para muitos outros fins: os gregos utilizavam-no como balsamo depois do banho e para manter os músculos flexíveis; os cremes de beleza eram feitos com pó de argila amassado com azeite; e uma mistura de azeite, gema de ovo, cerveja e sumo de limão era massajada no couro cabeludo para manter as cabeleiras fortes. O azeite também era o principal combustível usado nas piras funerárias, sendo depois derramado sobre as cinzas, para as perfumar.

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