Número total de visualizações do Blogue

Pesquisar neste blogue

Aderir a este Blogue

Sobre o Blogue

SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 26 de março de 2024

25 de Abril de 1974-Bragança

 Mais um ano de exame no Liceu. Uns já tinham abandonado o ano a meio, quer para "abraçarem" a vida laboral, quer para ingressarem no serviço militar. A sociedade estava conturbada e confusa, o meu Pai estava doente e sempre nervoso. A guerra no Ultramar estava a ser uma sombra. Eu e a minha geração estávamos a começar a fazer a mochila. Faltou apertar as correias...
Em 1972, as propinas já custavam 125$00 x 3, ou seja 375$00 para a frequência mais 250$00 de inscrição. Era dinheiro para a altura…era muito dinheiro. Talvez, em pormenores como este, se entenda melhor a razão porque poucos conseguiam seguir os estudos e optavam pela vida laboral por cá ou no estrangeiro. “O dinheiro era caro”.

25 de Abril de 1974, o dia.

Estava eu a menos de 3 meses de fazer 17 anos.
Logo de manhã, no Liceu, ouvimos uns rumores do que algo se estava a passar no País, mas nada a que estivéssemos a dar demasiada importância.
Entretanto, na hora do almoço e no refeitório, o Dr. Subtil, a almoçar à minha frente, não tirava o transístor do ouvido e ia relatando os acontecimentos. Todos estavam em silêncio a escutar o que o Dr. Subtil ia transmitindo. Ele ouvia as notícias e repetia-as para nós todos irmos acompanhando o que se passava.
O Governo Caiu. Prenderam o Tomás e o Caetano. As tropas estão fora dos quartéis. O povo, em Lisboa e no Porto, está a invadir as ruas para apoiar o “Movimento das Forças Armadas”.
Apesar de tudo, nada de muito anormal se passou no Liceu e as aulas, que foram interrompidas de manhã, recomeçaram na parte de tarde. As horas e os dias seguintes, com muita informação, veiculada pelos órgãos de comunicação social, foram decisivas para começarmos a entender melhor as repercussões do que se estava a passar, efectivamente, em Portugal.
Chegou a Liberdade! Para nós, no início, não nos pareceu coisa de sobeja importância, mas, alguns de nós ao chegarmos a casa começámos a perceber que, para os nossos Pais, a importância era enorme. Eu sabia, por ele me ter dito, que o meu Pai tinha votado em 1958, no General Humberto Delgado.
Conversámos um pouco e fui entendendo melhor algumas coisas que pouco ou nada me tinham preocupado até ao momento. O meu Pai, que bem sabia a “peça” que tinha em casa, apenas me dizia: - Não te metas em confusões. No entanto meti-me. Nunca me arrependi. Eu sei, meu Pai, que querias "outros voos para mim". Desculpa mas trilhei o meu caminho, o caminho que LIVREMENTE escolhi... teve e tem espinhos e rosas... tal como todos os caminhos nesta tão curta passagem! Talvez me perdoes se eu te disser que nunca meti uma cunha, que nunca baixei a cerviz a nenhum ser humano, que nunca deixei de expressar o que penso e que jamais serei um "pau mandado".
Um grupo restrito de amigos, já tinha anteriormente a noção do Portugal das diferenças. Afinal a Ilha do Rei era mesmo ali ao lado do Liceu e muitas vezes surripiamos leite de nossa casa para levar aos miúdos da ilha do Rei. A sensibilidade estava latente.
Era hora de mobilizar. Portugal tinha mudado.
Dia 27 de abril de 1974 foi o dia de Bragança mostrar, na rua, o apoio ao Movimento das Forças Armadas. Lá estive... e fiquei rouco.
O próximo passo era o 1 de Maio de 1974. Eu mais o Lacerda empunhávamos uma faixa onde se podia ler: “Os estudantes ao lado do povo e sob a direcção da classe operária”.
Eram dias de euforia, talvez pouco racional, mas era assim por todo o lado. O povo estava na rua... E a hora era de festejos, euforia e esperança.

HM

Sem comentários:

Enviar um comentário