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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Breve história dos enchidos e fumeiro – o que importa saber

 O termo enchidos, compreende uma categoria de alimentos que nascem com o encher das tripas de animais devidamente limpas ou sintéticas (principalmente no caso de versões vegetarianas) com diversos tipos de recheio.


O produto desta operação pode, opcionalmente, ser defumado antes de ser consumido. Muitos dos enchidos portugueses são confeccionados com carne, gordura, entranhas, condimentos e temperos.

Após uma lavagem cuidada, a parte inferior das tripas é atada, para que possam ser enchidas pela parte superior.

O tempero da carne é realizado no mesmo dia, para que se possam encher as tripas no dia seguinte ou ainda no próprio dia.

A salga e a defumação

A origem do fumeiro está localizada no tempo em que o homem sentiu necessidade de conservar a carne por longos períodos de tempo. Descobriu dessa forma dois métodos, a salga e a defumação.

Assim a salga era aplicada à carne de porco e à carne de vaca e a defumação aplicada à carne de porco e às aves.

Gregos e Romanos, depois de descobrirem a técnica de defumação passaram igualmente a fazê-lo mesmo depois de a salgarem.

Os aperfeiçoamentos desta técnica levaram inclusive a defumar os alimentos com diferentes tipos de lenha, pois descobriram que esta modificava o sabor dos alimentos tornando-os, em alguns casos, ainda mais saborosos.

Existem ainda registos que atribuem a origem dos enchidos e fumados ao período primitivo quando os intestinos dos animais eram enchidos com carne moída.

Pode igualmente encontrar-se ainda uma referência na Odisseia de Homero, em 99 a.C., a um enchido com sangue e gordura revestido de tripa de cabra.

Sobre o método da defumação

A defumação é um método de cozimento lento pela presença indireta de fogo. Pode ser feito utilizando um defumador, que é um aparelho especialmente desenhado para esta situação.

Uma churrasqueira com tampa também pode ser utilizada, colocando uma assadeira com água abaixo da carne posta na grelha.

O processo de defumação de alimentos pode ser feito a quente, para carnes como de suíno, de bovino, de peixe e de ave, com utilização de fogo e fumo. Pode-se, ainda, defumar queijos em processo a frio, apenas com a aplicação de fumo. Existem dois tipos de defumação: a quente (75º C) e a fria (30º a 50º C).

As peças devem ser penduradas no defumador, mantendo-se uma certa distância entre elas, bem como da parede, a fim de garantir a circulação da fumaça e do calor.

Utilização de madeiras

A produção de fumo é feita normalmente com serragem de eucalipto, que é um produto mais fácil de ser encontrado no mercado.

De modo geral, madeiras nobres como peroba, cedro e pau-marfim também podem ser utilizadas no processo de defumação.

A serragem de pinheiro não é indicada por causa da possibilidade de apresentar resina.

O fumo tem um efeito conservante que, associado ao calor, resulta na redução da unidade, essencial no controle do desenvolvimento de microrganismos. Muitos componentes do fumo têm efeito bactericida e desinfetante.

Ainda há no fumo o efeito dos fenóis que, por ser antioxidante, inibem a oxidação das gorduras e evitam o sabor de ranço.

A matéria-prima para fabricar enchidos defumados deve ser proveniente de animais saudáveis, descansados no pré-abate e abatido em local limpo e higiénico, ou seja, a peça para defumação deve ser adquirida em locais que vendam carne inspecionada e que esse produto seja manipulado de forma adequada.

Origem do fumeiro

Os enchidos e fumeiro têm uma longa história que remonta a tempos pré-históricos, quando o homem primitivo começou a procurar métodos eficazes para conservar a carne.

A técnica de defumar a carne e a criação de enchidos surgiram como respostas naturais à necessidade de prolongar a durabilidade dos alimentos, especialmente em períodos de escassez.

Origens antigas

As primeiras evidências de enchidos aparecem em textos antigos, como na “Odisseia” de Homero, onde já se mencionava a preparação de carne moída e temperada, embutida em tripas.

No Império Romano, os enchidos eram extremamente populares, com variedades como a “lucanica” a ganhar destaque. Os romanos também dominavam a técnica de fumagem, utilizando-a para conservar carne e peixe.

Idade Média e expansão na Europa

Durante a Idade Média, a produção de enchidos e fumeiro espalhou-se por toda a Europa.

Em Portugal, estes métodos ganharam particular relevância, especialmente nas zonas rurais. Cada comunidade desenvolveu as suas receitas e técnicas, utilizando ingredientes locais e adaptando as práticas às condições climáticas da região.

Os enchidos tornaram-se um elemento essencial da alimentação, especialmente em tempos de inverno, quando a disponibilidade de carne fresca era reduzida.

A fumagem, que inicialmente servia para proteger a carne dos insetos e da deterioração, tornou-se um método que também conferia sabor e textura únicos.

Influência Judaica

Uma fase interessante da história dos enchidos em Portugal está ligada à comunidade judaica, especialmente durante a Inquisição no século XV.

Para evitar perseguições, muitos judeus convertidos ao cristianismo (os chamados cristãos-novos) criaram enchidos sem carne de porco, como a alheira, usando carne de aves e outros ingredientes. Este enchido disfarçava a prática judaica de evitar carne suína, permitindo que os judeus aparentassem ser cristãos observantes.

Modernidade e continuação da tradição

Com o advento da refrigeração e de outras técnicas de conservação no século XX, os enchidos e fumeiro deixaram de ser uma necessidade e tornaram-se uma iguaria. No entanto, as técnicas tradicionais de produção, especialmente em regiões como Trás-os-Montes, Beiras e Alentejo, foram preservadas e valorizadas.

Hoje, os enchidos e fumeiro continuam a ser uma parte integral da cultura gastronómica portuguesa, com feiras e eventos dedicados a celebrar estas delícias regionais.

A sua produção continua a ser um processo artesanal em muitas regiões, garantindo que o sabor e a qualidade se mantenham fiéis às tradições ancestrais.

Os enchidos e fumeiro não são apenas comida. Eles são uma ligação viva ao passado, uma celebração da história e da cultura que moldaram Portugal ao longo dos séculos.

Nota: Se considera que neste texto alguma coisa está errada, ou se quiser complementar alguma informação, agradecemos que nos informe.

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