Está a decorrer em Picote, de 12 a 26 de agosto, um Campo de Trabalho Voluntário Internacional, uma iniciativa que trouxe à localidade dez jovens, para participar nas escavações arqueológicas da “Casa Romana do Castelhar”, uma antiga habitação romana datada dos séculos III e IV.
De acordo com o presidente da freguesia de Picote, Jorge Lourenço, na localidade existe um significativo espólio arqueológico, referenciado historicamente, devido a uma presença humana ancestral bem vincada.
“Na bibliografia antiga é identificado em Picote, um povoado fortificado da Idade do Ferro (700 a.C. até século 1 a.C.), posteriormente romanizado. O atual campo de trabalho voluntário internacional, promovido pela Palombar, visa pôr a descoberto este património histórico”, justificou.
O Campo de Trabalho Voluntário Internacionais (CTVI) – Escavação Arqueológica, realizado no âmbito do projeto NatuRural Heritage, da Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural, vai contribuir para o processo de musealização de uma habitação romana, dos séculos III e IV.
A arqueóloga do município de Miranda do Douro, Mónica Salgado explicou que o objetivo do campo de trabalho é alargar a área de escavação da Casa Romana do Castelhar, com a finalidade de colocar as suas estruturas mais visíveis, nomeadamente um celeiro que foi identificado em 2015, por investigadores da Universidade do Porto (U.Porto).
“Estamos a dar continuidade ao trabalho realizado por investigadores da Universidade do Porto (U.Porto), entre 2012 e 2015, durante o qual foi encontrada a estrutura de uma casa romana, à qual está associado um celeiro. No atual campo de trabalho e com a ajuda dos jovens voluntários estamos a definir a área do celeiro e a averiguar se existem mais estruturas associadas”, indicou.
Sobre a participação dos voluntários, a arqueóloga disse que no decorrer dos trabalhos, os jovens têm a oportunidade de conhecer o património histórico existente em Picote, bem como a metodologia e as técnicas da arqueologia.
No campo de trabalho, em Picote, o grupo voluntários é constituído por 10 jovens: quatro portugueses, quatro espanhóis, uma belga e uma peruana.
Álvaro tem 21 anos, é natural de Alfena (Porto) e está a estudar para ser professor de línguas. Inscreveu-se no campo de trabalho em escavações arqueológicas, porque gosta de sair da sua zona de conforto e aceitar novos desafios.
“Dado que gosto de adquirir novos conhecimentos e competências. sociais e profissionais, decidi inscrever-me na Agência Nacional do Corpo Europeu de Solidariedade, através da qual escolhi como ação de voluntariado este campo de trabalho dedicado à arqueologia”, explicou.
Sobre a convivência com os outros jovens voluntários, o jovem português destacou a “grande motivação” do grupo, a entreajuda e o ambiente “fenomenal” entre todos.
Questionado sobre a estadia na aldeia de Picote, o jovem português disse que a realidade desta localidade é bem diferente do ambiente urbano em que vive.
“A maior tranquilidade da vida na aldeia e vida em comum com os outros voluntários propicia um conhecimento profundo entre todos”, salientou.
Lucia, veio de Oviedo (Espanha), está a concluir os estudos em arquitetura e decidiu participar no campo de trabalho, em Picote, dado o seu interesse pelo património histórico.
“A par da aprendizagem em escavações arqueológicas, o voluntariado dá-me a possibilidade de conhecer esta região de Portugal. Estou a gostar muito da experiência, o convívio com os outros voluntários está a decorrer muito bem e estamos a aprender uns com os outros”, disse.
Também de Espanha, da região de Madrid, veio Carlos Mollano, com o propósito de fazer voluntariado. Ao fim de dez dias de escavações arqueológicas, o estudante de informática disse que já aprendeu várias técnicas e mostrou-se bem surpreendido com o bom ambiente entre os voluntários.
“A melhor parte do campo de trabalho é mesmo o convívio e bom ambiente entre todos os voluntários”, disse.
Da Bélgica, a jovem Kunnet, estudante de arquitetura teve conhecimento do campo de trabalho através da associação francesa REMPART. A jovem belga decidiu viajar para Picote, para conhecer outras tendências da arquitetura histórica.
“Entre a arqueologia e a arquitetura existe uma complementaridade. Foi por essa razão que decidi participar neste campo de trabalho, onde tenho a oportunidade de descobrir outros exemplos arquitetónicos históricos”, disse.
Apesar de algumas dificuldades de comunicação com os outros voluntários portugueses e espanhóis, a jovem belga disse que o trabalho está a decorrer bem e tem apreciado muito a tranquilidade na aldeia de Picote.
Por sua vez, os arqueólogos, Marco Fangueiro e Duarte, também estão a participar como voluntários no campo de trabalho em Picote. Sobre a trabalho já realizado, os jovens arqueólogos indicaram que a Casa Romana do Castelhar reune boas condições para achados arqueológicos.
“Em Picote, a terra é macia e as rochas são resistentes, o que facilita as escavações arqueológicas. No decorrer dos trabalhos já foram encontradas pedras e rochas que poderão fazer parte de uma estrutura. Entre os achados encontrámos também duas moedas, assim como outras peças cerâmicas”, indicaram.
Os jovens voluntários trabalham durante as manhãs e nas tardes aproveitam para conhecer a região.
Entre as atividades programadas estão as visitas à aldeia de Picote, à cidade de Miranda do Douro, ao centro de valorização do Burro de Miranda, em Atenor; aos pombais, em Uva; à observação de aves; a ateliers de danças dos pauliteiros e de língua mirandesa; a uma visita à barragem de Picote e também a refrescantes tardes na piscina municipal.
Ao longo das duas semanas do Campo de Trabalho Voluntário Internacional (CTVI), os jovens ficam alojados no Centro de Acolhimento Juvenil do Barrocal do Douro, onde também confeccionam as refeições comunitárias.
O Campo de Trabalho Voluntário Internacional realiza-se entre os dias 12 e 26 de agosto e conta com os apoios da Câmara Municipal de Miranda do Douro, da Junta de Freguesia de Picote, da Frauga – Associação para o Desenvolvimento Integrado de Picote, da Associação Família Kolping de Picote e da Associação francesa REMPART.
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