Por: Fernando Calado
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)
As cidades são como as pessoas, entardecem e silenciam-se, quando o sol regressa do campo para sua casa amornecido pelo convívio íntimo com as searas que se deitam no colo do vento que passa só por passar…
E as cidades têm ruas e casas, avenidas, becos, gente anónima, gente feliz, gente que morre de tristeza, gente com pão e gente que conta os cêntimos na imensidão dos meses que não têm fim.
As cidades têm loucos que sorriem e bêbados que se embebedam para ao entardecer poderem dizer todas as verdades que nenhum santo disse e gritarem aos transeuntes que acordem e se convertam… o fim do mundo está perto… depois bebem mais e mais no conchego da taberna… que nostalgicamente resiste entre a sueca, o chincalhão e dois copos dos últimos clientes.
As cidades têm gente muito séria que passa pela vida, sem pecado original… vão à missa das seis… ao mês de Maria… à reunião da comissão política do partido… e são gente de bem… e tão felizes...
…depois morrem… e talvez sorriam… pela primeiríssima vez… talvez sorriam da pasmaceira da vida da gente séria…
As cidades a nordeste envelhecem… e Deus perpassa por entre o silêncio… e um dia as casas… as ruas… os becos… as avenidas serão somente ruas, casas e becos e avenidas… e não haverá nem gente feliz, nem gente triste, nem ricos, nem pobres, nem gente séria… somente a cidade e o silêncio.
…as silvas e os cardos crescerão por entre as casas, as ruas, as avenidas e os becos… os lobos e as raposas descerão à cidade… e nesse tempo os Senhores, tão sérios, de Lisboa acordarão… assustados…com a evidência das ideias luminosas… é preciso salvar o interior… é preciso combater a desertificação… ´é preciso…
… nesse tempo… talvez o louco e o bêbado… na sua lucidez, ainda estejam por cá para contar a história."
E as cidades têm ruas e casas, avenidas, becos, gente anónima, gente feliz, gente que morre de tristeza, gente com pão e gente que conta os cêntimos na imensidão dos meses que não têm fim.
As cidades têm loucos que sorriem e bêbados que se embebedam para ao entardecer poderem dizer todas as verdades que nenhum santo disse e gritarem aos transeuntes que acordem e se convertam… o fim do mundo está perto… depois bebem mais e mais no conchego da taberna… que nostalgicamente resiste entre a sueca, o chincalhão e dois copos dos últimos clientes.
As cidades têm gente muito séria que passa pela vida, sem pecado original… vão à missa das seis… ao mês de Maria… à reunião da comissão política do partido… e são gente de bem… e tão felizes...
…depois morrem… e talvez sorriam… pela primeiríssima vez… talvez sorriam da pasmaceira da vida da gente séria…
As cidades a nordeste envelhecem… e Deus perpassa por entre o silêncio… e um dia as casas… as ruas… os becos… as avenidas serão somente ruas, casas e becos e avenidas… e não haverá nem gente feliz, nem gente triste, nem ricos, nem pobres, nem gente séria… somente a cidade e o silêncio.
…as silvas e os cardos crescerão por entre as casas, as ruas, as avenidas e os becos… os lobos e as raposas descerão à cidade… e nesse tempo os Senhores, tão sérios, de Lisboa acordarão… assustados…com a evidência das ideias luminosas… é preciso salvar o interior… é preciso combater a desertificação… ´é preciso…
… nesse tempo… talvez o louco e o bêbado… na sua lucidez, ainda estejam por cá para contar a história."
Fernando Calado nasceu em 1951, em Milhão, Bragança. É licenciado em Filosofia pela Universidade do Porto e foi professor de Filosofia na Escola Secundária Abade de Baçal em Bragança. Curriculares do doutoramento na Universidade de Valladolid. Foi ainda professor na Escola Superior de Saúde de Bragança e no Instituto Jean Piaget de Macedo de Cavaleiros. Exerceu os cargos de Delegado dos Assuntos Consulares, Coordenador do Centro da Área Educativa e de Diretor do Centro de Formação Profissional do IEFP em Bragança.
Publicou com assiduidade artigos de opinião e literários em vários Jornais. Foi diretor da revista cultural e etnográfica “Amigos de Bragança”.
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