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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 29 de outubro de 2024

A tradição dos magustos: castanhas e vinho pelo país

 A tradição dos magustos é uma das mais antigas e apreciadas em Portugal, celebrada especialmente no outono, próximo ao Dia de São Martinho, em 11 de novembro.
Este evento cultural, típico do outono, tem como base a partilha de castanhas assadas e do vinho novo, aproximando as pessoas e marcando o final das colheitas.

Cada região do país celebra o magusto com as suas particularidades, mas o espírito de confraternização, o aroma das castanhas e o calor das fogueiras são elementos comuns que tornam o evento uma das tradições mais queridas do país.

A origem e o significado do magustos

A palavra “magusto” é associada à ideia de “queimar” ou “assar”, remetendo ao ato de colocar as castanhas nas brasas.

A sua origem remonta a celebrações de agradecimento pelas colheitas, especialmente entre as culturas celtas e romanas que habitavam a Península Ibérica.

Ao longo dos séculos, com a chegada do cristianismo, a tradição do magusto foi integrada na festa de São Martinho, santo que, segundo a lenda, dividiu seu manto com um mendigo em uma noite fria.

Essa história de bondade e partilha ajudou a moldar o caráter solidário do magusto, sendo também associado ao fenómeno conhecido como “verão de São Martinho” – um breve período de tempo quente que costuma ocorrer no outono.

Hoje, o magusto é celebrado em praticamente todo o país, e cada região imprime na festa traços únicos de sua cultura e costumes.

As castanhas e o vinho novo, porém, são elementos que permanecem constantes e representam o simbolismo de fartura, gratidão e a conexão entre as pessoas e a natureza.

Como é preparado um magusto

A preparação de um magusto pode ser bem simples ou incluir rituais e superstições locais.

Em geral, as castanhas são assadas diretamente na brasa, colocadas em fogueiras que são feitas ao ar livre ou em lareiras dentro de casas de pedra.

As castanhas, previamente colhidas e preparadas, são cortadas para facilitar o assado e são constantemente viradas para não queimarem.

Outro elemento essencial é o vinho novo, que é produzido após a colheita das uvas e serve como acompanhamento perfeito para as castanhas assadas. Para muitos, o magusto é a primeira oportunidade de provar o vinho da temporada, que possui um sabor jovem e marcante.

Em algumas regiões, o magusto inclui iguarias como a broa de milho, chouriços assados e até doces tradicionais que completam o banquete.

Para além dos alimentos, o ambiente é aquecido pela presença de amigos, familiares e membros da comunidade, todos reunidos em torno da fogueira.

O fumo, o cheiro das castanhas e o calor do fogo são, para muitos, lembranças afetivas que remontam à infância e às tradições familiares.

Embora o magusto seja celebrado em todo o país, cada localidade possui costumes próprios.

Em Trás-os-Montes, por exemplo, é comum que as pessoas saltem sobre as brasas, acreditando que o ato traz sorte e proteção contra o frio do inverno.

Em várias aldeias, as pessoas também costumam sujar o rosto com as cinzas das castanhas.

Em algumas aldeias do norte de Portugal, há ainda o costume de cantar modinhas populares e contar histórias antigas enquanto as castanhas assam.

Essas canções, muitas vezes, têm letras engraçadas ou expressam gratidão pela colheita, fortalecendo a ligação com o ciclo agrícola e com as raízes culturais locais.

Para os mais jovens, o magusto é também uma oportunidade de aprender as histórias e as tradições de seus antepassados, criando uma conexão com a sua herança cultural.

Magustos em comunidade: uma festa de confraternização

Um dos aspetos mais bonitos do magusto é o seu espírito de comunhão e partilha.

Em muitas vilas e aldeias, o magusto é uma festa coletiva, onde cada família contribui com castanhas, vinho e outros alimentos.

Em várias cidades e vilas, são organizados magustos públicos, promovidos por associações culturais e recreativas, onde qualquer pessoa pode participar.

Nesses eventos, as fogueiras são grandes, e o público é convidado a se reunir para partilhar as castanhas, o vinho e as histórias.

Nessas celebrações, o vinho novo é servido em jarros de barro, copos de metal ou outros recipientes tradicionais, enfatizando a simplicidade e o simbolismo do evento.

Em alguns lugares, como em aldeias da Serra da Estrela, as castanhas são acompanhadas por queijos da região e enchidos, fazendo do magusto uma verdadeira experiência gastronômica.

Hoje em dia, as festividades também incluem atividades modernas, como feiras e apresentações musicais, para atrair um público maior e integrar a tradição à vida urbana. Dessa forma, o magusto permanece relevante e atrativo, mesmo nas grandes cidades.

Magustos e o Turismo Rural

Os magustos têm-se tornado também um atrativo turístico em várias regiões de Portugal.

Em áreas rurais, o evento é promovido para atrair visitantes e permitir que eles vivenciem a cultura local.

A celebração é uma oportunidade para que os turistas conheçam as aldeias, as paisagens e os costumes, interagindo com a comunidade e saboreando as castanhas e o vinho diretamente da fonte.

As agências de turismo rural organizam pacotes para que visitantes possam participar de magustos autênticos, experimentando o melhor da gastronomia regional e da hospitalidade portuguesa.

Esses eventos rurais, muitas vezes realizados em quintas vinícolas, oferecem aos visitantes a oportunidade de aprender sobre o cultivo das castanhas e a produção do vinho, criando uma conexão mais profunda com o território.

Em várias quintas, os turistas são convidados a participar da colheita e preparação das castanhas, vivenciando o processo completo do magusto.

O valor cultural e social dos magustos em Portugal

O magusto é muito mais do que uma festa: é um momento de preservação da cultura e dos laços entre as gerações. Ele resgata um estilo de vida que valoriza a simplicidade, a natureza e a união familiar, em um mundo que, muitas vezes, é marcado pela pressa e pela desconexão das tradições.

Cada castanha assada representa o esforço e o trabalho das comunidades agrícolas, e cada copo de vinho novo é um brinde ao futuro e à esperança.

Para muitas pessoas, o magusto é uma memória de infância que evoca nostalgia e felicidade. Famílias, amigos e vizinhos reunidos ao redor da fogueira, contando histórias e rindo juntos, representam uma imagem clássica de comunhão e solidariedade.

Nas escolas, professores incentivam as crianças a celebrar o magusto, ensinando-lhes a importância das tradições e da cultura local.

Além disso, o magusto é um símbolo de identidade regional. Num país de grande diversidade cultural, a celebração do magusto reflete as particularidades de cada região, mas também reforça a ideia de uma identidade comum. Seja no interior, nas cidades ou nas regiões costeiras, o magusto é uma tradição que une os portugueses e celebra a generosidade da terra.

Em suma, a tradição dos magustos em Portugal é um verdadeiro património cultural, que se mantém viva e relevante através das gerações. Seja em pequenas aldeias ou nas grandes cidades, o magusto é um evento que traz calor e alegria para todos, celebrando a chegada do outono e fortalecendo os laços que unem as comunidades.

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