Durante as escavações na gruta de Millán, em Burgos, uma equipa internacional de investigadores descobriu vestígios de uma cultura que viveu na Península Ibérica entre 45.000 e 43.000 anos atrás. Os cientistas chamaram-lhe Arlanziense.
Universidade de Valladolid - Imagem do interior da Cueva Millán, na província de Burgos. |
O sítio arqueológico conhecido como Cueva Millán acaba de revelar importantes novidades sobre um povoamento humano na Península Ibérica. Numa gruta situada no desfiladeiro do rio Arlanza, perto da localidade de Hortigüela, na província de Burgos, uma equipa multidisciplinar de investigadores liderada por Policarpo Sánchez Yustos, professor do Departamento de Pré-História da Universidade de Valladolid, acaba de descobrir uma cultura até agora desconhecida, datada entre 45.000 e 43.000 anos atrás.
Em apenas dois metros quadrados, foram encontradas 2.500 peças de indústria lítica fabricadas por antigos humanos, uma indústria caracterizada por uma produção padronizada de pequenos projécteis de pedra para a caça.
De acordo com os investigadores, a Arlanziense – assim baptizada numa clara alusão ao local da sua descoberta – tem muitos paralelos com as culturas materiais que mostram a presença dos primeiros Homo sapiens na Europa (Paleolítico Superior), embora até agora nunca tivessem sido documentadas na Península Ibérica.
Publicada na revista Scientific Reports, uma nova investigação revela algumas das chaves da transição do Paleolítico Médio para o Paleolítico Superior, que teve lugar entre 50.000 e 40.000 anos atrás, e aprofunda a assimilação gradual dos Neandertais pelo Homo sapiens, uma espécie humana (a nossa) que trouxe consigo tecnologias mais complexas e, como consequência, causou o desaparecimento das indústrias líticas dos Neandertais.
Uma origem desconhecida
“A definição de uma nova tradição cultural é um acontecimento verdadeiramente excepcional e real. A última vez que se definiu uma tradição cultural ligada a este período foi há vinte anos. Para um pré-historiador, a descoberta de uma nova cultura é como a descoberta de uma nova espécie para um paleoantropólogo”, declarou Policarpo Sánchez, entusiasmado.
Até ao aparecimento da cultura Arlanziense, o início do Paleolítico Superior na Península Ibérica era definido por um pequeno grupo de sítios situados no norte que continham vestígios materiais das culturas Aurignaciana e Chatelperronense, entre 43 000 e 40 000 anos atrás. O fim do Paleolítico Médio é marcado pela cultura Musteriense, que desapareceu gradualmente de norte a sul entre 45.000 e 37.000 anos atrás.
Manuel Rojo (Universidade de Valladolid) - Imagem de alguns dos projécteis de sílex recuperados no interior da Cueva Millán. |
Os resultados desta investigação redefinem a origem do Paleolítico Superior na Península Ibérica: a cultura Arlanziense substitui as culturas Aurignaciana e Chatelperronense como testemunhos mais antigos deste período, e o interior da península passa a ser a região que apresenta os testemunhos mais antigos do Paleolítico Superior, em vez da faixa norte.
Após esta descoberta histórica, os investigadores começaram a colocar uma série de questões importantes, como quem foram os criadores da indústria arlanziense, se os últimos Neandertais ou os primeiros Sapiens. Interrogam-se também sobre a origem desta cultura e se foi o resultado de um fenómeno migratório, da interacção entre diferentes grupos ou de uma evolução local independente. “O que é certo é que os grupos Arlanzienses coexistiram com grupos Neandertais próximos que mantiveram tradições do Paleolítico Médio”, conclui o estudo.
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