Enquanto raça autóctone representa um importante valor do património rural do País. O porco bísaro resiste há séculos, sobretudo acima da linha do rio Tejo.
Actualmente está disperso por 32 concelhos em regiões como Trás-os-Montes, Minho, Beira Litoral, Beira Interior, Ribatejo. Mais recentemente no Alentejo. Foi, contudo, em Vinhais, distrito de Bragança, que «tudo começou» e onde as dificuldades de promoção e manutenção do porco bísaro são muitas. Um alerta que chega da Associação Nacional de Criadores de Suínos de Raça Bísara que também aponta o dedo a alguma restauração que aproveita injustamente a designação bísaro para fazer concorrência desleal e injusta.
Pedro Fernandes, da Associação Nacional de Criadores de Suínos de Raça Bísara (ANCSUB), explica ao Café Portugal que, enquanto raça autóctone, o porco bísaro tem marca «nacional» não sendo exclusivo da zona de Vinhais.
A definição de Bísaro nasceu nas províncias do centro e norte do país e foi dada ao «porco esgalgado pernalto e de orelhas pendentes para se distinguir do porco roliço e pernicurto do Alentejo».
No concelho de Vinhais a importância deste porco é «fundamental e estratégica», uma vez que «serve de alavanca impulsionadora de uma gastronomia que se quer de qualidade, com produtos hoje em dia tão conhecidos e apreciados como são os enchidos da região».
O responsável refere, por isso, ser «importante a sua preservação como património nacional». «Este não se limita aos museus, igrejas e monumentos. Portugal tem uma grande riqueza genética que não se pode perder», considera.
Realça que a conservação da raça bísara «encerra, em si própria, um “serviço ecossistémico”», já que «contribui para a dinamização do meio rural, diversificação da paisagem rural, riqueza nutricional dos seus produtos, preservação das tradições e enriquecimento da cultura gastronómica na nossa região e país».
Pedro Fernandes recorda que a própria Política Agrícola Comum e as suas últimas reformas «abriram portas para que os sistemas de produção animal tradicionais tenham o seu espaço, porque vão de encontro ao que o consumidor mais valoriza, ou seja, alimentos seguros, bons, naturais e ambientalmente sustentáveis».
«Foi com base nestas premissas que foram criadas as Denominações de Origem Protegidas (DOP) e Indicações Geográficas Protegidas (IGP), para proteger alimentos com características próprias, de qualidade reconhecida e com garantia da origem geográfica», sublinha.
Pedro Fernandes afirma que devido a «vários condicionalismos, a certificação dos produtos resultantes da raça bísara não tem tido grande expressão». Tudo, esclarece, porque «há muita dificuldade e uma certa impotência de alargar mercados, procurando nichos que verdadeiramente valorizem estes produtos».
«Há falta de formação profissional, um grande desconhecimento, por parte dos consumidores, do que são estes produtos IGP e DOP e, talvez o maior problema, a falta de organização da fileira, que deveria ter uma orientação vertical, com todos os intervenientes a trabalhar em uníssono, o que não acontece», critica.
Em 2009, informa, foram qualificadas as seguintes quantidades de produto transformado: Salpicão de Vinhais IGP: 625 kg; Chouriça de Carne de Vinhais IGP: 2000 kg; Alheira de Vinhais IGP: 9960 kg; Butelo de Vinhais IGP: 300 kg; Chouriço Azedo de Vinhais IGP: 400 kg; Chouriço Doce de Vinhais IGP: 130 kg.
O processo foi iniciado em 1995, mas só em 1998 foi atribuída a Indicação Geográfica Protegida ao Salpicão de Vinhais (IGP) e Chouriça de Carne de Vinhais (IGP).
Mais recentemente, em 2008, foi atribuída a IGP à Alheira de Vinhais, Chouriço Azedo de Vinhais, Butelo de Vinhais, Chouriço Doce de Vinhais e Presunto de Vinhais. Também em 2008 foi dada a DOP à Carne de Porco Bísaro Transmontano.
Fraudes
Pedro Fernandes admite que a raça bísara não tem tido o «reconhecimento que merece». «Muito por causa das fraudes, um pouco à semelhança do que acontece com o porco alentejano, em que os consumidores são enganados com a denominação porco preto, que não existe», frisa.
«Relativamente ao bísaro temos notado que há muitos agentes da área da restauração, que se aproveitam injustamente do nome, o que faz com que haja uma concorrência desleal muito negativa e prejudicial, que faz com que alguns criadores abandonem a criação desta raça», afirma.
E reconhece que a carne de porco bísaro «ainda é um produto sem expressão no mercado». «Ainda não há agentes económicos interessados em dinamizar este produto, o que lamentamos, porque é um produto de muita qualidade. O leitão sim, a sua produção tem aumentado bastante, para atender a novos clientes, principalmente a restauração que, cada vez mais procura este produto», salienta.
A associação estima que, em 2009, foram abatidos cerca de 5000 leitões para consumo. Quanto a porcos de engorda, garante que foram abatidos cerca de 800, dos quais só cerca de 200 foram transformados em enchidos com IGP.
Quanto aos apoios à produção, Pedro Fernandes refere que «são manifestamente insuficientes». «Estão restringidos às chamadas Medidas Agro-ambientais para a manutenção da biodiversidade doméstica. Este apoio resume-se a um montante de 170 euros por cabeça normal. Com o PRODER surgiu mais um apoio aos chamados Regimes de Qualidade, que atribui um montante de 23 euros por cabeça normal», adianta.
Recorde-se que há actualmente cerca de 1286 fêmeas e 200 machos, espalhados por 93 explorações, situadas nas regiões de Trás-os-Montes e Minho, encontrando-se a maioria das explorações no concelho de Vinhais.
De referir ainda que a ANCSUB nasceu em 1994 e, entre muitos dos objectivos que estabeleceu para preservar a raça bisara, tem como objectivo a dinamização da criação de suínos de raça bisara e proteger toda a raça nas mais variadas vertentes.
Ana Clara; Fotos - ANCSUB
in:cafeportugal.net
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