Aos jovens que participaram no Encontro Mundial de Luso-descendentes, que «O Emigrante/Mundo Português» realizou entre 4 e 6 de abril com o apoio da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, foi colocada uma questão: “O que significa Portugal para si”?
As respostas mostram uma ligação pais e avós souberam transmitir e os mais jovens quiseram manter.
Renata Caetano vê Portugal como a sua “segunda casa”. “Portugal é um símbolo, é a minha herança familiar”, sublinhou a jovem, natural do Rio de Janeiro, Brasil, cuja família é oriunda de Celorico da Beira.
Veio ao Encontro Mundial de Jovens luso-descendentes deste ano com a expectativa de conhecer luso-descendentes de outros países e fazer novas amizades. Com ela veio o marido, Eduardo Caetano, com avós são naturais de Bragança, mas cuja ligação a Portugal começou verdadeiramente, quando conheceu e se casou com Renata, uma apaixonada confessa pelo país, que o casal visita pelo menos uma vez por ano.
Esta foi a quinta visita de Anthony Castro a Portugal. O pai, Tony Castro, natural de Ílhavo, chegou aos Estados Unidos com apenas dez anos e, apesar de nunca esquecer o português, não foi em casa que o filho começou a falar a língua paterna.
Anthony Castro, que nasceu em Nova Iorque acabou por aprender a língua de Camões com amigos brasileiros, no clube de futebol onde joga.
E apesar do receio de não se conseguir fazer compreender, foi em português que respondeu às perguntas do Mundo Português e revelou os planos de realizar um Mestrado em Estudos Portugueses. Sobre o país do seu pai e avós, o jovem que pretende seguir uma carreira no Direito Criminal não hesita em afirmar que “é único”.
“Não tenho muitos amigos portugueses em Nova Iorque, mas tenho família em Portugal. É um país único e acompanho sempre de perto a seleção nacional de futebol”, contou a este jornal.
“Sentir” Portugal de forma diferente
Mário Lopes nasceu em Portugal e foi só aos 15 anos que emigrou para a Alemanha, a acompanhar os pais e a irmã. A ideia da família era “ficar la por pouco anos e regressar a Portugal”, revelou, mas esse foi um objetivo que, para já, ficou para trás. Aos 33 anos, é em Mainz que vive e trabalha, apesar de vir a Portugal com frequência. “Venho quase todos os anos fazer um estágio com a equipa de futebol UDP de Mainz e venho também com a família”, conta o jovem que confessa ter passado a “sentir” Portugal de forma diferente, depois de ter emigrado. “Fez-me ter outra relação com o país. Tenho orgulho em ser português, defendo sempre o meu país e imagino-me a voltar. Mas neste momento, a Alemanha dá-me melhores possibilidades de trabalho e uma melhor qualidade de vida”, confessa Mário Lopes que diz ter “adorado” o Encontro pela “oportunidade de conhecer locais que de outra forma não conheceria”, referindo-se à visita guiada feita pelos jovens à Assembleia da República na companhia da deputada Maria João Ávila, ao encontro com o secretário de Estado das Comunidades, na Sala do Protocolo do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e ainda à visita aos jardins e ao Palácio de Belém, sede da Presidência da República.
Marcelo Rocha, natural do Recife, Brasil, não é descendente de portugueses, mas tal não significa uma ausência de ligação a Portugal. Pelo contrário. “Frequento o Clube Português do Recife e sou professor de Geografia num colégio privado que pertence a um português, explica o docente para quem esta primeira viagem a Portugal foi a concretização de “um sonho antigo”. “Nas minhas aulas falo de Portugal, quando ensino a geografia da Europa, entre outras matérias. E de repente, estar num local do qual costumo falar, é uma realização pessoal”, revela o professor que pretende vir a dinamizar um intercâmbio entre os seus alunos do Invest Centro Educacional e escolas em Portugal.
Também do Brasil veio Guilherme Romão, de raízes madeirenses - o pai é natural do Machico -, e que tinha estado em Portugal apenas em 2010, no âmbito de uma viagem por alguns países da Europa. “Não tinha voltado ao país e esta foi a oportunidade certa”, contou ao Mundo Português, confessando ainda a vontade de “viver em Portugal por um tempo”. Além de permitir o regresso a Portugal, o encontro foi para Guilherme a oportunidade de “conhecer jovens luso-descendentes e outros países e perceber qual a sua ligação ao país”.
Sinónimo de “raízes”
A ligação de Célio Moreira a Portugal é diferente, já que o jovem nasceu no país e emigrou para a Holanda com 20 anos. Quase 16 anos depois, este filho de uma portuguesa de Leiria e de um cabo-verdiano da Ilha de Santiago, emigrou “por escolha pessoal”. Foi sozinho para a Holanda, lá licenciou-se em Engenharia Informática “sempre com a motivação de voltar para Portugal”. Mas com dois filhos nascidos na Holanda, e Portugal mergulhado numa crise económica, este é um objetivo cada vez mais difícil de concretizar, apesar de ter cá praticamente toda a sua família. “Quando uma pessoa vive fora de Portugal, valoriza todo muito mais: a cultura, os valores. A identidade e o amor por Portugal estão sempre presentes e até se acentuam mais pela saudade que sentimos do país”, assegura Célio Moreira que afirma a sua crença na recuperação do país. Para o português, o Encontro permitiu-lhe durante três dias trocar ideias e experiências “com pessoas dinâmicas, voltar a “respirar” Portugal e regressar à Holanda com novas amizades.
Como Célio, Elisa Rodrigues também nasceu em Portugal. Emigrou para a Alemanha com os pais aos 15 anos e a família instalou-se na cidade de Mainz. A trabalhar na área da Gestão Industrial, já abriu uma firma e embora ainda esteja em fase de projeto, o objetivo é a venda de artesanato português no estrangeiro. Elisa afirma a vontade de regressar a Portugal, porque as saudades de tudo um pouco falam mais alto. “Tenho saudades das pessoas. Aqui as pessoas são mais abertas, mais atenciosas. E tenho saudades do clima, o ar é mais puro”, explica.
Elisa não é a única a pensar mudar-se para Portugal. De um país mais distante, Jennifer Beato viu no Encontro uma “oportunidade única” para visitar lugares que tinha “muita curiosidade em conhecer”, como a Assembleia da República. Para esta filha de portugueses, nascida nos Estados Unidos e “criada” dentro do movimento associativo português em Wonkers, no estado de Nova Iorque, foi “um orgulho” estar em Portugal, país que afirma adorar. “Adoro a maneira de viver em Portugal. Não é tão ‘material’. Nos Estados Unidos estamos sempre a trabalhar ou em casa. Aqui há muito mais convívio, as pessoas estão umas com as outras”, explicou Jennifer Beato que diz andar sempre a afirmar que quer “viver em Portugal”. “A minha mãe tem casa na zona do Porto e eu gostava de abrir aqui um negócio, ter uma quinta e dar-lhe um ‘toque’ americano”, sonha a jovem.
Novos amigos foi o que encontrou Christopher Lopes, de 22 anos, natural de Paris, França, num Encontro onde aprendeu “muitas coisas sobre Lisboa e também sobre Portugal”. Tão importante como visitar lugares que de outra forma seriam inacessíveis, foram “as amizades com luso-descendentes de outros países, alguns tão distantes, que têm as mesmas raízes mas vêm de culturas e vivências diferentes”, contou a este jornal. Filho de um beirão de Aveiro e de uma transmontana da região de Chaves, Christopher diz que Portugal é sinónimo de “raízes”. Vem geralmente duas vezes por ano, tenta sempre conhecer um pouco mais do país que trás “no sangue” e defende: “não podemos esquecer as nossas origens”.
Também de França, mas da cidade de Bordéus, José Ângelo veio ao Encontro Mundial de Jovens luso-descendentes porque achou interessante a iniciativa, que considerou uma forma de “manter os laços com o país”, apesar de já conhecer Lisboa. Disse ainda ter sido uma oportunidade de
“monumentos e instituições importantes”, locais que “não poderíamos ver normalmente”. “Vinha sempre de férias a Portugal e continuo a vir, mas agora mais por conta do meu trabalho”, explicou o jovem advogado cujos pais são da zona da Ericeira/Mafra e os avós e Braga. Sobre o que sente em relação ao país dos seus pais, Ângelo assegura que “significa muita coisa”. “Significa as minhas origens e mesmo a viver noutro país, não me esqueço quem sou e de onde venho”.
“Ambiente diferente”
Com pais naturais de Silgueiros e Sabugosa, no concelho de Viseu, Nuno Coimbra já nasceu em Estugarda, Alemanha, mas todos os anos, nos verões e algumas vezes no Natal, vem a Portugal. “Eu gosto de vir sempre para cá, aqui tenho quase toda a minha família, só estou na Alemanha com os meus pais”, explicou. Nuno organiza o evento «Destination PT», que realiza noites portuguesas em discotecas de oito cidades alemãs, e trabalha na multinacional Schindler. Diz que se consegue imaginar a trabalhar na filial daquela empresa em Portugal. “Eu conseguiria viver aqui, e a minha empresa propôs-me ajudar a pagar os estudos superiores na Alemanha, na área da Engenharia, com a possibilidade de depois me enviar para a Schindler Portugal. Seria muito bom”, contou ao Mundo Português. E o que o faz gostar de Portugal? “As pessoas, o convívio cá, que é muito melhor do que na Alemanha”, um “ambiente diferente”, relações mais “amistosas” e “carinhosas” entre as pessoas é o que diz encontrar em Portugal.
Ao contrário do Nuno, Jordan Leal nunca tinha estado em Portugal e o Encontro permitiu-lhe concretizar uma vontade antiga. A mãe emigrou para os Estados Unidos e soube transmitir à filha uma ligação que levou Jordan a interessar-se particularmente por tudo o que esteja ligado à história do país. “É a primeira vez em Portugal e foi muito especial. Adorei o passeio por Lisboa antiga e a ida ao Castelo de S. Jorge”, contou a jovem estudante de enfermagem que não põe de parte a hipótese de “vir trabalhar em Portugal e, quem sabe, até estudar cá Medicina”. “Sempre quis vir a Portugal e esta era uma oportunidade que não podia perder”, assegurou.
Já Inês de Carvalho, 18 anos, está no Luxemburgo desde os sete. A família é natural de Lisboa, cidade onde regressou no início deste mês, integrada no Encontro Mundial de Jovens, que lhe permitiu “visitar locais de referência que não estão ao alcance da maioria dos portugueses, como a Assembleia da República, o interior do Ministério dos Negócios Estrangeiros e o palácio sede da Presidência da República”. Vem todos os anos a Portugal e diz adorar descobrir “as suas diferentes regiões”. E confessa: “apesar do melhor nível de vida que temos no Luxemburgo, o coração está sempre em Portugal”.
Também natural do Luxemburgo, Magali Borges, 19 anos, diz que se sente melhor em Portugal. Com pais naturais de Pedras Salgadas, esta estudante de Educação Social pretende vir a trabalhar com crianças com deficiência, diz que apesar do nível de vida no Luxemburgo ser superior, é em Portugal que se sente melhor. “Quando venho a Portugal fico mais pela região norte, pela terra dos meus pais, mas Portugal é lindo de Norte a Sul”, afiança.
“A minha segunda terra”
Romina Romão, natural de Buenos Aires, Argentina, também está permanentemente “ligada” a Portugal, apesar da distância. Frequenta a Casa de Portugal Virgem de Fátima, onde integra o rancho folclórico. Com avós naturais do Algarve, em 2013 concretizou o sonho de conhecer Portugal, com a vinda do rancho, que atuou em várias cidades do país durante 15 dias. Agora, foi com Encontro Mundial de Jovens luso-descendentes que pode voltar ao país dos avós, desta vez para conhecer Lisboa. De tudo o que já viu, ficou-lhe a impressão de “um país muito bonito, com uma variedade de paisagens, muito seguro e com pessoas simpáticas”. Afetivamente, Portugal já era especial por ser o país da sua família, das suas raízes, algo “que o torna muito importante”.
Já Helder Fernandes tinha nove anos quando emigrou com os pais e está atualmente a tirar um curso de Eletricidade. Tem 20 anos, os pais são minhotos, naturais de Barcelos, e foi ai que nasceu. O Encontro proporcionou-lhe “uma experiência única e a possibilidade de conhecer luso-descendentes como ele, mas vindos e países muito diferentes. Mas permitiu-lhe ainda algo especial: regressar a Portugal. “Adoro Portugal, adoro o Norte, mas este encontro está a proporcionar conhecer locais de Lisboa. No fundo, somos todos portugueses e com muito amor a Portugal, mesmo vivendo em diferentes países”.
Juan Manuel Gonçalves, como Romina Romão, também integra o rancho folclórico da Casa de Portugal Virgem de Fátima, em Buenos Aires, uma associação à qual os pais estão ligados desde a fundação. O jovem com raízes algarvias - de Vale da Rosa e Boliqueime - também tinha estado em Portugal apenas no ano passado, na tournée do rancho, e foi nessa altura que pode conhecer a família no Algarve, um momento que considerou “muito emocionante”. “Não conhecia ninguém da minha família cá, por isso foi um momento muito especial”, recordou Juan Manuel a este jornal, acrescentando que viu no Encontro Mundial de Jovens deste ano, a possibilidade de conhecer Lisboa e contatar outros luso-descendentes. Foi ainda a oportunidade de voltar a um país que “significa muito” para este-lusodescendente, por tudo o que os pais lhe transmitiram. “É um orgulho estar em Portugal. Na Argentina, os meus pais são portugueses, mas em Portugal são ‘os argentinos’, há o sentimento de nãos erem nem daqui, nem de lá. Então, para mim, foi muito importante vir cá e sentir-me parte de Portugal”, revelou. “Sinto que Portugal é a minha segunda terra”.
Ana Grácio Pinto
Com Ana Rita Almeida e António Freitas
in:mundoportugues.org
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