Em 02.VII.1890 a Câmara Municipal de Bragança remete às Côrtes uma representação assinada pelo seu presidente Manuel Maria de Morais Azevedo onde, dirigindo-se aos deputados da nação portugueza e após lembrar que todas as capitais de distrito já gozam dos benefícios da viação accelerada, que tanto tem feito progredir o commercio, a industria e a agricultura por ella servidas se achava aquela cidade igualmente capital de distrito, sede episcopal, aquartelamento de dois regimentos e centro de uma vasta região de grandes aptidões agrícolas e minerais inhibida de gosar tão importante systema de locomoção e tão rapido meio de transporte, rogando que se construísse a linha de Foz-Tua em prolongamento de Mirandella a esta cidade e a do Pocinho a Miranda do Douro, bifurcando-se para esta cidade nas proximidades de Vimioso (DG 1890a), petição de igual teor que repete a 10 do mesmo mês e ano (DG 1890c).
Somente 9 anos após estas iniciativas, com a carta de lei de 14.VII.1899, numa reorganização do caminho-de-ferro do Estado e com a criação do supracitado Fundo Especial, é o Governo autorizado a construir, por etapas, a cargo da Companhia Nacional de Caminho de Ferro, a linha de Mirandela a Bragança, cujo concurso o conselho de ministros resolve abrir já no novo século (4.VI.1901) mas que tem de aguardar mais um ano para que possa ser realizado (14.II.1902) devido à burocracia. Foi João Lopes da Cruz o único concorrente mas complicações suscitadas por Leon Cohen procurador da firma Zagury obrigam a novas formalidades legais e consequentemente novo concurso, realizado a 15.IV.19024, sendo a adjudicação feita àquele empreiteiro com a garantia de 4,5% em relação ao custo por km de 25:990$000 réis, contrato este definitivamente aprovado por carta de lei de 24 de Outubro desse mesmo ano e cujo trespasse de concessão para a Companhia Nacional de Caminho de Ferro uma portaria de 30.VI.1903 autoriza (CP 2002; ALVES 1975-1990, IX, 226-227; CRUZ 1906).
Foi este trespasse inevitável por não ter J. L. da Cruz conseguido os recursos financeiros suficientes para iniciar a obra no prazo contratual de 3 meses, prazo este prorrogado por outro tanto tempo (despacho de 7.I.1903) e novamente por mais 6 meses (20.III.1903); o termo público desse trespasse data de 23 de Setembro seguinte, ficando ele com a empreitada geral cujos trabalhos foram dirigidos pelo eng.º Manuel Francisco da Costa Serrão, ambos financeiramente arruinados no final da obra (ALVES 1975-1990, IX, 229).
São estes trabalhos de construção finalmente e solenemente inaugurados a 20.VII.1903 na cidade de Bragança, no campo de Santo Antonio e no local previamente designado para a estação do caminho de ferro a terminar n’esta cidade, no qual compareceram as autoridades locais e regionais e muito povo (ALVES 1975-1990, VII, 618-629). É o projecto para a construção dos edifícios da estação da capital do Distrito apresentado pela Companhia Nacional, aprovado por portaria de 25.II.1905, após a declaração de utilidade pública na expropriação urgente de várias parcelas de propriedades sitas na freguesia da Sé (CP 2002; DG 1904).
E a via-férrea avança em direcção a Bragança, sucedendo-se as inaugurações. Em 02.VIII.1905 procede-se à abertura da exploração do troço entre Mirandela e Romeu e a 15.X.1905 o mesmo acontece com o de Romeu a Macedo de Cavaleiros.
E no dia seguinte a vila de Macedo de Cavaleiros assiste à Inauguração da linha de Mirandella a Macedo, acontecimento noticiado na edição do “Primeiro de Janeiro” de 17.X.1905: …partindo o primeiro comboio para Mirandella ás 8 horas da manhã. N’um comboio de serviço, chegado ás 6 da manhã, vieram 150 pessoas de Mirandella, que depois partiram no comboio inaugural. À partida d’este, houve musica, foguetes e numerosos vivas, estando mais de 3:000 pessoas no recinto da estação, que estava vistosamente ornamentada e embandeirada.
O comboio de Mirandella chegou às 7 da noute, estando mais de 5:000 pessoas no recinto da estação, brilhantemente illuminada, e assistindo todas as senhoras da villa.
A musica tocou o himno nacional; queimaram-se muitas girandolas de foguetes e levantaram-se entusiasticos vivas a todos os promotores do caminho de ferro, á empreza Lopes da Cruz, á Companhia Nacional, ao distintissimo ingenheiro sr. Serrão, e aos srs. Azevedo, Verissimo, etc.
Á noite a villa esteve brilhantemente illuminada, distinguindo-se pelo seu belo effeito, a secretaria da construcção e a torre da egreja.
A estação é insignificante para o movimento que deve ter (PJ 1905).
Entrementes sabemos que a edilidade brigantina deliberara pedir ao governo que, pelo fundo das receitas destinadas a obras de caminhos de ferro, faça construir uma avenida parallela á rua do conde de Ferreira, que ligue esta cidade com o caminho de ferro agora em construcção, considerando-a de grande utilidade (PJ 1905a,).
E os carris aproximam-se do objectivo, abrindo à exploração pública o lanço compreendido entre Macedo e Sendas a 18.XII.1905, o mesmo acontecendo entre Sendas e Rossas a 14 de Agosto do ano seguinte, não olvidando que neste interim (12.V.1906) se inaugurou a Linha da Régua a Vila Real cujas obras seguiam paralelamente (CP 2002).
Ouviu-se o silvo da locomotiva na cidade de Bragança, pela primeira vez, na tarde do dia 26.XI.1906 (PJ 1906, 3), mas só ao meio-dia e meia do 1.º de Dezembro desse mesmo ano chegou à cidade o primeiro combóio inaugural, recebido com delirante entusiasmo, cinquenta anos depois de ter apitado em Lisboa, como recordou o Abade de Baçal (ALVES 1975-1990, IX, 229).
Carlos d’Abreu, 2006/2007
in:ocomboio.net
CONTINUA...
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