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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

As Transformações do Espaço Urbano de Bragança Contemporânea

Um morro circular, protegido do lado de Sul pelo vale profundo do pequeno Rio Fervença, oferecia possibilidades excecionais de proteção. Bragança estendeu-se no sopé da eminência fortificada e entra assim, pode dizer-se, na categoria das cidades duplas.

(Vergílio Taborda, Alto Trás-os-Montes, 1932)

A representação cartográfica mais antiga a oferecer-nos a possibilidade de compreensão do tecido urbano da Cidade de Bragança deve-se à mão de um engenheiro militar que integrava o exército espanhol do marquês de Cevallos, o mesmo que em 1762 chefiou a invasão de Trás-os-Montes. Criteriosamente, o anónimo engenheiro militar que servia Carlos III registou a estrutura da Cidade, salientando os modos de articulação entre as diferentes zonas. E, como era seu escopo, apontou os principais elementos com interesse militar, o Castelo, o Forte de S. João Baptista e alguns segmentos da grande barreira exterior, empreendimento lançado no período moderno, em contexto de crise internacional, com a presunção de se garantir a defesa de pessoas e bens que, havia muito tempo, se vinham conglomerando no exterior dos muros que envolviam o castelo.

Bragança Medieval (Desenho de Duarte d’Armas) Planta antiga da Cidade de Bragnça,
com os limites da “Vila“ e da “Cidade”

Estas obras ofereciam segurança mas tinham grandes implicações pelos encargos financeiros que representavam e ainda pelos constrangimentos que exerciam, de forma mais ou menos duradoura, sobre o espaço urbano. Contudo, na altura daquela invasão, já o grande perímetro defensivo apresentava chagas de alguma importância, as quais o exército castelhano se empenhou em aumentar com o intuito de anular o seu préstimo militar. Ainda assim, a linha das barreiras e estacadas continuaria a cingir uma treliça urbana que só nas duas centúrias seguintes aceitaria alterações significativas à sua relativa estabilidade.
Num tempo em que os valores do Iluminismo progrediam em toda a Europa, alguma cartografia mostra as barreiras das cidades a perderem o sentido por terem variado as finalidades que ditaram a sua construção. Em todo o caso, imaginamos que o seu estado de ruína poderia ser fonte de inquietações em espíritos temerosos de algum dia poderem ser confrontados com os custos inerentes a orientações reedificadoras. Mas, progressivamente, as muralhas passaram a ser olhadas pela maioria dos contemporâneos como construções anacrónicas, fonte de problemas diversos e um obstáculo ao crescimento da cidade. Daí o seu abandono, a ruína e o investimento na destruição das cinturas defensivas, tanto mais que à apropriação do espaço libertado se juntava a cobiça pelos materiais que ficavam disponíveis e capazes de reutilização. Assim se esboçaram novos eixos de circulação e a paulatina formação de novas fiadas de casario.
Contudo, importa sublinhar que a Cidade de Bragança, nos finais dos tempos modernos, dispunha no seu âmago de espaços livres que em algumas conjunturas podiam dar saída a eventuais necessidades de crescimento.
Por esta razão – ao contrário do que aconteceu na parte final do século XVII –, não se identificaram evidências de quaisquer tipos de pressão que obrigassem o casario a ocupar os solos localizados no exterior das antigas muralhas.
O relativo desafogo espacial podia não ser da índole do que, durante a segunda metade do século XVIII, possibilitou que o edifício do Paço Episcopal tivesse evoluído no sentido linear, definindo grandemente o alinhamento da antiga Rua do Espírito Santo. Mesmo o crescimento em altura num arruamento de grande importância comercial como era a Rua Direita, não saiu dos limites da moderação, facto que permite a conclusão de que nestes dois arruamentos, os mais importantes da Cidade, o perfil da casa burguesa só muito vagarosamente definiu os seus valores, assumindo-os ao longo do século XIX e afirmando-os nas décadas iniciais do seguinte.
Por outro lado, a definição de Rafael Bluteau para a “praça” – elemento essencial no urbanismo ocidental – continuaria a ter validade. Historicamente, o crescimento urbano de Bragança e a inscrição de novas transformações sempre foram acompanhadas pela afirmação na hierarquia urbana de um novo rossio ou largo que se situava sempre na adjacência de uma construção religiosa significativa. A largueza de espaço devia ser capaz de responder às principais necessidades do quotidiano mas também se lhe exigiam aptidões para ocorrências e funções que iam da feira ao sermão e à turbulência dos ajuntamentos em datas festivas. Quando o pulsar evolutivo era fortemente orgânico, a praça afirmou-se com naturalidade como o espaço estruturante do conjunto citadino.
Por estas razões, faz sentido enfatizar o papel da Praça da Sé, e a sua articulação com a Rua Direita e com a antiga Rua do Espírito Santo. Sendo certo que à medida que a Praça da Sé, beneficiando também do facto de ser complementada pelo Rossio das Eiras do Arcebispo, ganhava importância para disputar o prestígio que laureava a Praça de S. Vicente, a Cidade só muito lentamente se afastou das zonas mais antigas porque, como a construção do Banco de Portugal iria comprovar, os laços vivenciais com essas áreas continuavam muito fortes.

Antiga agência do Banco de Portugal em Bragança

Assim, para se verificar uma significativa alteração das lentas repetições, seria necessário esperar pela primeira década do século XX, quando o acontecimento da chegada do comboio a Bragança aprofundou a compreensão sobre alguns dos ideais de progresso que com tanta insistência campeavam no discurso oitocentista sobre a coisa pública. Ao mesmo tempo, abriu-se uma nova fase na expansão urbana.
Neste capítulo, para além das transformações urbanas sentidas por Bragança na Época Contemporânea, iremos abordar ainda a arte urbana de Bragança ao presente, através da sua escultura.

Título: Bragança na Época Contemporânea (1820-2012)
Edição: Câmara Municipal de Bragança
Investigação: CEPESE – Centro de Estudos da População, Economia e Sociedade
Coordenação: Fernando de Sousa

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