O mundo ainda tentava refazer-se da tragédia que fora a II Guerra Mundial quando Artur cá chegou, para uma vida que terminou, inesperadamente, quase 74 anos depois, numa cama dos serviços de urgência do hospital de Bragança.
O menino Arturinho nascera numa família da burguesia rural com peso social, económico e político em Vila Flor, onde o seu pai, médico, cuja memória prevalece entre o povo, presidiu à câmara municipal antes da mudança de regime ocorrida em 1974. Veio a licenciar-se em Direito, depois de uma passagem pela Escola do Magistério Primário de Bragança.
O serviço militar, como oficial, levou-o até à Guiné, o nosso inferno dos tempos do fim do império, experiência que enquadrou numa sólida cidadania pragmática, orientada por princípios e ideais que cultivou até ao fim, sem fascínios de aventura, mas sempre distante da acomodação à fatalidade de um destino lúgubre para esta sua e nossa terra.
Assumiu responsabilidades da administração do Estado no distrito, nos sectores da segurança social e da saúde. Ainda foi chamado a Lisboa, para dirigir o hospital D. Estefânia, mas quis voltar para se candidatar à câmara da sua Vila Flor.
Durante 20 anos conduziu os destinos do concelho, promovendo o diálogo com as forças da oposição e movendo-se junto do poder central com persistência e firmeza, assumindo rupturas quando considerou inevitável.
A parcimónia na utilização dos recursos públicos granjeou-lhe respeito generalizado e era fácil ouvir falar de um presidente da câmara pouco dado a espalhafatos para patego ver. Nesses vinte anos a vila ficou com estruturas culturais marcantes, renovou património religioso e deu passos importantes para o crescimento das produções agrícolas e da comercialização de produtos de qualidade, reconhecida no país e no estrangeiro.
A simplicidade e franqueza com que lidava com os conterrâneos garantiram-lhe repetidas vitórias eleitorais. Gostava de ouvir e abraçar as pessoas, partilhar lágrimas e dores, falar com elas no largo da aldeia, na praça da vila, à mesa do café ou nos Paços do Concelho, sem altivez, sempre com os sentimentos à flor da pele. Quando, em 2013, deixou a presidência da câmara, aceitou presidir à Assembleia Municipal, com igual empenho.
Nestes tempos de expansão das redes sociais, Artur Pimentel, um cidadão da sua terra, deste país e do mundo, não se alheou das novas possibilidades de intervenção no espaço público, deixando contributos importantes, partilhando reflexões profundas sobre a condição humana, nesta e em todas as geografias.
Vila Flor viu partir um filho que lhe foi dedicado como poucos e a região ficou sem um homem que viveu a política com nobreza e a encarou sempre como a conceberam os pensadores clássicos: um serviço aos outros, sem esperar honrarias, recompensas ou privilégios. Dele nunca se sussurraram dúvidas quanto à honestidade, ninguém lhe detectou proveitos ilegítimos da actividade política, nem se permitiu pôr em causa a autenticidade do que dizia.
O futuro merece que não deixemos desvanecer a memória de Artur Pimentel.
Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com
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