Era uma vez um príncipe e uma princesa que estavam numa varanda que dava para a rua, nisto vêem uma junta de vacas pela rua a cima, nisto diz o rei:
- Oh! Que linda junta de bois ali vai!
Dizendo, logo de seguida, a rainha:
- Oh! Que linda junta de bois não. Oh! Que linda junta de vacas.
- Palavra de rei não volta a trás, e tu se me mandas repetir mando-te matar. No entanto, a rainha repetiu:
- Oh! Que linda junta de bois não. Oh! Que linda junta de vacas.
O rei mandou logo chamar os criados para levar a rainha para o meio do mato, ordenando que lhe levassem a língua da rainha. Mas os criados tinham uma cadela que era muito amiga deles e quando viu os criados com a rainha a cadela acompanhou-os. Eles levaram, então, a rainha, que estava grávida de sete meses, para uma ilha rodeada de mar onde viviam muitos macacos. Os criados em vez de matarem a rainha, mataram a cadela e levaram a língua da cadela, o rei quando viu a língua pensou que era a da rainha. A rainha ficou sozinha na ilha e um macaco entregou-se a ela, entretanto teve que se habituar a comer só pássaros, caça e tudo o que encontrasse. Passados uns tempos o filho nasceu, ela desfazendo os farrapinhos que trazia vestidos, para cobrir o filho, este começou a crescer e a vida dele era caçar. Um dia o rapaz chegou-se à beira da ilha, onde estava um braço de mar mais estreito e pôs-se a nadar para o outro lado deixando a ilha. No outro lado encontrou um cinturão cheio, um cão e uma espingarda, assim que pegou neste objecto reparou que era para atirar, nisto vê passar um bando de pombas e disparou sobre elas matando duas. O cão foi buscá-las trazendo-lhas à mão ficando o rapaz muito contente com essa e outra caça que conseguiu esse dia, indo depois ter com a mãe que lhe explicou o que era tudo aquilo. Ao outro dia voltou ao mesmo sítio com a espingarda e o cão, andou um bocado e viu um grande palácio, ele entrou para o quintal do palácio onde estava um gigante que lhe disse:
- Oh! Que rico franguinho aqui me apareceu.
E nisto vai-se direito a ele para o matar e para o comer, mas o rapaz dá-lhe dois tiros e o gigante cai por terra. O rapaz entrou no palácio para dar a volta àquilo tudo, encontrando um quarto cheio de ossos de pessoas que o gigante tinha comido. O rapaz foi buscar o gigante atirando com ele para cima dos ossos, arrecadando, também, as chaves todas do palácio para as levar à mãe, tendo chamá-la para o palácio. No dia seguinte quando foi para a caça disse para a mãe:
- Minha mãe tem aqui as chaves dos quartos todos, peço-lhe que não abra aquele ali.
A mãe respondeu:
- Então se tu me pedes tanto não vou abrir.
No entanto, mal o filho virou costas a mãe foi logo abrir aquele quarto, onde se encontrava o gigante, ao que a rainha proferiu:
- Então o que é que o senhor está aqui a fazer, está doentinho?
- Olha, foi o teu filho que me deu dois tiros e atirou-me para aqui, mas este palácio é todo meu.
- Mas eu posso tratar de si!
Entretanto a rainha começou a tratar dele, à noite chegou o filho e perguntou à mãe?
- Mãe abriu a porta?
A mãe respondeu que não e o filho ficou todo contente.
No dia seguinte voltou a sair para caçar, a mãe voltou a ir tratar do gigante até este ficar bem curado, combinando com este matar o rapaz para ficarem os dois com o palácio.
A rainha disse, então, para o gigante:
- Então como vamos fazer para o matar?
- Fazemos muito bem! Quando ele chegar dizes-lhe que estás muito doente e que precisas de comer peras do pereiro, em tal lugar assim, assim.
Os pereiros estavam encantados, pois se o rapaz tocasse numa das peras ficava lá também. Ali perto dos pereiros, havia um cego, santo e sábio, em cuja casa o rapaz parou quando ia a cavalo para os pereiros. O “cego, santo e sábio” tinha três filhas, dizendo para estas:
- Chamai aquele rapaz que eu quero falar com ele!
O rapaz entrou e disse-lhe o “cego, santo e sábio”:
- Oh! Rapaz que andas a fazer?
O rapaz contou-lhe que tinha a mãe muito doente e que não melhorava sem comer as peras dos tais pereiros, ao que o “cego, santo e sábio” respondeu:
- Sim, a tua mãe está muito doente, mas escuta bem aquilo que te vou dizer, vais lá aos pereiros e passas por baixo de todas as peras dos pereiros e no meio do terreno há uma pereira, da qual tiras quatro peras e voltas para aqui. Assim fez o rapaz, mas mal este virou costas o “ cego, santo e sábio” disse para as filhas:
- O rapaz desta salvou-se. Ele está a chegar agora, pegais nas quatro peras que ele trás e dais-lhe quatro peras das nossas.
Assim aconteceu, levando essas quatro peras trocadas à mãe. Quando cegou a meio do caminho o gigante deu conta que ele estava de retorno:
- O teu filho não ficou lá, ele vem ai.
O rapaz chegou ao palácio e deu as peras à mãe que lhe agradeceu de imediato, agarrando-se a ele falsamente. Ao outro dia o rapaz voltou para a caça, dizendo o gigante para a rainha:
- Diz ao teu filho que tu não melhoras sem beber a água das sete bicas da fonte.
O rapaz ao retornar da caça, ouviu as queixas da mãe:
- Oh! Meu filho, eu não melhoro sem beber água das sete bicas da fonte.
Ao que o rapaz retorquiu:
- Pois minha mãe eu vou buscar essa água.
O cavalo do rapaz dirigiu-se, mais uma vez, para a casa do “cego, santo e sábio”, este mandou as filhas chamá-lo perguntando-lhe depois:
- Então, como está a tua mãe?
Ao que o rapaz respondeu:
- Está muito doente, não melhora se não beber a água das sete bicas da fonte.
- Olha, levas esta cântara, vais por este caminho fora até encontrar uns portais muito altos e fortes. Mas toma sentido no que te vou dizer, quando estiveres perto deles, os portais vão-se abrir e tu vais de cântara na mão, só uma das bicas é que vai estar a pingar água, enchendo a cântara só dessa bica.
O rapaz quando foi “colher” a água, ainda se enganou, mas depois pôs a cântara na bica certa, contudo ao sair os portões fecharam-se, no momento em que ele ainda estava a passar, ficando lá entalado o que o levou a ter de rasgar o casaco. O “cego, santo e sábio” disse para as filhas:
- Minhas filhas! O rapaz salvou-se! Agora tirais-lhe aquela água e dais-lhe da nossa, enquanto eu falo com ele.
Assim, o “cego, santo e sábio” revelou ao rapaz:
- O gigante e a tua mãe estão para te matar. A tua mãe cuidou dele e está muito mais forte do que estava, ele não está morto. Agora tu vais para o palácio, não tenhas medo pede à tua mãe que te matem e que te partam às postas e te metam dentro de um saco, mandando-o num cavalo pelo mundo fora.
O rapaz quando chegou ao palácio lá estava a mãe e o gigante para o matarem, dizendo o rapaz para a mãe:
- Então minha mãe, tanto que eu lhe queria e fiz por si, e agora quer-me matar?
Respondeu a mãe:
- Não interessa, eu quero-te matar!
- Se quiser me matar, mate! Mas partam-me todo em postas, metam-me dentro de um saco e prendam-me ao rabo de um cavalo para ir por esse mundo fora.
Mas o gigante queria matá-lo e enterrá-lo no quintal, o rapaz voltou a fazer o pedido à mãe, ao que esta respondeu ao gigante:
- Isso não interessa, vamos mas é matá-lo.
Então, mataram o rapaz e fizeram conforme ele tinha-lhes pedido, e o cavalo foi direito à casa do “cego, santo e sábio”.
O “cego, santo e sábio” manda as filhas tirar o saco com o corpo do rapaz, pedindo que o levassem para casa, dizendo depois para as filhas:
- Agora, minhas filhas ponde o lençol no chão, colocai posta por posta do corpo do rapaz até ficar perfeito.
Assim aconteceu, faltando só a “bicha”, a filha mais velha não a quis pôr, a do meio também não, mas a mais nova disse:
- É uma parte como as outras!
Agarrou nela e colocou-a no devido lugar, de seguida esfregaram-lhe o corpo com a água que ele tinha ido buscar e o corpo começou-se a unir.
O “cego, santo e sábio” tinha uma moca que pesava 100 arrobas, dizendo ás filhas para partirem a pêra, que o rapaz tinha ido buscar, em quatro partes. O rapaz quando comeu metade da pêra exclamou:
- Vou matar o gigante!
O “cego, santo e sábio” dirigiu-se a ele e disse-lhe:
- Anda cá, levanta esta moca!
O rapaz bem tentou, mas não tinha força para tal.
E o “cego, santo e sábio” referiu:
- Não vais matar o gigante, ainda não tens força para ele.
Quando o rapaz comeu a segunda parte da pêra voltou a jurar morte ao gigante, mas o “cego, santo e sábio” voltou a pedir-lhe que levantasse a moca e como na vez anterior ele não teve força suficiente, ao que lhe diz o “cego, santo e sábio”:
- Ainda não tens força para ele.
O rapaz quando comeu a terceira parte da pêra atirou com a moca para longe e disse o “cego, santo e sábio”:
- Agora já podes ir que já tens força para ele, mas olha que a tua mãe vai-te pedir para não a matares, no entanto também te matou a ti.
O rapaz já ia perto quando o gigante o vê e vai contar à rainha que o filho tinha chegado para os matar. A mãe implorou que não a matasse, mas o rapaz não quis saber matando os dois, assim, montou a cavalo e foi para casa do “cego, santo e sábio”, dizendo à chegada:
- Já matei a minha mãe e o gigante.
E responde-lhe o “cego, santo e sábio”:
- Fizeste muito bem! Agora estão aqui as minhas filhas escolhe uma para casar.
A mais velha disse:
- Caso eu com ele, pois tenho todo o direito de casar.
A do meio disse o mesmo, e a mais nova reclamou:
- Não! Quem lhe pôs a “bicha” fui eu, por isso, sou eu que caso com ele.
O rapaz assim o fez, casou com a mais nova e viveram felizes para sempre.
RECOLHA 2005 SCMB, CASIMIRO PARENTE, Idade: 66.
Localização geográfica: PAÇO DAS MÓS – ORIGEM + 60 anos.
FICHA TÉCNICA:
Título: CANCIONEIRO TRANSMONTANO 2005
Autor do projecto: CHRYS CHRYSTELLO
Fotografia e design: LUÍS CANOTILHO
Pintura: HELENA CANOTILHO (capa e início dos capítulos)
Edição: SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE BRAGANÇA
Recolha de textos 2005: EDUARDO ALVES E SANDRA ROCHA
Recolha de textos 1985: BELARMINO AUGUSTO AFONSO
Na edição de 1985: ilustrações de José Amaro
Edição de 1985: DELEGAÇÃO DA JUNTA CENTRAL DAS CASAS DO POVO DE
BRAGANÇA, ELEUTÉRIO ALVES e NARCISO GOMES
Transcrição musical 1985: ALBERTO ANÍBAL FERREIRA
Iimpressão e acabamento: ROCHA ARTES GRÁFICAS, V. N. GAIA
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(Henrique Martins)
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