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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

A SOBERBA DOS PROFETAS DO APOCALIPSE

O texto atribuído a João, o evangelista, que relata o sonho do fim do mundo, constitui uma peça literária que marcou gerações de cristãos, mesmo se não passaram os olhos pelo texto, ficando-se pelos ecos das pregações de profetas da desgraça, empenhados em convencer os outros de que a vida não passava de uma tortura, castigo adequado à simples aceitação da existência.
Ao terminar o primeiro milénio, alguns visionários foram esperando os dias do fim, ansiosos pelas delícias da eternidade, ou receosos da precipitação no inferno. Mas, o mundo continuou, indiferente à celebração vibrante da morte, com alegrias e tragédias como sempre conhecera, conquistas empolgantes e erros miseráveis, porque é essa a condição humana, longe da perfeição que, certamente, nunca atingirá, mas de que tem demonstrado vontade de se aproximar.
Quase três séculos depois, o sul de França conheceu um movimento apocalíptico que recusava continuar a vida na terra. Vestiam-se de branca pureza e recusavam os actos de procriação para garantir que o mundo acabaria mesmo. De então até aos nossos dias, foram reaparecendo cátaros aqui e ali, sempre arrependidos de viver, desdenhosos deste mundo e dispostos a apontar o dedo a quem não lhes desse atenção.
Mas também houve serenidade, racionalidade e pragmatismo, quando os humanos se propunham olhar o mundo na procura da felicidade e da dignidade, acalentando a esperança de chegar à liberdade e ao respeito pelo próximo, à fraternidade, à justiça na distribuição dos recursos, em cada comunidade e na terra inteira.
A vida mudou para milhões e milhões nos últimos séculos, até chegarmos aos níveis de longevidade que se conhecem no mundo mais desenvolvido, atingindo-se um patamar nunca visto, mesmo em territórios onde a pobreza e a miséria continuaram a assolar as populações até há pouco tempo.
Não se estabeleceu a justiça e a equidade, mas fez-se caminho. São inegáveis os esforços de concertação de organizações mundiais para tentar que da melhoria das condições de vida não resultem só ameaças ao futuro: a cimeira do Rio de Janeiro, em 1992, o Acordo de Paris e a recente conferência em Nova Iorque, foram contributos para não se perder a noção dos riscos que se correm com a expansão económica permanente.
Mas é bom lembrar que cerca de dois terços da população mundial ainda não conheceu condições básicas de uma vida digna e, para lá chegar, precisam da nossa solidariedade, até atingir o desenvolvimento sustentável que não pode ser o regresso à subsistência e à miséria.
Por isso, não se compreende a soberba de alguns que já tiveram quase tudo e agora se tomam de raivas e vertigens proibicionistas em nome de equilíbrios cósmicos. Trata-se de indivíduos que se consideram especiais, como um famoso austríaco, de bigodinho rafeiro, que começou por ser considerado tonto e provocou a catástrofe na Europa e no mundo, entre 1939 e 1945.
Cuidado, portanto, com os fanáticos alucinados que parecem ter muita graça enquanto não nos mandam degolar, convencidos de que o mundo é só para eles. É esse o lado oculto dos lunáticos.


Teófilo Vaz
in:jornalnordeste.com

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