O Censo de Aves Comuns realiza-se desde 2004, com o objectivo de “conhecer as tendências populacionais” das aves que se reproduzem em Portugal, “possibilitando o cálculo de índices que podem ser usados como indicadores do estado de saúde do nosso ambiente”, explica a SPEA, que coordena este programa de monitorização e divulgou agora o relatório.
Este ano, tanto a andorinha-das-chaminés como o cuco-canoro são destacados pela organização não governamental de ambiente, devido ao declínio que apresentam. As populações destas espécies têm vindo a descer nos últimos 17 anos, desde o início do censo, mas também confirmam essa tendência negativa olhando apenas para a última década (2011-2020).
“Estas espécies insectívoras e migradoras de longa-distância podem estar a ser afectadas por inúmeros motivos, nas diferentes latitudes onde ocorrem, desde a intensificação agrícola às mudanças climáticas”, considera a SPEA, que sublinha que “urge compreendermos melhor” todos esses factores.
A andorinha-das-chaminés, que passa os meses mais frios do ano na África sub-sahariana, é uma espécie ligada aos habitats agrícolas que se alimenta de insectos em pleno voo. Esta espécie “apresenta um decréscimo moderado tanto no decurso de todo o período do censo (desde 2004), como no curto-termo (desde 2011)”, descreve o documento agora publicado.
Milheirinha. Foto: Charles J. Sharp / Wiki Commons |
Outras aves agrícolas que têm reduzido a presença em Portugal ao longo dos últimos 17 anos são o pintassilgo, o abelharuco e a milheirinha – esta última incluindo nos últimos 10 anos. Em contrapartida, em meio rural, estorninho-preto, pega-rabuda e trigueirão apresentaram uma tendência positiva desde 2004.
Quanto às aves de hábitos mais florestais, o cuco-canoro e também o chapim-real mostram um “declínio moderado” no mesmo período, desde a realização do primeiro censo – uma tendência que se mantém quando se analisam os resultados apenas desde 2011.
Cuco-canoro. Foto: Alastair Rae / Wiki Commons |
Já a rola-brava, que “tem evidenciado uma tendência negativa significativa à escala nacional ao longo das últimas décadas” – tal como em Espanha e noutros países da Europa – mostra agora uma tendência incerta no que respeita aos últimos 10 anos. Todavia, alerta o relatório, isso pode estar relacionado com “as fortes oscilações na participação do censo verificadas nos últimos três anos”.
Em declínio moderado está ainda outra espécie-migradora, o picanço barreiro, uma tendência negativa que “também é observada no resto da península ibérica e continente europeu, e está presumivelmente ligada à intensificação agrícola.”
Em sentido contrário, com uma tendência positiva, há espécies florestais como o chapim-carvoeiro, a trepadeira-azul e o pombo-torcaz. Este último, tal como o pisco-de-peito-ruivo e a toutinegra-de-barrete, registaram também uma subida tendo em conta apenas o período desde 2011.
Trepadeira-azul. Foto: Andreas Eichler/Wiki Comuns |
Nos Açores, onde o censo das aves comuns se começou a realizar em 2007, os resultados agora divulgados indicam um “aumento acentuado da rola-turca”, uma espécie que foi observada pela primeira vez no arquipélago em 2003.
Outras duas espécies ali introduzidas – o pardal (anos 60) e o bico-de-lacre (anos 80) também “mostram uma tendência positiva nos últimos 14 anos”, indica a SPEA.
Quanto à Madeira, de acordo com o relatório, “não foi possível estimar tendências populacionais para o período 2004-2020”.
Quebra de 40% na participação
Os resultados obtidos este ano, alerta a organização não governamental, foram aliás influenciados pela descida de participantes.
“É incontornável falar do impacto que a pandemia teve no projeto. Na Primavera de 2020, houve uma redução de 40% na participação em relação ao ano anterior.”
Ainda assim, segundo a SPEA, houve uma “elevada participação e alcance nos webinares e acções fr formação online, fomentados pela pandemia, e que permitiram um aumento substancial no censo já em 2021”.
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