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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

terça-feira, 29 de junho de 2021

BRAGANÇA : A NAÇÃO JUDAICA EM MOVIMENTO - 12 ANA PIMENTEL AO SÁBADO IA PARA A VILA EM VISITAS AOS PARENTES

 Antes de falarmos de Francisca Henriques e sua filha Ana Pimentel, como prometemos no texto anterior, voltemos a Vinhais, à onda de prisões ali efetuadas na sequência da “visitação” do inquisidor Jerónimo de Sousa, em 1582. Entre os prisioneiros contou-se o casal constituído por Pedro Manuel, mercador, e Beatriz Nunes. De seguida foi presa Catarina Nunes, irmã de Beatriz, ambas filhas de Francisco Rodrigues e Violante Nunes. Catarina era casada com Manuel Pimentel, e estes foram os pais das citadas Francisca Henriques, Josefa Pimentel, Maria Nunes e outros irmãos de que não falamos. De referir que a profissão de Francisco Rodrigues era a de ourives da prata, profissão que seguiram muitos dos seus descendentes, nomeadamente o filho, António Nunes. Francisca Henriques foi casada com Álvaro Vaz de Castro, castelhano, natural da vila de Nos, termo de Zamora, mercador, o qual era já falecido por 1646.
O casal viveu em Bragança e Ana Pimentel é a única filha do casal de que temos notícia. Ao início da década de 1660, quando a cidade de Bragança conheceu nova onda de prisões do santo ofício, Ana Pimentel andava nos 30 anos e estava casada com Manuel Mendes Henriques, mercador. Possivelmente receando ser preso, Manuel Mendes havia-se internado por Castela e em Bragança ficou a mulher e o filho, Álvaro Vaz Castro, de 17 anos, ourives da prata. E também um sobrinho e uma sobrinha, que ficaram a seu cargo. 
Em 7 de Janeiro de 1661, quando os brigantinos promoveram o abaixo-assinado de que falamos em texto anterior, dizendo que tinham culpas referentes ao santo ofício que desejavam confessar e pediam para ser ouvidos em Bragança, Ana Pimentel foi um dos signatários. Por isso, chegado a Bragança o inquisidor Manuel Pimentel de Sousa, acompanhado do escrivão Pedro Saraiva de Vasconcelos, ela foi recebida em audiência, no dia 31.3.1661, autuando-se as suas declarações que começaram deste modo: - Disse que haverá 16 anos, em Bragança, em casa de seus pais, Álvaro Vaz, mercador e Francisca Henriques, naturais e moradores em Bragança, agora defuntos; e estando só com a sua mãe, então já viúva, disse a mesma sua mãe a ela confitente se queria salvar sua alma, cresse na lei de Moisés, que era só a boa (…) e outrossim, depois que faleceu a dita sua mãe, fez pela alma da mesma o jejum judaico que lhe havia encomendado (…) fazendo tudo em observância da lei de Moisés; e a crença lhe durou até haverá 4 meses em que, alumiada pelo Espírito Santo, resolveu apresentar-se e o fez por petição… 
Aparentemente, tudo ficou resolvido e Ana ficou em Bragança tocando a vida para a frente, ela o filho, Álvaro Vaz Castro, de 18 anos, ourives da prata, já que o marido terá falecido pouco depois Porém, ao início de Junho de 1670, Ana Pimentel recebeu ordem para se apresentar no tribunal de Coimbra, sendo reconciliada em auto particular, no dia 1 de Julho seguinte. Vejam como ela descreveu mais tarde a cerimónia: - Em uma das casas da dita inquisição onde foi posta ela declarante de joelhos, um dos inquisidores lhe lançou água benta com um hissope sobre a cabeça e ela declarante, segundo sua lembrança, lhe parece que tomou o juramento dos santos Evangelhos (…) e a mandaram para a sua terra. De novo em Bragança, assistiu ao casamento do filho, com Josefa Pimentel, neta de outra Josefa, tia materna de Ana, de quem já se falou. Filho e nora ficaram morando com ela. Na casa em frente, do outro lado da rua, morava o padre José Fernandes de Meireles que sentia ser seu dever espiar os vizinhos. 
Em 8.2.1686, apresentou-se em casa do comissário da inquisição Martim Carneiro de Morais, abade de Gondezende, a denunciar, nos seguintes termos: - Disse que uns seus vizinhos de fronte, que é Ana Pimentel e sua filha (sic), mulher de Álvaro Vaz, prateiro, nos sábados iam de manhã para a vila, para casa de seus parentes; que 4 ou 5 sábados fez reparo nisso, haverá mais de um ano, por irem naquele dia sempre, sem trabalharem neles; e que ele testemunha tanto fez reparo nisso que o disse algumas vezes a suas irmãs; em cada sábado que iam para a vila e que iam estas e a mulher de Alexandre Pimentel e algumas vezes a de Alexandre da Costa, cujos nomes são sabe e que estão lá até à noite e nos outros dias as não via ir. Claro que o comissário mandou a denúncia para a inquisição, a qual foi registada no caderno 8º do promotor, a fl. 97. Aliás, esta era já a segunda denúncia. 
É que, um outro comissário do santo ofício, Belchior de Sá Cabral, de Alfândega da Fé, enviado a Bragança a fazer um sumário de averiguações, registara, em 14.6.1683, uma denúncia do tecedor João Gomes dizendo: - Sabe que Ana Pimentel e a sua nora, Josefa Pimentel, que mora com ela em sua casa, todos os sábados se compõem e andam em visitas. Não trabalhar ao sábado e andar composta e em visitas aos parentes indiciava que Ana continuava na prática da lei mosaica. A prova não seria conclusiva e os inquisidores eram pacientes, aguardando melhor prova. Repare-se, contudo, no paradoxo: enquanto o padre José Fernandes Meireles servia o santo ofício espiando os comportamentos da vizinha, Ana Pimentel, depois de ser presa, apresentá-lo-ia como testemunha primeira de defesa, em prova de seu bom comportamento cristão! Entretanto a vida em casa de Ana continuava animada, com o filho singrando na carreira profissional, alcançando o grau de mestre ourives. E um dos que ele acolheu em casa como aprendiz de ourives foi Ambrósio de Saldanha Sória, natural de Chacim, que depois se foi para Castela, fixando morada em Ciudad Real. 
A família também crescia, com o nascimento de 3 netos, filhos de Álvaro Vaz e Josefa Pimentel: Francisca Xaviela, Luísa Maria e Feliciano Albuquerque. Ao findar da década de 1680, em circunstâncias que não pudemos apurar, terá falecido Álvaro Vaz e a vida complicou-se para as duas mulheres que rumaram a Lisboa onde tinham parentes, nomeadamente alguns irmãos de Josefa, os quais as ajudariam e, inclusivamente, haveria já contratos concertados para casar os netos. Aliás, é a própria Ana Pimentel que nos informa, confessando para os inquisidores, em 10 de Setembro de 1696: - Viveu em Bragança e há 3 anos que veio para Lisboa acompanhar uma neta sua que veio para se casar; e daqui passou à vila de Aldeia Galega aonde atualmente assistia quando foi presa; e ali vendia tabaco por ordem de Alexandre Pimentel, contratador do estanco. 
No próximo texto falaremos da prisão de Ana Pimentel.

António Júlio Andrade / Maria Fernanda Guimarães

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