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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 16 de abril de 2022

O linho – E duma planta se faz um tecido único!

 
O linho

Sendo a indústria de tecidos de linho a mais próspera e a mais notável de toda a zona sul da província do Minho, e ocupando-se no serviço de inúmeras fabricas desse género industrial algumas dezenas de milhares de pessoas, nem por isso a antiquíssima cultura dos «linhos da terra» minhota – ainda fácil de propensão para mais este pitoresco cuidado agrícola – deixa de ser um uso seguido e, diremos, da exclusiva preferência doméstica dos camponeses.

O linho é semeado em Março

A semente do linho aldeão do povo do Minho lança-se às terras húmidas e baixas pelos meados do mê de Março.

Julho entra, depois. É já uma brasa, nas terras o sol canicular do verão.

Se os linhos tivessem de demorar-se sobre os seus efeitos ardentes, certamente que não resistiriam. Mas não.

Pelo S. Torquato, em geral, já o povo madruga e se encaminha para os campos embebedados de flor azul, a «arrincar», como ele diz, nas suas novas linhagens.

Levado aos molhos para as eiras, vemos agora que se vai «limpar» o linho – o que quer dizer que vai ser batido, sob os mangais, tanto ou quanto seja necessário para lhe tirar por completo a flor e semente que já secou.

Segue-se depois o «enterramento» em tanques ou poças ou rios, onde o linho mergulha e descansa oito dias, sob tábuas compridas ou pesadíssimas.

Voltando do rio, já lavado e escorreito de semente, vai ver o sol, de novo.

Mãos carinhosas o espalham pelos campos, que estão devoluto, e pelos montes cheios de mato arnal.

Demora ali um mês?

O tempo dessa etapa fabrico rústico é indeterminado.

É malhado na eira

Mas, passado em geral o prazo de um mês, o linho está limpo;

e o lavrador, figura social entregue grandemente às tradições, resfrega-o logo, como os antigos usavam, uma «malhada» violenta, de turba batendo desapiedadamente, para que enfim o engenho receba meio delido o linho piteiro que vaio engenhar.

Ali onde o «engenheiro» (sic) e o dono do linho introduzem constantemente molhos ásperos de linhagem, uma junta de bois puxa lenta e serenamente horas, horas consecutivas, naquela nora de grande roda em cabos;

e uma velhota ao lado, dessas que têm na alma o segredo destes rigorosos e carinhosos usos caseiros, vai ditando sentenças, gritando cuidado, acamando despojos.

E essa mesma velha se encarrega, depois, de escolher ou separar.

Um dia, enfim, desse linho de que homens e mulheres, até então, trataram, principia a mulher, exclusivamente e tratar.

Ela o toma do engenho e o leva, com certa familiaridade rude, ao alpendre do eido.

Em certa manhã, alegre e em canções pela estrada, a ranchada se aproxima.

Sobem a escada de pedra do alpendre.

Sugestão de leitura: Os trabalhos que o linho dá | Ciclo do linho

Depois, é espadado, assedado e escolhido

E ali, sentadas e cuspindo na palma da mão, as moças de lábios e lenços alegres desatam a «espadar», a «assedar», e, definitivamente, a «escolher», pois que do linho lançado em sementes por esse

«março marçagão
manhã de inverno
e tarde de verão»

três qualidades de linhagem se obtém:

1º – o «linho», que é aplicado em camisas e toalhas;

2º – a «estopa», que serve para os lençóis;

3º – Os «tormentos», de que se fazem os panos de doença e mesmo as camisas dos criados da lavoura – os quais, ao envergá-los pela primeira vez, sentem a impressão de ter à roda do corpo uma «coroa de espinhos».

Fiado, dobado e tecido no tear manual

Mas depois de «espadar» e «assedar», e antes que se promova a obra de costureira a que agora nos vínhamos referindo, é preciso ver que este, como qualquer outro linho, precisa de ser «fiado», «dobado» e submetido a barrelas de cinza virgem, de onde depois sai linho facilmente adaptável, como urdidura, ao «órgão» do nosso belo e quási primitivo tear manual.

Desse linho tecido se talham, apespontam, bordam e marcam todas as camisas dos lavradores, nesta formosa região silvestre que é o Minho.

Fonte: “Ilustração Portuguesa”, nº398, 6 de Outubro de 1913 (texto editado e adaptado) | Imagem: “Uma bela espadelada dentro dum alpendre do eido“

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