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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
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quarta-feira, 29 de junho de 2022

ARQUEÓLOGA CONSIDERA QUE PARQUE EÓLICO DE MIRANDELA PODE TRAVAR CANDIDATURA A PATRIMÓNIO MUNDIAL DA HUMANIDADE (UNESCO) DAS PINTURAS DA SERRA DOS PASSOS/SANTA COMBA ENGLOBADAS EM MAIS 3 NÚCLEOS DE ESPANHA

 Maria de Jesus Sanches, uma das maiores referências da arqueologia, em Portugal, considera que a instalação do parque eólico na Serra dos Passos/Santa Comba, no concelho de Mirandela, pode comprometer uma possível candidatura a Património Mundial da Humanidade da UNESCO das pinturas pré-históricas existentes naquela área que alguns investigadores e arqueólogos estavam a pensar avançar num contexto mais abrangente em conjunto com mais três núcleos na vizinha Espanha.


A arqueóloga coordenadora da equipa que descobriu as várias figuras pintadas nos abrigos da serra dos Passos/Santa Comba, faz questão de ressalvar que a instalação do parque eólico, “tal como está formulado, não coloca em perigo os painéis conhecidos, ou seja, sob o ponto de vista da investigação, o parque não é um óbice, não destrói nada”, afirma.

No entanto, Maria de Jesus Sanches adianta que, há cerca de dois anos, “alguns investigadores estão a trabalhar no inventário para uma candidatura a património da humanidade da UNESCO de um conjunto de quatro núcleos”, um deles da serra dos Passos/Santa Comba, o único em Portugal que concentra cerca de meia centena de abrigos com pinturas do período da pré-história (do Neolítico e do Calcolítico).

Aqui sim, Maria de Jesus Sanches não tem dúvidas que o parque eólico vem deitar por terra essa possibilidade. “O núcleo da Serra de Passos/Santa Comba é o mais ocidental de outros três de Castilha e Leon, que são o de Las Batuecas, o El Duraton e o El Balonsadero e o objetivo era ser uma candidatura conjunta como aconteceu com a pintura esquemática da área mediterrânea, classificada em 1998. Sob este ponto de vista, o parque eólico impede que o conjunto seja tido como um todo”, reconhece.

A arqueóloga acrescenta que o núcleo da serra dos Passos/Santa Comba era de extrema importância para o sucesso da candidatura à UNESCO. “A parte mais importante é que os abrigos pintados correspondem a uma ocupação humana no local, com o buraco da pala, os povoados e até dois castros, ou seja, é uma referência para as comunidades que ao longo de toda a história viveram ali à volta e na própria serra, pelo que não se pode partir uma unidade aos bocados com pinturas do lado nascente, sul e do poente e no centro um parque”, refere.

Maria de Jesus Sanches deixa entender que há várias atividades que são feitas com regularidade na serra que podem vir a ser prejudicadas com a instalação do parque eólico. “Há a presença física na serra que tem um dos maiores centros de escalada, de geocaching, de parapente e de caminhadas”, lembra.

A arqueóloga revela ainda que Direção Regional de Cultura, que é a Tutela do Património Cultural, em função do trabalho realizado até 2014, “achou pertinente propor o alargamento da área classificada e, por outro lado, continuámos a nossa investigação, de modo que a área proposta na altura para classificação já não engloba toda a realidade conhecida até ao presente. E nessa medida estávamos a finalizar os documentos para novo alargamento, que abrangeria toda a Serra pois a condição cimeira para que um Património Cultural Material seja classificado pela Unesco é que esteja classificado nos seus países de origem”, conclui.

CÂMARA DESCONHECE CANDIDATURA

Confrontada com estas declarações, a presidente da câmara de Mirandela reitera que o património classificado fica salvaguardado com a instalação do parque eólico e que não tinha conhecimento oficial de qualquer candidatura a património mundial da Humanidade da UNESCO. “Desde 1986 que há várias investigações na serra e até agora nunca foi sequer mencionada a questão da candidatura da UNESCO. O que foi dito nas recentes jornadas de arqueologia aos investigadores e arqueólogos é que houvesse essa participação ao nosso PDM porque sob o ponto de vista jurídico a câmara municipal tem de cumprir o que está preconizado no PDM e em outros instrumentos de gestão territorial e estamos sempre reféns daquilo que está protegido e efetivamente o valor patrimonial que foi classificado e que está em vias de classificação está protegido. Relativamente à candidatura, pelo que me dizem os serviços municipais é que nunca houve essa pretensão”

A autarca acrescenta que existem opiniões muito divergentes sobre esta questão da compatibilidade das pinturas da serra com a instalação do parque eólico. “Por exemplo em Foz Coa, efetivamente não era compatível porque as gravuras ficavam debaixo de água, mas neste caso, há opiniões divergentes naquilo que é a compatibilidade de usos múltiplos da serra, quer para fins de atividades desportivas, quer para fins turísticos. Por exemplo, a escalada que segundo dizem tem condições ótimas na serra, mas que é muito perigosa para as pinturas e portanto há atividades que estão neste momento a acontecer que são ainda mais violentas para aquilo que é o nosso património”, conclui.

A instalação do parque eólico de Mirandela na Serra dos Passos/Santa Comba continua a ser alvo de diversas reações

Artigo escrito por Fernando Pires
(jornalista)

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