quarta-feira, 29 de junho de 2022

Problemática barragem obriga a acionar reserva estratégica no Vale da Vilariça

 A problemática barragem da Burga no Vale da Vilariça tem uma fuga que obrigou a recorrer, em ano de seca, à reserva estratégia de água do regadio daquela que é das férteis zonas agrícolas do Nordeste Transmontano.


Há vários anos que os agricultores reclamam o aumento da capacidade da barragem que rega o chamado bloco da Burga e este ano, com menos água devido à seca, apresenta um problema acrescido que impede as descargas em pleno para a conduta de rega.

A solução foi acionar a barragem do Salgueiro, uma reserva de água estratégica, que está a ser a salvação neste ano de seca, em que a falta de chuva obrigou a recorrer ao regadio mais cedo, como disse à Lusa o presidente da Associação de Regantes do Vale da Vilariça, Fernando Brás.

A barragem do Salgueiro funciona através de uma estação elevatória com custos e energia, mas, para o presidente da associação, “o que é caro é não ter água” num vale com pomares, fruteiras, vinhas, olivais e hortícolas, que precisam da rega.

O regadio do Vale da Vilariça, que se estende pelos concelhos de Vila Flor, Torre de Moncorvo e Alfândega da Fé, no distrito de Bragança, é compostos por três blocos, servidos pelas barragens da Burga, Santa Justa e Ribeiro Grande e Arco.

A da Burga é a que se tem revelado mais problemática e este ano, além do armazenamento abaixo do expectável, tem o problema de, quando a água descarrega com mais pressão para a conduta de rega, também vai para a descarga de fundo.

Acresce que a comporta da descarga de fundo, que deita a água para a ribeira, tem uma fuga, como explicou Fernando Brás.

A solução, entretanto, encontrada pela associação de regantes foi seccionar a meio o perímetro, com a Burga a regar a montante e a barragem do Salgueiro a garantir água a jusante.

Ao regar uma área menor, como explicou, a pressão da água não é tanta e evita-se o desperdício da fuga detetada.

Há cerca de “um mês e meio” que a Vilariça está a recorrer à reserva estratégica do Salgueiro, que simultaneamente está também “a ajudar a barragem de Santa Justa, pois este ano também tem “algum défice de água e não daria para satisfazer as necessidades de toda a campanha”.

O problema de fundo é o facto da Burga não armazenar água suficiente para o perímetro que está a servir, salientou o presidente da associação, reclamando que seja lançado “rapidamente” o projeto de execução do alteamento da barragem, que, há mais de um ano, tem um financiamento de 9,3 milhões de euros assegurado para ser executado pelas Câmaras de Vila Flor e Alfândega da Fé.

“O que é lamentável é que estes processos não avancem, cada mês que se perde pode ser mais um ano perdido”, afirmou.

O alteamento irá aumentar a capacidade de armazenamento atualmente de um milhão e meio de metros cúbicos e que devia ser “de mais de dois milhões” para o perímetro que tem que regar, segundo o dirigente.

Além do alteamento da barragem da Burga estão ainda aprovados investimentos para uma nova barragem na ribeira do Cerejal e para a ampliação da área regavel da barragem de Santa Justa, que totalizam 11 milhões e euros.

O regadio do Vale da Vilariça tem cerca de 800 beneficiários com culturas nos mais de 2.400 hectares já existentes.

O plano que deu origem às barragens existentes começou a ser pensado na década de 1960 pelo chamado “pai” da agricultura transmontana, Camilo Mendonça, que projetou o complexo agroindustrial do Cachão e a maioria das infraestruturas que servem o setor.

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