Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")
Há Santos que têm mais popularidade do que outros e por razões diversas, o povo tomou para si o trabalho de os engrandecer e lhes prestar o culto religioso com pompa e circunstância.
Para isso juntam-se grupos de pessoas, quase sempre jovens e todos imbuídos dum espírito festivo e solidário, no dia que a Igreja determina, lhes seja prestado o culto religioso, aproveita-se a vontade do festejo, arma-se a tenda e toca a bailar e assim se passará a data mais alegremente.
O São João é o mais sortudo pois tanto no imaginário do povo como nas canções escritas por gente de todas as classes ele é uma figura central que está ligado ao imaginário mais alargado de todos os Santos populares que a gente tanto precisa para levantar o astral e poder viver mais feliz.
No meu tempo de rapaz, o São João fazia-se com o acordo tácito da gente nova, da mais velha e as próprias autoridades que zelavam pela ordem e compostura, já que como havia sempre alguns desaguisados com os mais afoitos era de bom senso estar prevenido.
Havia bailes, normalmente no Loreto, Além do Rio, no Toural, em frente à capela que ali se ergue e noutros sítios onde houvesse juventude e gente mais idosa que ajudavam a manter a tradição.
Os processos de realização eram simples, sendo a coesão da Comissão de Festas o mais importante de todas as tarefas, pois havia necessidade de pagar despesas contraídas com o proprietário da aparelhagem sonora, com pequenos espaços decorados que balizavam o recinto, construção da quermesse e limpezas da área determinada para o baile e a da quermesse que deveria uma não ser impeditiva da outra. À Comissão competia fazer atempadamente o peditório para guarnecer a quermesse que era o ex-libris da festa. Era também usual fazermos uma "Cascata" que era algo de semelhante a um presépio, mas com motivos mais ligeiros e que punham em evidência o carácter distinto da festividade.
O Tio Mirandela de quem já falei algumas vezes ajudava com as suas bugigangas e com o seu saber a alindar a cascata que atraía muita gente para verem as casinhas e outras construções de madeira e cortiça que este artesão concretizava ao longo do ano. Recordo-me de uma cascata gigante que montou no Jardim Dr. Antonio José de Almeida, era eu ainda pequeno, que deu brado, pois ele havia montado um sistema capaz de elevar a água quase até à Rua da República e suster em movimento uma bola de ping pong que subia e descia fazendo as delícias da garotada e também dos mais velhos.
Observando este uso que durante a minha juventude era sempre cumprido sem falhar e o que se passa agora que quando se festeja algo é sempre a Câmara a tomar em mãos a sua concretização, concluímos que houve um retrocesso na sociabilização dos indivíduos, pois o espírito de pertença aos locais onde se vive, deixou de existir e perdeu-se assim algo que não tendo nunca a dimensão de Braga ou Porto, cumpria com o seu objectivo que era o de comemorar o dia, enaltecendo o Santo popular e alegrando o povo que assim tinha a possibilidade de se divertir, dançando e convivendo.
Lembro-me de ser miúdo e ir com a minha mãe e o meu pai ao Bairro de Além do Rio às Festas do S. João, que eram muito populares no seu Bairro de nascimento. No Loreto, o Barril dava a Música e faziam-se bailes monumentais e não me lembro de haver nesses bailes, quermesse ou cascata, o financiamento, penso, fazia-se por multa ao par dançante que pagava uma quantia irrisória mas que multiplicado por muitos dava o suficiente para as despesas.
Para além de pagar a música havia também o preço das licenças do Governo Civil que eram indispensáveis bem assim como a Polícia também recebia os seus honorários já que havia a imposição de ter segurança em caso de acidentes imponderáveis e possíveis zaragatas que alguns já com o grão na asa pudessem ocasionar. Na minha rua fizeram -se algumas vezes, não sempre, bailes que foram grandes e que a minha memória guarda com orgulho. Sou no entanto sincero, pois penso e digo que os maiores e melhores eram os do Loreto, talvez porque no Loreto o piso era mais plano e as meninas podiam ali dar ao pé mais facilmente. Muita coisa haveria para dizer desse tempo maravilhoso que me coube viver, tempo que hoje recordo com saudade e me faz reviver um tempo que passou sem que possa de novo Voltar.
A canção que recordo mais das muitas que decorei nesses bailes tão divertidos, reza assim:
Para isso juntam-se grupos de pessoas, quase sempre jovens e todos imbuídos dum espírito festivo e solidário, no dia que a Igreja determina, lhes seja prestado o culto religioso, aproveita-se a vontade do festejo, arma-se a tenda e toca a bailar e assim se passará a data mais alegremente.
O São João é o mais sortudo pois tanto no imaginário do povo como nas canções escritas por gente de todas as classes ele é uma figura central que está ligado ao imaginário mais alargado de todos os Santos populares que a gente tanto precisa para levantar o astral e poder viver mais feliz.
No meu tempo de rapaz, o São João fazia-se com o acordo tácito da gente nova, da mais velha e as próprias autoridades que zelavam pela ordem e compostura, já que como havia sempre alguns desaguisados com os mais afoitos era de bom senso estar prevenido.
Havia bailes, normalmente no Loreto, Além do Rio, no Toural, em frente à capela que ali se ergue e noutros sítios onde houvesse juventude e gente mais idosa que ajudavam a manter a tradição.
Os processos de realização eram simples, sendo a coesão da Comissão de Festas o mais importante de todas as tarefas, pois havia necessidade de pagar despesas contraídas com o proprietário da aparelhagem sonora, com pequenos espaços decorados que balizavam o recinto, construção da quermesse e limpezas da área determinada para o baile e a da quermesse que deveria uma não ser impeditiva da outra. À Comissão competia fazer atempadamente o peditório para guarnecer a quermesse que era o ex-libris da festa. Era também usual fazermos uma "Cascata" que era algo de semelhante a um presépio, mas com motivos mais ligeiros e que punham em evidência o carácter distinto da festividade.
O Tio Mirandela de quem já falei algumas vezes ajudava com as suas bugigangas e com o seu saber a alindar a cascata que atraía muita gente para verem as casinhas e outras construções de madeira e cortiça que este artesão concretizava ao longo do ano. Recordo-me de uma cascata gigante que montou no Jardim Dr. Antonio José de Almeida, era eu ainda pequeno, que deu brado, pois ele havia montado um sistema capaz de elevar a água quase até à Rua da República e suster em movimento uma bola de ping pong que subia e descia fazendo as delícias da garotada e também dos mais velhos.
Observando este uso que durante a minha juventude era sempre cumprido sem falhar e o que se passa agora que quando se festeja algo é sempre a Câmara a tomar em mãos a sua concretização, concluímos que houve um retrocesso na sociabilização dos indivíduos, pois o espírito de pertença aos locais onde se vive, deixou de existir e perdeu-se assim algo que não tendo nunca a dimensão de Braga ou Porto, cumpria com o seu objectivo que era o de comemorar o dia, enaltecendo o Santo popular e alegrando o povo que assim tinha a possibilidade de se divertir, dançando e convivendo.
Lembro-me de ser miúdo e ir com a minha mãe e o meu pai ao Bairro de Além do Rio às Festas do S. João, que eram muito populares no seu Bairro de nascimento. No Loreto, o Barril dava a Música e faziam-se bailes monumentais e não me lembro de haver nesses bailes, quermesse ou cascata, o financiamento, penso, fazia-se por multa ao par dançante que pagava uma quantia irrisória mas que multiplicado por muitos dava o suficiente para as despesas.
Para além de pagar a música havia também o preço das licenças do Governo Civil que eram indispensáveis bem assim como a Polícia também recebia os seus honorários já que havia a imposição de ter segurança em caso de acidentes imponderáveis e possíveis zaragatas que alguns já com o grão na asa pudessem ocasionar. Na minha rua fizeram -se algumas vezes, não sempre, bailes que foram grandes e que a minha memória guarda com orgulho. Sou no entanto sincero, pois penso e digo que os maiores e melhores eram os do Loreto, talvez porque no Loreto o piso era mais plano e as meninas podiam ali dar ao pé mais facilmente. Muita coisa haveria para dizer desse tempo maravilhoso que me coube viver, tempo que hoje recordo com saudade e me faz reviver um tempo que passou sem que possa de novo Voltar.
A canção que recordo mais das muitas que decorei nesses bailes tão divertidos, reza assim:
Pus um trevo num balão
E balão mandei-o ao ar
São João, meu São João
Maroteiro, brincalhão
Que me quis contrariar
São João, meu São João
Dos folguedos e alegrias
Ó meu rico São João
Maroteiro, brincalhão
Padroeiro das folias.
O São João gosta de morar
No coração de quem queira amar
E dá formosas, voltas e voltinhas
Na grande roda das Fontainhas .
Parte da canção - incompleta
Versos de uma canção popular da qual não recordo o autor ou criador. Direi quando conseguir identificar.
Bragança, 25/06/2022
A. O. dos Santos
A. O. dos Santos
(Bombadas)
Caro colega colaborador do MOC
ResponderEliminarGostei deveras de sua cronica memorialista!
Ha' uma musica brasuca, cuja letra diz:
--Vou pedir numa oracao/Ao querido Sao Joao/Que me desse um matrimonio.
Sao Joao disse que nao/Sao Joao disse que nao: matrimonio, matrimonio/ Isso e' la' pra Santo Antonio."