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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

domingo, 26 de junho de 2022

O que procurar no Verão: as avencas

 O verão, que já começou, é sinónimo de calor mas também de ambientes frescos para contrastar. Por isso, a botânica Carine Azevedo fala hoje da avenca, em especial da única espécie nativa de Portugal Continental.

Foto: Len Worthington/WikiCommons

Algumas pessoas acreditam que as avencas têm a capacidade de absorver energias negativas e espantar o mau-olhado. Segundo elas, quando isso acontece, as folhas murcham e a planta pode acabar por morrer.

A verdade é que as avencas são plantas muito delicadas. Certamente já ouviu a expressão “frágil como uma avenca”, que se refere a algo que é extremamente vulnerável e que necessita de particular atenção.

A Adiantum capillus-veneris é a única avenca nativa de Portugal Continental, que também ocorre nos Arquipélagos da Madeira e dos Açores, em ambientes geralmente húmidos e sombrios.

Pteridófitas

A avenca pertence ao grupo das pteridófitas, que engloba as plantas vasculares que apresentam raízes, caules e folhas verdadeiras mas que, ao contrário das restantes plantas, em vez de sementes usam os esporos para dar origem a novos indivíduos.

A este grupo de plantas pertencem espécies que podem possuir porte herbáceo, arbustivo e até arbóreo. Algumas são bem conhecidas, como é o caso do feto-pente (Blechnum spicant subsp. spicant), do feto-dos-montes (Pteridium aquilinum subsp. aquilinum), do polipódio (Polypodium vulgare), do feto-fêmea (Athyrium filix-femina), da cavalinha (Equisetum arvense), entre outras.

Todas estas espécies são nativas em Portugal Continental, fáceis de encontrar, no subcoberto de bosques húmidos e sombrios, na fenda de pedras e rochas ou junto à margem de linhas de água.

Outras espécies conhecidas, muito comuns em jardins e outros espaços verdes em Portugal Continental, são o feto-arbóreo-da-Tasmânia (Dicksonia antarctica) e o feto-arbóreo-australiano (Cyathea cooperi). 

Quem nunca visitou o vale dos fetos na Mata Nacional do Buçaco ou nos Parques de Sintra, com notáveis coleções de fetos-arbóreos oriundos da Austrália e da Nova Zelândia? Estas espécies exóticas, embora sem registos de descontrolo das populações no Continente, possuem estatuto de espécies invasoras no arquipélago dos Açores.

Pteridaceae

A família Pteridaceae está representada por mais de 1.300 espécies, distribuídas por 33 géneros botânicos, espalhados por todo o mundo, especialmente em regiões tropicais e de clima quente.

Foto: Ziegler175/WikiCommons

Em Portugal, são seis os géneros representativos da família Pteridaceae, com 12 espécies nativas que ocorrem maioritariamente em fendas de rochas, muros e paredes, em ambientes frescos e sombrios.

O género Adiantum, a que pertence a avenca, é o segundo mais representativo desta família botânica, com cerca de duas centenas de espécies. As espécies pertencentes a este género botânico são facilmente reconhecidas pelas suas folhas, normalmente em forma de leque e pecíolos enegrecidos e brilhantes.

A avenca (Adiantum capillus-veneris) – também vulgarmente conhecida como aivenca, avenca-das-fontes, avenca-de-Montpellier, cabelo-de-Vénus, capilária, capilária-de-Montpellier ou lágrima-de-sangue – é a única espécie do género Adiantum que ocorre de forma espontânea em Portugal Continental. No arquipélago da Madeira também ocorrem as subespécies Adiantum reniforme ssp. pusillum. e Adiantum reniforme  ssp. reniforme, ambas conhecidas vulgarmente como feto-redondo.

Avenca

A avenca é uma planta perene, herbácea, que pode crescer entre 10 a 40 centímetros de altura, raramente até 60 centímetros.

É uma planta rizomatosa, com um rizoma prostrado e curto, densamente coberto revestido por escamas estreitas e por pêlos acastanhados. Forma uma touça que aumentará gradualmente de tamanho se houver espaço para se desenvolver.

As frondes, termo usado para denominar a folhagem das avencas e dos fetos no geral, surgem pendentes sobre caules finos, eretos, rijos, de cor castanha, avermelhada ou negra.

Essas frondes são delicadas e rendilhadas, mais ou menos persistentes, que podem medir até 55 cm de comprimento. São compostas por vários folíolos, são pecioladas, alternas, finas e polimorfas. Os folíolos são formados por limbos de tamanho e forma muito variável.

O limbo é geralmente glabro, de textura delicada e de cor verde-clara e pode possuir forma ovada, ovada-lanceolada ou flabelada, ou seja, limbo estreito na base e largo na parte superior – em forma de leque. A margem do limbo é ligeiramente crenada ou dentada e o pecíolo é de cor avermelhada, castanha ou negra e brilhante, geralmente menor que o limbo.

Foto: El Funcionario/WikiCommons

As estruturas reprodutoras de esporos – soros – da avenca, são visíveis agora, durante o início do verão. Estão dispostas na página inferior das folhas, ao redor da margem. Os soros são formados por grupos de esporângios, que surgem em duas a dez linhas paralelas à borda da folha, e estão cobertos por uma “aba” formada pela própria folhagem, formando um falso indúsio cartilaginoso. Os esporos são muito pequenos, globulares, triletes, granulares e quando maduros possuem um tom acastanhado.

A dispersão dos esporos ocorre após a sua maturação e é o vento o principal agente de dispersor dos mesmos que, após caírem sobre o substrato e em condições favoráveis, brotam facilmente dando origem a uma nova planta.

Espécie que ocorre em quase todo o planeta

A avenca é uma planta cosmopolita, que se distribui por todos os continentes, excepto nas regiões polares.

É comum encontrar esta planta em ambientes húmidos e sombrios, em associação com fetos e musgos, colonizando fendas de rochas e muros, fontes, cascatas e outros locais onde os níveis de humidade atmosférica são altos.

O habitat preferencial da avenca passa por locais com exposição solar muito reduzida, embora necessite de luz difusa para se desenvolver. A nível edáfico requer solos húmidos, não encharcados e bem drenados e preferencialmente com pH básico (superior a 7).

Esta planta é intolerante a baixas temperaturas e também não suporta ventos diretos e excessivos.

A avenca é mundialmente conhecida como planta ornamental, sendo muito utilizada em jardins e em projetos paisagísticos para embelezamento de espaços.

É uma excelente escolha para complementar jardins de pedra e jardins de chuva, para cobertura de solo em áreas sombrias, para canteiros e bordaduras sombreadas, para revestimento de paredes de rocha, onde a humidade está presente, em bosques, ou simplesmente em vasos, suspensos ou não, no interior das casas.

Em condições mais desfavoráveis de desenvolvimento, nomeadamente no verão, quando as temperaturas são muito elevadas e há escassez de água, a avenca pode tornar-se dormente, ficando apenas o rizoma subterrâneo ativo durante esse período mais desfavorável, retomando o desenvolvimento de frondes quando as condições favoráveis ​​retornarem.

Foto: Ana Júlia Pereira/Flora-On

Um cuidado muito particular com estas plantas, para que se mantenham saudáveis e frondosas, é o da eliminação regular das frondes secas, cortando pela base os seus caules de forma a estimular o surgimento de novos rebentos a partir do solo.

Repleta de propriedades terapêuticas

A origem etimológica do nome científico desta espécie – Adiantum capillus-veneris – está relacionada com algumas das suas propriedades terapêuticas.

O termo genérico Adiantum deriva do termo grego adianton, nome dado às espécies de avenca, formado pelo prefixo a- (sem) e o termo -diainen (molhar), que significa “não se molha”, em referência às suas folhas (frondes), que em contacto com a água não se molham – repelem a água.

O restritivo específico capillus-veneris deriva de capillus = cabelo e do genitivo de Vênus, que combinados significam “Cabelo de Vénus”. Segundo a mitologia grega e romana, quando a Deusa Vênus saiu da espuma do mar, tinha os cabelos completamente secos, referência às propriedades hidrófugas das frondes.

A avenca também tem aplicação em fitoterapia, sendo popular a sua utilização na medicina tradicional. Esta planta tem diversas propriedades terapêuticas, tais como: anti-inflamatória, depurativa, expectorante, vermífuga, antifúngica e antibacteriana.

Segundo referências etnofarmacologicas, a avenca é indicada para tratar problemas de caspa, queda e crescimento de cabelo e para favorecer a sua cor escura. Também é utilizada no tratamento de eczemas, dismenorreia, no tratamento de resfriados, tosse, catarro, e outras inflamações das vias respiratórias, nomeadamente bronquite, laringite, faringite e asma.

Como acontece com qualquer planta que possua propriedades medicinais, é importante reter que a avenca não substitui o aconselhamento e acompanhamento médico.

Durante centenas de anos, estas plantas foram vistas como plantas enigmáticas, sobretudo pelo facto de não produzirem flores e não formarem sementes. Era enorme o mistério que as envolvia e, talvez por isso, ainda hoje carregam a fama de espantar o mau-olhado.

Esta planta elegante, de aspeto sensível, delicado e irregular, é perfeita para dar aquele charme e leveza aos espaços. Fica bem em qualquer jardim, ou até no interior de uma casa, desde que sejam atendidas as suas principais necessidades: calor, humidade e luz difusa. 

E energia positiva.

Dicionário informal do mundo vegetal:

Perene – planta que tem um ciclo de vida longo e que viver três ou mais anos. Herbácea – planta de consistência não lenhosa e verde.
Rizomatosa – planta cujo caule é subterrâneo (rizoma).
Rizoma – caule subterrâneo, que cresce geralmente na horizontal, com aspeto de raiz, composto de escamas e gemas, como se de um caule aéreo se trata-se.
Touça – parte da planta que compreende a base do caule e da raiz).
Fronde – Folhas típicas dos fetos e de outras plantas (ex. palmeiras).
Folíolo – cada uma das partes em que o limbo, de uma folha composta ou recomposta, se divide.
Peciolada – provida de pecíolo – “pé” da folha que liga o limbo ao caule.
Alterna – folha que ao longo do caule se insere de forma alternada, uma em cada nó.
Polimorfa – órgão que se apresenta sob formas diferentes, numa mesma planta.
Limbo – parte larga de uma folha normal.
Glabra – sem pelos.
Ovada – folha com a forma de um ovo mais larga perto da base.
Ovada-lanceolada – folha com base atenuada e à medida que chega ao ápice vai ficando com forma oval.
Flabelada – folha em forma de leque.
Crenada – margem com recortes arredondados.
Esporo – célula reprodutora de algumas plantas, como por exemplo os fetos, que dão origem ao protalo – indivíduo de corpo simples, sem estrutura vascular, formado a partir da germinação do esporo e que ocorre em plantas que não produzem semente.
Soro – Agregados densos de esporângios.
Esporângio – Estrutura membranosa ou cápsula em forma de saco, onde se formam e se armazenam os esporos.
Indúsio – formação, geralmente laminar, que protege e cobre os soros de certos fetos.
Trilete – esporos com forma triangular.

Carine Azevedo

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