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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 3 de setembro de 2022

A navalha de Ockham e o Folclore Português

 A navalha de Ockham


O inglês Guilherme (William) de Ockham nasceu no século XIII e ficou na história da humanidade como um dos grandes pensadores universais.

Este monge franciscano criou as bases da escola filosófica que prevaleceu durante alguns séculos, conhecida como Empirismo e que ditou o fim da era medieval das trevas, das pestes e do misticismo temeroso, servindo de alicerce a todo o pensamento e criação renascentistas.

A ele se deve, ainda, o conceito da “navalha de Ockham“, pelo qual se estabelece que não deveremos multiplicar entidades para além do necessário e que a natureza e a vida dos povos é, em si mesma, simples e não se multiplica em vão.

Este conceito filosófico proporciona o seguinte efeito prático: uma solução simples pertence a um nível superior, apenas possível numa combinação conveniente de experiência, competência e conhecimento.

As estátuas criadas por Miguel Ângelo ou Soares dos Reis desde sempre existiram dentro dos seus blocos de pedra. O trabalho destes artistas foi retirar os pedaços de pedra que estavam a mais e tapavam a contemplação da Pietá ou do Desterrado.

Os seus processos foram os da simplificação, que é uma capacidade das pessoas experientes e raramente uma competência das pessoas apenas sabedoras.

“A cultura tradicional portuguesa está dentro de cada grupo de folclore”

Pode dizer-se, também, que a cultura tradicional portuguesa está dentro de cada grupo de folclore, não se vendo muitas vezes devido ao excesso do que está a mais: os foles cheios de teclas, os recos e as pandeiretas nas tocatas, as rendas e os folhos nos trajos, a exposição de ouro, as cores berrantes, as cabeças descobertas, a gritaria das cantadeiras, os rodopios, os pulos e a batidela de pés, as danças “alindadas”e os andamentos infernais, as fitas e os estandartes, os desfiles, as voltas no palco, o vira de entrada e a moda de saída, as velhas encenações em formatura de linha ou de círculo, os dançarinos mudos, os chapéus de palha à cowboy, as saias pelo meio das canelas, as pontas das cintas caídas, as borlas nas fitas do chapéu ou chapéus de aba curtinha ao estilo dos palhacinhos.

E, sobretudo, a dança, a dança e a dança, que não realçam o canto e diminuem o folclore do povo português que possui muitas outras formas de expressão.

O nosso inglês William, nascido na vila de Ockham, era um livre-pensador, coisa rara na época dos escolásticos e do poder temporal do papado.

Ao lançar as bases do empirismo, desmontou a arrogância e o pedantismo dos pensadores oficiais da igreja, deslumbrados com os seus domínios e rendidos aos excessos temporais e materialistas.

Foi perseguido e acusado de herege, ao defender que apenas a experiência permite conhecer a causa ou o fundamento das coisas. Esta base do empirismo deveria ser aplicada por todos os folcloristas.

Nota para os folcloristas portugueses

Naturalmente, o frade de Ockham demonstrou que a infalibilidade do papa era também uma treta, forjada pelos humanos sem qualquer razão divina; foi excomungado e se não fosse o refúgio na corte de Munique do imperador do Sacro Império Romano Germânico, que andava aborrecido como papa, não teria escapado à fogueira.

A procura da verdade ocupa a humanidade ao longo de milénios, em particular os seus melhores pensadores. Este percurso perturbado por questões de fé, de crendice, de fanatismo e do falso conhecimento, também chamado de ignorância.

Mas, ao longo destes milénios, poucos deram um contributo tão válido como o frade inventor da “navalha de Ockham“, apesar do obscurantismo da Idade Média e da intolerância face ao pensamento não oficial.

Os folcloristas portugueses, nesta fase de aperfeiçoamento, mudança e melhoria da representatividade, deverão notar que “…existindo diversas soluções ou teorias e não havendo evidências que comprovem se é mais verdadeira alguma em relação a outras, vale a mais simples, ou se existirem dois caminhos que levem ao mesmo resultado, usa-se o mais curto, e que pode ser provado sensorialmente ou através de factos”.

Neste processo de simplificação, a criatividade é indispensável, pois permite vencer o fanatismo, a crendice ou a imobilidade presa às velhas encenações do estado novo salazarista, adoptadas nos últimos trinta anos como tradição portuguesa, fixando-se como clichés, quando deveriam ser apenas as marcas efémeras de um regime autocrático e elitista.

Fonte: “Dignificar o Folclore”, Manuel Farias (edição e subtítulos da responsabilidade da Equipa do Portal do Folclore Português)

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Guilherme de Occam ou Ockham (c. 1285 – c. 1349)

Foi um monge franciscano, teólogo e filósofo inglês, estudou em Oxford, tendo mais tarde vindo a ensinar na mesma Universidade.

Foi o fundador do nominalismo filosófico da Idade Média tardia e antecipou os princípios da teoria empirista do conhecimento. Também escreveu abundantemente sobre lógica e política.

Por ter defendido a ideia de que a livre predestinação divina abstraia dos méritos humanos, foi acusado de heresia em 1324 e convidado a apresentar se na corte pontifícia de Avinhão, tendo sido excomungado em 1328.

Em vez disto, e depois de ter apoiado os Franciscanos na questão da pobreza monástica, a que o papa se opunha, refugiou-se na Baviera e, aí, a partir do palácio de Luís, exigiu numa série de escritos polémicos uma separação mais nítida entre a lqreja e o Estado, assim como um tribunal especial de Estado para julgar as intromissões pontifícias nos assuntos temporais.

Ockham é recordado pelo princípio filosófico conhecido como «Lâmina de Ockham» (ou «Navalha de Ockham»), que diz que a explicação mais simples é a melhor; nas suas palavras, «a abundância não deve ser usada sem necessidade».

Fonte: Dicionário Ilustrado do Conhecimento Essencial e História Universal Comparada – VI

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