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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

FAVORITAS 4 - Eis duas coisas que se vão vendo cada vez menos.

Primeira coisa: crianças que brincam uma com a outra ao ar livre. Em matéria de jogos, o que se vê hoje, cada vez mais, é crianças em casa a brincar solitárias com um ‘tablet’ ou geringonça equivalente. (E pergunto-me: que geração sairá daqui?)
Segunda coisa: a neve. Botem-lhe lá as contas bem botadas e digam-me há quantos anos não veem um nevão a sério, daqueles que estimulavam as pessoas, sobretudo rapazes e raparigas, a sair para a rua para jogar a pelotada. 
 Enfim, são duas coisas da nossa infância que nos abandonam, do mesmo modo que nos abandonam os dentes, a vista, o ouvido, os músculos, o vigor genesíaco e muitas vezes o siso. Claro que temos a boia de salvação que é a memória a contar-nos como era nos tempos heroicos de sermos verdadeiramente meninos e meninas.
 No que toca à neve, recordo um episódio de que fui vítima, teria eu os meus dez ou onze anos. Não é uma recordação que se possa dizer que tenha sido agradável, mas acabou por — do mal o menos — ter consequências positivas na minha história de vida. 
Querem saber o que foi? Pois foi apenas isto: um braço partido na neve. Para fugir a uma pelotada com que um meu irmão mais velho me ameaçava, escorreguei, caí e parti um braço. O esquerdo. Perguntarão agora os meus Amigos que diabo de consequências positivas podia ter um acidente destes. Calma. 
Se fosse só isso que aconteceu, dificilmente me teria ajudado como ajudou. Mas é que há mais. Acontece que o médico que me tratou, um jovem inexperiente praticamente acabado de sair da universidade, fez mal o seu trabalho e deixou-me o braço defeituoso para o resto dos meus dias. Conclusão: fiquei isento, na inspecção militar. Isento, note-se, no ano em que Angola começava a revoltar-se contra o colonialismo português e já eram aproveitados para carne para canhão mancebos que no ano anterior teriam ficado livres ‘com uma perna às costas’ (modo de dizer, com toda a facilidade). Ou seja, o meu braço defeituoso safou-me da tropa, que à época não era pêra doce, enquanto muitos dos meus amigos e colegas foram malhar com os ossos a alguma das colónias, perdão, províncias ultramarinas. 
Claro que o braço defeituoso também teve os seus aspectos negativos na minha vida. Oh, se teve... Mas dispenso-me de os enumerar, já que qualquer dos meus Amigos FB pode perfeitamente imaginar o que poderá ter sido. Eu prefiro focar-me na parte positiva do caso, e termino este apontamento de hoje com um ditado francês que tem aqui inteiro cabimento: “À quelque chose malheur est bon”.

A. M. Pires Cabral

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