Primeira coisa: crianças que brincam uma com a outra ao ar livre. Em matéria de jogos, o que se vê hoje, cada vez mais, é crianças em casa a brincar solitárias com um ‘tablet’ ou geringonça equivalente. (E pergunto-me: que geração sairá daqui?)
Segunda coisa: a neve. Botem-lhe lá as contas bem botadas e digam-me há quantos anos não veem um nevão a sério, daqueles que estimulavam as pessoas, sobretudo rapazes e raparigas, a sair para a rua para jogar a pelotada.
Enfim, são duas coisas da nossa infância que nos abandonam, do mesmo modo que nos abandonam os dentes, a vista, o ouvido, os músculos, o vigor genesíaco e muitas vezes o siso. Claro que temos a boia de salvação que é a memória a contar-nos como era nos tempos heroicos de sermos verdadeiramente meninos e meninas.
No que toca à neve, recordo um episódio de que fui vítima, teria eu os meus dez ou onze anos. Não é uma recordação que se possa dizer que tenha sido agradável, mas acabou por — do mal o menos — ter consequências positivas na minha história de vida.
Querem saber o que foi? Pois foi apenas isto: um braço partido na neve. Para fugir a uma pelotada com que um meu irmão mais velho me ameaçava, escorreguei, caí e parti um braço. O esquerdo. Perguntarão agora os meus Amigos que diabo de consequências positivas podia ter um acidente destes. Calma.
Se fosse só isso que aconteceu, dificilmente me teria ajudado como ajudou. Mas é que há mais. Acontece que o médico que me tratou, um jovem inexperiente praticamente acabado de sair da universidade, fez mal o seu trabalho e deixou-me o braço defeituoso para o resto dos meus dias. Conclusão: fiquei isento, na inspecção militar. Isento, note-se, no ano em que Angola começava a revoltar-se contra o colonialismo português e já eram aproveitados para carne para canhão mancebos que no ano anterior teriam ficado livres ‘com uma perna às costas’ (modo de dizer, com toda a facilidade). Ou seja, o meu braço defeituoso safou-me da tropa, que à época não era pêra doce, enquanto muitos dos meus amigos e colegas foram malhar com os ossos a alguma das colónias, perdão, províncias ultramarinas.
Claro que o braço defeituoso também teve os seus aspectos negativos na minha vida. Oh, se teve... Mas dispenso-me de os enumerar, já que qualquer dos meus Amigos FB pode perfeitamente imaginar o que poderá ter sido. Eu prefiro focar-me na parte positiva do caso, e termino este apontamento de hoje com um ditado francês que tem aqui inteiro cabimento: “À quelque chose malheur est bon”.
Segunda coisa: a neve. Botem-lhe lá as contas bem botadas e digam-me há quantos anos não veem um nevão a sério, daqueles que estimulavam as pessoas, sobretudo rapazes e raparigas, a sair para a rua para jogar a pelotada.
Enfim, são duas coisas da nossa infância que nos abandonam, do mesmo modo que nos abandonam os dentes, a vista, o ouvido, os músculos, o vigor genesíaco e muitas vezes o siso. Claro que temos a boia de salvação que é a memória a contar-nos como era nos tempos heroicos de sermos verdadeiramente meninos e meninas.
No que toca à neve, recordo um episódio de que fui vítima, teria eu os meus dez ou onze anos. Não é uma recordação que se possa dizer que tenha sido agradável, mas acabou por — do mal o menos — ter consequências positivas na minha história de vida.
Querem saber o que foi? Pois foi apenas isto: um braço partido na neve. Para fugir a uma pelotada com que um meu irmão mais velho me ameaçava, escorreguei, caí e parti um braço. O esquerdo. Perguntarão agora os meus Amigos que diabo de consequências positivas podia ter um acidente destes. Calma.
Se fosse só isso que aconteceu, dificilmente me teria ajudado como ajudou. Mas é que há mais. Acontece que o médico que me tratou, um jovem inexperiente praticamente acabado de sair da universidade, fez mal o seu trabalho e deixou-me o braço defeituoso para o resto dos meus dias. Conclusão: fiquei isento, na inspecção militar. Isento, note-se, no ano em que Angola começava a revoltar-se contra o colonialismo português e já eram aproveitados para carne para canhão mancebos que no ano anterior teriam ficado livres ‘com uma perna às costas’ (modo de dizer, com toda a facilidade). Ou seja, o meu braço defeituoso safou-me da tropa, que à época não era pêra doce, enquanto muitos dos meus amigos e colegas foram malhar com os ossos a alguma das colónias, perdão, províncias ultramarinas.
Claro que o braço defeituoso também teve os seus aspectos negativos na minha vida. Oh, se teve... Mas dispenso-me de os enumerar, já que qualquer dos meus Amigos FB pode perfeitamente imaginar o que poderá ter sido. Eu prefiro focar-me na parte positiva do caso, e termino este apontamento de hoje com um ditado francês que tem aqui inteiro cabimento: “À quelque chose malheur est bon”.
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