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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Mogadouro: do poderio dos Templários à terra d'Os Meus Amores

 Em terra dominada pela Ordem dos Templários e pelos Távoras ao longo de séculos, as tradições ancestrais e uma cultura muito própria foram sendo mantidas até aos dias de hoje


Mogadouro é um território de tradições ancestrais e uma das faces mais visíveis serão porventura os rituais de Inverno, cuja origem não se conhece, mas seguramente remontam ao início dos tempos. “Avento a hipótese de terem surgido quando o homem se começou a dedicar à agricultura, porque o simbolismo desses rituais está quase todo ligado aos ciclos da natureza, da produção, do homem enquanto agente que interfere com a natureza”, explica Antero Neto, investigador destas festas, que já escreveu sobre as seis, ainda activas, no concelho: o Farandulo de Tó, os Velhos de Bruçó, os Chocalheiros de Bemposta e de Vale de Porco, assim como as recentemente revitalizadas em Vilarinho dos Galegos e Valverde.

Das máscaras à música tradicional

Por norma, os chocalheiros e outras figuras, andam pelas casas a recolher as esmolas, em festas que acontecem entre 25 de Dezembro e 6 de Janeiro, mas há também lutas e outras encenações.

“Como a igreja católica acabou por assimilar estes rituais pré-cristãos, há uma simbiose e a esmola é pedida para o menino”, que é dada em géneros, depois leiloados.

Em termos ritualísticos, as festas do Farandulo Tó e dos Velhos de Bruçó são as que se destacam para Antero Neto. “Têm vários actores, interagem com a população de forma muito criativa e dinâmica, ao longo de toda a aldeia vão produzindo uma festa que é muito rica do ponto de vista visual e folclórico”, refere.

Uma das máscaras mais reconhecidas é a do Chocalheiro de Bemposta, no entanto, Antero Neto acredita que está demasiado “folclorizada” e até descaracterizada, porque há várias versões que “não correspondem às que existiam há 40 ou 50 anos”, no entanto, a associação Maschocalheiro, em Bemposta, “tem tentado recuperar a máscara que era usada antigamente”.

Sendo fenómenos dinâmicos, foram evoluindo e adaptando-se em alguns aspectos. “Vejo por vezes críticas à indumentária, nomeadamente ao uso de sapatilhas [pelos mascarados], mas antes de haver botas provavelmente andariam descalças”, sublinha Antero Neto, que acredita que “tem havido um esforço muito grande de preservação destes rituais, mas não é fácil” devido à desertificação. “Antes movimentava dezenas e dezenas de jovens, agora a festa faz-se só para que não morra. Os mascarados normalmente eram jovens, solteiros, e hoje já se vêem homens casados e de 40 e 50 anos a vestirem-se”, sublinha.

Tentar fazer com que estes fenómenos identitários não desapareçam e promovê-los pode ser uma forma de promoção do território e “atrair visitantes, sejam estudantes investigadores ou turistas”, acredita Antero Neto.

Tradições que também não se perderam foram a dança dos pauliteiros e as gaitas-de-foles. Victor Valdemar Lopes recorda que o concelho de Mogadouro “sempre foi muito rico em exímios tocadores de gaita-de-foles”.

Em relação ao concelho de Mogadouro, há registos de que um Chantre, um alto dignitário eclesiástico, numa visita à região, vai a Miranda do Douro, e no regresso, passa pela aldeia de Vila de Ala, no concelho de Mogadouro, onde é recebido por gaiteiros. Em 1609, Severim de Faria escrevia sobre a visita: “os instrumentos que tangem são gaitas-de-fole que tocam com gentil arte e destreza…”.

Durante o século XX ainda se mantinham alguns tocadores em várias aldeias do concelho, e a tradição parece estar para se manter, muito devido ao trabalho feito nas oficinas de música que o município criou há alguns anos. “Hoje em Mogadouro dá-se um pontapé numa pedra e aparece um gaiteirico”, ironiza Victor Valdemar Lopes.

A construção do instrumento é outra das apostas que deverá avançar em breve. “Normalmente, ninguém ensina segredos, neste caso, graças à disponibilidade do arquitecto Jorge Lira, vamos fazer e ensinar como se fabrica uma gaita-de-foles”, afirma. Tal será possível na oficina totalmente pronta e equipada que existe na Casa da Gaita e Gaiteiro inaugurada em 2019. Este centro de documentação e interpretação de gaita-de-foles, com exposição permanente de instrumentos esteve um pouco parado, mas deve voltar a cumprir o propósito para que foi criado. “É importante sabermos quem foram os gaiteiros, e se possível trazer um espólio nomeadamente como empréstimo, que são coisas únicas e só estão em casa dos proprietários”, afirmou.

O objectivo é que na loja interactiva as pessoas possam não só comprar um instrumento como fabricá-lo. E apesar de o processo de construção ser moroso, parece haver interessados. “Quando o projecto ia arrancar, tivemos o contacto de um senhor japonês que queria vir morar para Mogadouro para fabricar a sua gaita-de-foles e não se importava de pagar o que fosse preciso, queria era tomar conhecimento de todo o processo”, conta.

Victor Valdemar Lopes acredita que “tudo o que sejam actividades ancestrais culturais e ancestrais estão na moda, neste momento, tanto a dança de paus como as gaitas-de-foles, os bombos, as caixas, as danças tradicionais”, o que acha “fantástico”, senão “qualquer dia não se sabia o que se fazia antigamente”.

“Os Roleses” são um dos grupos do concelho que mantém viva a tradição. Carlos Alves explica que o grupo nasceu em 2009, depois de os elementos iniciais terem começado a aprender música tradicional para acompanhar o gaiteiro que actualmente é o mais velho do concelho e o segundo mais velho do país, o Ti Zé Maria, natural da aldeia de Urrós. “Depois, como ele, devido à idade não nos acompanhava sempre surgiu a opção de alguém aprender a tocar gaita-de-foles, eu disse que tentaria e um grupo de amigos fez uma ‘vaquinha’ para ajudar a comprar o instrumento”, conta. As três primeiras músicas aprendeu-as com o Ti Zé Maria, que diz sempre se disponibilizou para transmitir os seus conhecimentos. “Tem uma personalidade muito própria e foi um homem que para se destacar nunca teve de esconder nada e sempre ensinou e passou aquilo que sabia, o lugar dele está lá”, afirma. Apesar da idade, 87 anos ainda vai tocando em algumas ocasiões. O grupo que conta ainda com Sérgio Delgado, no bombo, e Luís Granado, na caixa, tem actuações por toda a região, noutros pontos do país, e até no estrangeiro sendo que em 2019 tiveram cerca de 100 actuações “o que requer algum jogo de cintura, mas quem corre por gosto não cansa”.

Da influência dos Templários ao morgadio dos Távoras

Este é um território muito antigo, com vestígios de ocupação humana que remontam há pelo menos 20 mil anos, como ficou comprovado com as descobertas do período do paleolítico nos trabalhos arqueológicos realizados antes da construção da barragem do Baixo Sabor, quando foi descoberto “um importante conjunto e enterramentos do paleolítico e do calcolítico”, destaca Emanuel Campos, Arqueólogo Municipal. As mamoas, monumentos funerários que datam de 7000 a 6000 anos Antes de Cristo, e que se encontram em vários pontos do planalto, “quase como se marcassem o território”, são outros dos vestígios mais antigos da ocupação deste território.

No concelho houve ainda povoados do neocalcolítico e, mais tarde, povoados fortificados da Idade do Ferro, os chamados castros, que no território são mais conhecidos até por castelos, o Castelo do Mau Vizinho, em Algosinho, o Castelo Velho ou o Castelo dos Mouros de Vilarinho dos Galegos. Da época pré-romana, existem várias estelas no Salgueiral e em Castro Vicente, em pedra talco, com representações zoomórficas, o que está ligado à cultura dos berrões, estando Mogadouro “praticamente no centro dessa cultura dos berrões” e há não só representações de porcos, javalis, como de touros e cervídeos.

O primeiro foral do actual concelho é atribuído por D. Sancho I a Penas Róias em 1187. Mas este ano, Mogadouro está a comemorar 750 anos de foral, sendo a primeira carta de foral conhecida de 1272, passada por D. Afonso III. “A política administrativa de criação quase de um Estado começa nesse reinado, quando são atribuídos a muitas localidades da região foral, com o propósito de afirmar o poder régio”, até porque esta franja de Trás-os-Montes ainda não estava bem definida em termos de linha de fronteira nem a quem realmente iria pertencer, já que os próprios habitantes tinham um certo grau de autonomia. Mais tarde D. Dinis também vai passar foral a Bemposta em 1315.

No período de formação do reino, a Ordem dos Templários teve grande importância nestas terras, já que recebeu as terras de Mogadouro e Penas Róias, em meados do século XII, por Fernando Mendes Bragançano, com o propósito de dinamizar as zonas de fronteira a nível económico e também de certa forma a salvaguardar a zona de algumas incursões muçulmanas que pudessem existir.

Entregar os territórios a uma ordem religiosa militar também “tinha o pressuposto de criar uma dinâmica económica”.

São os Templários que constroem o castelo de Mogadouro e de Penas Róias, sendo que neste último existe na pavieira da entrada do castelo o símbolo dos templários. Já no de Mogadouro há apenas registos documentais, da entrega das terras, visto que o castelo sofreu várias alterações e foi-se degradando. “A própria porta esteve escancarada no século XX, a ter havido qualquer elemento já terá desaparecido”, sublinha.

Os castelos, desde Mogadouro até Bragança e Vinhais, passando por Penas Róias, Algoso e Outeiro, formam uma linha defensiva, já que têm entre eles uma amplitude de visão que permite a comunicação de um castelo para o seguinte.

Já no século XV, o castelo de Mogadouro foi convertido em residências quase palacianas, quando é entregue à família Távora. “Esta família foi muito relevante para o território e o castelo e as terras de Mogadouro foram-lhe entregues por D. João I devido ao apoio na sua causa de se tornar rei”, esclarece.

Mais tarde os Távoras são confirmados como senhores de Mogadouro. “O primeiro senhor de Mogadouro foi Álvaro Pires de Távora, com plenos direitos sobre alguns rendimentos que aqui existiam, o castelo é residência da família até 1759”, afirma, sublinhando que a linhagem que esteve em Mogadouro “é a principal, a de chefe da casa da família Távora”, e os senhores Mogadouro foram os últimos membros da linhagem e aqueles que foram mortos e executados em 1759, na acusação de tentativa de regicídio contra D. José I”, feita pelo Marquês de Pombal.

A família Távora foi “mesmo muito relevante para o território”, já que foram responsáveis pela criação de grande parte dos bens culturais de maior relevo do concelho, como a Igreja da Misericórdia, da Igreja de S. Francisco e do Convento, onde habitaram frades e também se leccionava. “Havia aulas de teatro, filosofia, latim, não era um território que ficava à margem ou periférico” e “havia alta cultura, obras de arte, inclusive nas igrejas, património cultural barroco, por exemplo, como na igreja de Castro Vicente que tem um altar barroco precioso”, que denota bem o conhecimento de arte de elite.

Outro património relevante são as igrejas de Algosinho e de Azinhoso, cujas origens são medievais, dos séculos XIII ou XIV, templos românicos com alguns elementos góticos, ou o Monóptero de S. Gonçalo, um pavilhão circular do século XVIII, mandado erigir pela família Távora. “O mais destacável e sui geneniris é o seu contexto espacial, em pleno centro da natureza, junto à água, à floresta”, sendo um imóvel de interesse público, está em propriedade privada e encontra-se actualmente em avançado estado de degradação.

Agropecuária como base da economia

A agricultura e a pecuária são as principais actividades económicas do concelho. As culturas em maior número e em crescimento são a oliveira, a vinha e o amendoal. No campo da pecuária, o concelho já foi o quarto maior fornecedor de leite para a Agros, mas nos últimos anos houve um “revés muito grande” com a quebra de produção. “Com a crise no sector a maior parte das vacarias de produção de leite fecharam”; afirma António Marcos, presidente da Cooperativa Agrícola Sabodouro. O responsável garante, no entanto, que os associados “não ficaram parados”, já que muitos converteram a exploração, apostaram em vacas de carne, nomeadamente mirandesas, outros em pequenos ruminantes. “Lá se foram desenrascando, só uma parte pouco significante dos produtores deixou a pecuária”.

O presidente da cooperativa mostra alguma preocupação com o panorama do sector. “Na agricultura não foi preciso a pandemia vir para entrar em crise, mas ajudou. Neste momento luta-se com muitas dificuldades, o dinheiro dos sócios é cada vez menos e o consumo dos produtos que a cooperativa vende também vai diminuindo”, o que é um indicador de que se produz menos no concelho, porque “há algum receio de investir a nível agrícola”.

Para a actividade ser mais atrativa para os jovens, António Marcos acredita que devia haver “mais apoio por parte do Estado, para aumentar a produção do olival e dos bovinos”, sustenta.

Um dos produtores que transformou a exploração com bovinos de produção de leite foi Belarmino Pinto, de 70 anos, de Urrós. Durante 40 anos teve a exploração porque entendia que “o leite era rentável”. Tal como muitos outros habitantes do concelho apostou neste tipo de animais quando em meados dos anos 70 do século passado abriram as salas de ordenha colectivas.

Em 2014, deixou de ter vacas de leite, por uma questão de cansaço, mas também por a perceber que a rentabilidade já não era a mesma.

A opção foi então apostar em novilhas de carne, com alguma área de amendoal e de olival. “Mas dá-me impressão que nunca o amendoal e olival serão tão rentáveis como foi o leite nessa altura”, porque “os preços eram justos, os custos de produção não eram iguais aos de hoje, as rações eram muito mais baratas, depois começaram os cereais e outras matérias-primas a subir e o preço do leite continuou naquele patamar”, referiu.

Gastronomia e Cogumelos

A agricultura é a base da rica gastronomia do concelho, que é um atractivo para os visitantes, desde a posta, a costeleta de vitela, mas também cordeiro e pratos de caça. Iguarias que não faltam no menu do restaurante A Tasquinha, que tem apostado em recuperar também sabores tradicionais. “As coisas que as pessoas comiam antigamente, vamos buscar isso e trazemos para o restaurante, vamos brincando um bocadinho com os sabores antigos”, como folar de sardinha, canja de perdiz, barbos ou pudim de castanha, conta Elisabete Gomes, proprietária do restaurante.

Na capital do cogumelo, a oferta deste produto no menu passou a ser diária. “Começámos a apostar mais nos cogumelos da região e todos os produtos da época. Agora são usados cogumelos de estufa e em Outubro, Novembro e Abril vamos recorrer aos silvestres. Aí teremos muito mais oferta, porque temos a qualidade desses cogumelos.”, sublinha.

As propostas passam por repolgas salteadas como entrada, que são produzidas em Valverde, e num prato de arroz de cogumelos com avelãs, uma incursão no mundo vegetariano em Mogadouro, pouco comum em terras de boa carne. “Demorou a entrar, mas agora está a ser apreciado”, sublinha. Além das repolgas, são usados cogumelos shiitake de Vimioso e cogumelos Paris cultivados na zona industrial de Mogadouro.

“O que conta é apostar também nos produtores da região e temos produtores a cultivar muito bem cogumelos, nomeadamente em Mogadouro, porque tem condições para isso, devido ao próprio terreno e envolvência. As pessoas têm preconceito de que os cogumelos cultivados não são tão bons, mas conseguimos características únicas cá que noutros sítios não se conseguem”, afirma a o chef Luís Martins, que se mudou recentemente de Lisboa para Mogadouro, terra da família.

O restaurante promete ter mais pratos de receituário da região revisitado. “Antes havia muitas receitas de cogumelos estufados, torta de ovos com cogumelos e isso tem de se voltar a recuperar e de forma moderna, não desestruturando o que é a nossa cozinha”, afirma o chef Luís Martins.

Os cogumelos são um atractivo para chamar pessoas à região, além da gastronomia, também pelas saídas de campo. “Para as pessoas que vivem nas cidades é sempre um escape virem para o campo apanhar cogumelos”, sustenta Manuel Moredo, da Associação Micológica Pantorra.

Mogadouro ganhou o título certificado de Capital do Cogumelo com o “objectivo de promover e valorizar o produto”, afirma, considerando que “há um crescendo de valorização que há 20 anos não existia”.

Os cogumelos mais comuns em Mogadouro são o boleto, o que tem mais procura, e o lactarius deliciosus, conhecido como sancha ou míscaro. A falta de regulação do sector é um problema e não tem havido avanços no processo, que seria “importante que para evitar certo tipo de abusos”, que leva a “que 90% dos proprietários dos terrenos onde nascem cogumelos não usufruam do produto, não são eles que os vão vender”.

De qualquer maneira, já há alguma riqueza que se traz para os proprietários e para quem os apanhas. No entanto, a venda é maioritariamente para Espanha. “Infelizmente, em Portugal ainda temos poucas empresas que lidem com os cogumelos. Neste sector, estamos atrasados aí 50 anos, em relação a outros países, como França, Espanha e Itália, praticamente só acordámos para a venda e comércio dos cogumelos há uns 20 anos”, aponta.

Terra de artes, das letras à escultura

Na pequena aldeia de Quinta das Quebradas encontramos um atelier de escultura de Manuel Barroco, que decidiu há alguns anos mudar-se de Lisboa, onde vivia desde que estudou na Faculdade de Belas Artes. “Desde miúdo que era bom, diziam que eu era bom em desenho e fazia pequenos trabalhos”, conta. Na faculdade optou por escultura e profissionalmente deu aulas em Lisboa, ao mesmo tempo que se dedicava à escultura. “Fiz exposições em todo o país” e participou em várias bienais de arte, tendo recebido alguns prémios nesses encontros.

O material preferencial usado era o bronze, depois o poliéster e os dois em conjunto. “Tenho aqui experiências de bronze e poliéster que hoje já não sei bem como consegui fazer isso, já me esqueci. Assim como algumas cores, as pátinas, fazia experiências no bronze, com as bases, sais e ácidos e conseguia tons incríveis, de qualquer cor, primária ou secundária”, sublinhou.

As temáticas da sua obra são várias, desde a anatomia humana, mais feminina, mas também figuras aquáticas. “Tirava partido das texturas que recordava de Trás-os-Montes, destas fragas que têm uma textura rugosa. A minha escultura é caracterizada por uma dualidade de zonas polidas com zonas texturadas, o que é influenciada pela textura das rochas transmontanas aqui da nossa zona. Toda a textura da parte xistosa faz parte da gramática da minha escultura”, que acaba por ser um traço identitário da sua obra.

Aqui admite que o ambiente, o sossego, a calma, a natureza, as oliveiras retorcidas, as rochas servem de inspiração.

As esculturas urbanas em jardins, artérias e rotundas são alguns dos trabalhos mais conhecidos do escultor. O último trabalho do artista é a escultura dos bombos em Mirandela. Tem escultura de espaço público semelhantes em Lisboa, Sintra, Bragança (monumentos ao cão de gado transmontano e às máscaras), Mogadouro (homenagem ao bombeiro e esculturas de cogumelos), Vimioso, Torre de Moncorvo e fez também trabalhos para a Expo 98. O período de maior produção do escultor foi entre os anos 70 até há cerca de 10 anos, até porque na região tem dificuldade em encontrar colaboradores para fundição e corte de granito. Isso condicionou o tipo de trabalhos que passou a fazer, em Lisboa eram mais trabalhos de atelier e temáticas e em bronze, aqui são mais de exterior. “Optei por estes e não estou descontente, porque até é bom ter trabalhos no espaço público porque o povo passa e vê e numa galeria ou museu é preciso até por vezes adquirir bilhete para entrar e ver”, afirma.

Hoje em dia o ritmo de trabalho já abrandou mais, mas com mais de 50 anos de carreira ainda recebe muitas encomendas e já perdeu a conta às obras que produziu.

À página da história das letras, Mogadouro deu, além do contemporâneo J. Rentes de Carvalho, Trindade Coelho. Livros como “Os Meus Amores”, que reúne contos com inspiração rural, com espaços e personagens da sua terra natal, ou “In Illo Tempore”, celebrizaram o escritor mogadourense. Mas além de jurista e jornalista, Trindade Coelho teve uma vertente cívica muito vincada e menos reconhecida. “Nunca conseguiu abstrair-se da situação de miséria do seu país, onde a população rondava os de 80% de analfabetos”, nomeadamente quando “escreveu para todos, numa incessante cruzada contra o analfabetismo e ignorância. “Os folhetos para o Povo”, que distribuiu de graça), “Os livros de leitura”, “O ABC do povo”, “Primeiras noções de Educação Cívica”, primorosos testemunhos das suas intenções. A este ABC, Trindade Coelho chamou “filho predilecto do seu espírito”, explica Tereza Sanches, investigadora que se dedicou a saber mais sobre a obra e vida de Trindade Coelho, e sobre quem diz que há ainda muito a descobrir, porque, “existem ainda muitas cartas, escritos e milhares de artigos em jornais e revistas que carecem de investigação, estudo e divulgação”.

O presidente

António Joaquim Pimentel
66 anos
Tempo de Mandato: 1 ano
Profissão: Empresário Agrícola

Porque decidiu dedicar-se à política?

O meu envolvimento na política não foi resultado imediato de uma decisão e sim de um processo de amadurecimento social.

Assim que comecei a ter consciência do meu papel enquanto membro da sociedade, tive também a noção de responsabilidade enquanto agente na construção da comunidade e uma enorme vontade de contribuir para que o espaço que partilhamos enquanto cidadãos, seja o concelho, a região, o país ou o mundo, tenha as melhores condições possíveis.

Esta criação de condições propícias à realização pessoal e profissional dos cidadãos só é possível através da implementação de uma gestão política orientada para esses fins.

Deste modo, posso dizer que não fui eu que me meti na política, a política é que se meteu comigo e eu tenho estado a lidar com ela há várias décadas, sempre na tentativa de a conduzir para este objetivo de construção da sociedade equilibrada, justa e produtiva que todos queremos.

Como é ser presidente da Câmara Municipal de Mogadouro?

É muito bom. Mas também é uma tarefa muito exigente. Mogadouro é um concelho com uma grande extensão, tem 8300 habitantes, dispersos por 56 localidades.

Enquanto presidente da Câmara, a minha principal preocupação é atrair pessoas para o território e evitar a saída de mogadourenses para outras áreas.

A minha principal linha de ação tem estado orientada para a criação de melhores condições socioeconómicas para as famílias que se queiram estabelecer no concelho. Nesta senda, têm sido lançados vários incentivos e apoios, na área da educação, da saúde, da empregabilidade e dos investimentos empresariais, de forma a podermos apresentar Mogadouro como um ótimo concelho para viver.

Na atualidade o nosso concelho goza de uma centralidade a nível regional, conferida pelas ligações viárias, pela disponibilidade de serviços públicos e de saúde de que dispomos. Portanto, penso que somos um território a ter em conta para a realização de investimentos públicos e privados, o que me deixa confiante sobre as perspetivas de futuro.

Em suma, posso dizer que ser presidente da Câmara Municipal de Mogadouro é, sobretudo, entusiasmante e motivador, porque todos os dias são cheios de desafios e oportunidades.

Quais são os maiores desafios enquanto autarca?

Hoje em dia um autarca tem desafios muito diferentes dos do passado. Houve um tempo em que os grandes objetivos das autarquias passavam pela infraestruturação do território, com a criação de redes viárias, redes de saneamentos e edifícios de serviços.

Nos últimos anos o paradigma que orienta a ação do autarca foi muito desmaterializado. Atualmente temos praticamente todos os municípios e freguesias do país a competir entre si para atrair investimentos, empresas e pessoas.

A verdade é que temos territórios bem equipados, mas vazios de utilizadores, por isso, o principal desafio da atualidade já não é construir, é povoar as construções, humanizar os edifícios, os serviços e as localidades.

Curiosamente, o desafio de fixar a população no concelho de Mogadouro é muito mais complexo do que o de criar qualquer tipo de estrutura física neste mesmo território. Contudo, estando consciente da enormidade da tarefa a que nos propomos, temos em curso uma série de medidas no campo da economia, do emprego, da educação, da saúde e do apoio social que, certamente, serão fatores chave nesta nossa luta contra o crescente despovoamento do concelho de Mogadouro.

Jornalista: Olga Telo Cordeiro

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