Por: Maria dos Reis Gomes
(colaboradora do Memórias...e outras coisas...)
Recentemente a ouvir a rádio, e depois daquelas entrevistas repetitivas sobre “casos e casinhos”, houve um intervalo no programa a sugerir uma visita a um qualquer lugar no interior do país. Aí um habitante, com um sotaque bem acentuado de quem vive há muito tempo “para lá dos montes”, dizia:
“Lérias não adubam sopas”.
Não ouvi mais nada. Aquela frase sintetizava tudo o que tenho pensado sobre o que vai no mundo e, sobretudo, no nosso país. Revi-me de volta à aldeia dos meus avós onde passei tantas férias de Verão. E chega-me a memória do silêncio das pessoas centradas, sobretudo, no seu trabalho árduo; da forma como se ajudavam mutuamente no trabalho da ceifa e, depois, da malha do centeio; da forma como respeitavam a pouca água que lhe era destinada na ”hora da rega” para refrescar a horta. Eram pouco “palavrosas”, mas muito eficientes. Gente séria, justa, de palavra e de princípios. E é esta seriedade e justeza que não vejo nos dias de hoje. Sobretudo dos exemplos que vêm de cima. E o que é menos mau acaba por ser “sufocado” por tanta anormalidade.
Não sou saudosista. Mas gosto de recordar as pequenas coisas que me fizeram feliz e quem sou. Sinto um orgulho enorme do lugar de onde venho, de ter vivido com os exemplos dessa gente que moldou a minha forma de estar e de ser.
Fico ofendida quando vejo as “deslumbradas” e os “deslumbrados” que viveram como eu a realidade que descrevi e hoje se aproveitam dos “tachos” que lhes são oferecidos (ou que mendigam, tanto dá) para aumentar o seu espólio
Inscrevem-se no Partido não para defenderem os valores proclamados nos seus princípios. Acredito mesmo que a maioria nunca os leu. Nada sabem sobre a sua fundamentação ideológica. Preocupam-se apenas com as leis que podem ajudar nos seus “arranjinhos”.
Sim, estou zangada com o meu país. Zangada com a descrença, zangada com as extorsões. Com um país onde uma grande parte dos governantes ou candidatos a governantes falam muito e fazem pouco, atrapalham-se nas suas confusões e perdem o norte. Quem passa o tempo a gerir conflitos ou a orquestrar a melhor forma de “passar a perna” ao outro não tem tempo para servir o povo que prometeu proteger.
Enquanto tudo isso, espera o SNS com hospitais e centros de saúde a precisarem de obras e equipamentos actualizados bem como o pessoal competente e comprometido com as suas obrigações, que devia ser pago com um preço justo; Espera a Escola Pública a viver, se não o pior, um dos seus piores tempos, com programas desajustados que tornam os alunos desinteressados, com turmas enormes e burocracias que cansam e fazem desistir professores mal remunerados e desclassificados
Enquanto isso, esperamos a concretização das promessas com as quais se iludiram os portugueses a quem foi “anunciada” uma habitação condigna e uma vida longe da fome e da pobreza que se cola ao corpo; Esperamos pelos lares condignos, ou qualquer outro modelo de apoio, a preços acessíveis, que respeite os velhos isolados e abandonados.
Podia continuar a elencar tudo que já sabemos e nos deixa na cauda da Europa. Merecemos mais e melhor.
Como “Lérias não adubam sopas” talvez precisemos de voltar à rua e gritar a nossa indignação…
Tal como dizia Zeca Afonso, "Não me obriguem a vir para rua gritar".
“Lérias não adubam sopas”.
Não ouvi mais nada. Aquela frase sintetizava tudo o que tenho pensado sobre o que vai no mundo e, sobretudo, no nosso país. Revi-me de volta à aldeia dos meus avós onde passei tantas férias de Verão. E chega-me a memória do silêncio das pessoas centradas, sobretudo, no seu trabalho árduo; da forma como se ajudavam mutuamente no trabalho da ceifa e, depois, da malha do centeio; da forma como respeitavam a pouca água que lhe era destinada na ”hora da rega” para refrescar a horta. Eram pouco “palavrosas”, mas muito eficientes. Gente séria, justa, de palavra e de princípios. E é esta seriedade e justeza que não vejo nos dias de hoje. Sobretudo dos exemplos que vêm de cima. E o que é menos mau acaba por ser “sufocado” por tanta anormalidade.
Não sou saudosista. Mas gosto de recordar as pequenas coisas que me fizeram feliz e quem sou. Sinto um orgulho enorme do lugar de onde venho, de ter vivido com os exemplos dessa gente que moldou a minha forma de estar e de ser.
Fico ofendida quando vejo as “deslumbradas” e os “deslumbrados” que viveram como eu a realidade que descrevi e hoje se aproveitam dos “tachos” que lhes são oferecidos (ou que mendigam, tanto dá) para aumentar o seu espólio
Inscrevem-se no Partido não para defenderem os valores proclamados nos seus princípios. Acredito mesmo que a maioria nunca os leu. Nada sabem sobre a sua fundamentação ideológica. Preocupam-se apenas com as leis que podem ajudar nos seus “arranjinhos”.
Sim, estou zangada com o meu país. Zangada com a descrença, zangada com as extorsões. Com um país onde uma grande parte dos governantes ou candidatos a governantes falam muito e fazem pouco, atrapalham-se nas suas confusões e perdem o norte. Quem passa o tempo a gerir conflitos ou a orquestrar a melhor forma de “passar a perna” ao outro não tem tempo para servir o povo que prometeu proteger.
Enquanto tudo isso, espera o SNS com hospitais e centros de saúde a precisarem de obras e equipamentos actualizados bem como o pessoal competente e comprometido com as suas obrigações, que devia ser pago com um preço justo; Espera a Escola Pública a viver, se não o pior, um dos seus piores tempos, com programas desajustados que tornam os alunos desinteressados, com turmas enormes e burocracias que cansam e fazem desistir professores mal remunerados e desclassificados
Enquanto isso, esperamos a concretização das promessas com as quais se iludiram os portugueses a quem foi “anunciada” uma habitação condigna e uma vida longe da fome e da pobreza que se cola ao corpo; Esperamos pelos lares condignos, ou qualquer outro modelo de apoio, a preços acessíveis, que respeite os velhos isolados e abandonados.
Podia continuar a elencar tudo que já sabemos e nos deixa na cauda da Europa. Merecemos mais e melhor.
Como “Lérias não adubam sopas” talvez precisemos de voltar à rua e gritar a nossa indignação…
Tal como dizia Zeca Afonso, "Não me obriguem a vir para rua gritar".
6 de Janeiro de 2023
Maria dos Reis Gomes, nascida e criada em Bragança. Estudou na Escola do Magistério em Bragança, no Instituto António Aurélio da Costa Ferreira em Lisboa e na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação no Porto, onde reside.
Sempre focada no ensino e na aprendizagem de crianças com NEE (Necessidades Educativas Específicas) deu aulas no CEE (Centro de Educação Especial em Bragança). Já no Porto integrou o Departamento de Educação Especial da DREN trabalhando numa perspetiva de “ escola para todos, com todos na escola). Deu aulas na ESE Jean Piaget e ESE Paula Frassinetti. No Porto. A escola, a educação e a qualidade destas realidades, são os mundos que me fazem gravitar.
Acredito que, tal como afirmou Epicteto “ Só a educação liberta”. Os meus escritos procuram reflectir esta ideia filosófica.
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