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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

POUCO INTERESSAVA O DESTINO DE ATENAS

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Ao ter conhecimento que o Conselho de Estado foi interrompido, porque membro teve de se ausentar, para assistir a jogo de futebol, lembrei-me o incidente ocorrido, em Atenas, na antiquíssima Grécia.
Estava Demóstenes a desertar, do ambom, expondo os importantes negócios da cidade, quando, lhe chega aos ouvidos, sussurros e zunzuns abafados.
Alonga os olhos estupefacto, e verifica surpreso, que o ilustríssimo auditório, constituído por: políticos, anciões e povo, estavam abstratos. - Uns, dormitavam; outros, cochichavam; e ainda outros, bocejavam, escancarando a boca como púcaros destapados.
Então Demóstenes, estende o braço, espalma a mão direita, e sereno, declara:
- Vou interromper, para contar curta história...
O estadista, empertiga-se:
Ateniense necessita de negociar na cidade vizinha. Ajusta, com alquilador, preço, e aluga burrito.
Pelo ardor da tarde, o calor era abrasador. O rosto tisnado do comerciante reluzia de suor. A canícula era insuportável. Sufocado, o homem apeia-se e saboreia a sombra acolhedora do jerico.
O alquilador, que o acompanhava, energicamente, repostou:
- Eu aluguei-lhe o burro, mas não sua sombra... Se goza o sombreado, terá que negociar...
Atónico, o negociante, retruca iracundo:
- Ora essa! Quem aluga o burro, aluga também sua sombra!
Estavam na absurda altercação, quando...
Demóstenes aparta-se do púlpito; compõe a prega da túnica; desce, paulatino, o palanque; simula ausentar-se, como aparenta maestro, concluída a sinfonia.
A multidão curiosa cresce e em uníssono, reclama, gesticula, delira:
- Queremos saber o fim da história!...
Morosamente, o estadista, galga o estreito estrado; acerca-se do ambom e de semblante sombrio:
- Ao expor os interesses de Atenas, estavam enfastiados; agora que conto a história dum asno, acordais!...interessa-vos mais as aventuras de um jumento, que o destino da Pátria!...
Muitas vezes, povo e alguns políticos, animam-se mais com questões de lana-caprina, do que assuntos importantes para a nação, e benefícios para - trabalhadores, reformados, e para os infelizes, que não auferem qualquer rendimento.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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