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SOBRE O BLOG: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

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COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blog, apenas vinculam os respetivos autores.

quarta-feira, 13 de março de 2024

Da entrada proibida ao destemor da juventude

Por: António Orlando dos Santos (Bombadas)
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Aquando do sinal que se ia observando nas hortas e nas leiras mais cuidadas a garotada ia-se apercebendo que se aproximava o fim da Primavera e o Verão se ia mostrando aos homens com a alegria colhida das plantas da horta que serenamente deixavam antever uma boa estação de fruta.
Se as alfaces e as favas, as ervilhas e os feijões se mostravam no seu belíssimo vestido verde sabia-se que a Natureza nos ofereceria a oportunidade de vermos as árvores carregadas de frutos. Nas hortas das quintas do lado Sudeste da cidade, São Sebastião e todo o terreno da Seara no caminho de Alfaião as árvores de fruto começavam já a mostrar as delícias com que nos iriam presentear ao darem-nos peras, pêssegos, damascos e cerejas.
Mas falamos de uma expectativa não fiável pois estas delícias que nos estavam prometidas pela Natureza, tinham dono e era preciso arranjar coragem e audácia para se entrar no pomar ou na horta onde estariam os, donos, os caseiros, um cão ou dois, que corriam mais que os audazes que iriam juntamente com o medo dos dentes dos rafeiros ou a fúria dos da casa que forçosamente, ao tentar ludibriá-los e trazer sem perturbações a fruta que seria comida pelos que tanto arriscavam, só para mostrarem a destreza e o gosto pelo risco num assomo de coragem para questionar o direito de uns terem e os outros nada lhes caber.
Não chamarei à liça a disputa de direitos dos que possuíam a terra, as árvores e a fruta, nem a injustiça de um grupo de adolescentes não possuir cabedais para poder comprar um pouco de fruta que estava logo ali e que ocasionava um desejo no estômago que fazia rugir as tripas dos que por falta de recursos para partilharem uma delicia que Deus deu aos homens e que a eles licitamente não lhe cabiam.
Às vezes a ousadia surtia o efeito de um ou dois, dos aventureiros passarem sem serem detectados e como se diz em linguagem militar “Levarem a carta a Garcia”.
De todas as hortas ou pomares, que eram muitas e de boa fábrica, uma sobressaía pela sua fama de ter as melhores maçãs de todo o Vale da Seara e Vales. Eram chamadas as malápias do Gambôa. Aquilo não era um pomar. Era uma lenda viva e um desafio a todos os rapazes que possuíssem o espírito aventureiro de não se recusarem de mostrar que tinham coragem de desafiar as leis do Estado e a possibilidade de mostrar aos seus jovens parceiros de aventura misturado com irreverência que definirem a coragem dos garotos na idade dos nove aos dezasseis que seguindo um ritual de iniciação lhes abriria as portas ao convívio com os seus pares que eram sempre os mais jovens que postos à prova se conseguiam sair desta aventura sem que o Gambôa se apercebesse deles, ou que apercebendo-se, não conseguisse apanhar nenhum.
Levanta-se-me um pequeno problema de consciência, hoje, mas que me acompanhou toda a vida, que é o de saber de que lado estou neste dilema de escolher quem eram os bons, ou os maus; creio que não podemos tomar a árvore pela floresta, e a melhoria das condições de vida fez com que os pobres pudessem comer fruta sem precisarem destes rituais de iniciação que eram prática comum nos meus tempos de garoto e que podem ser confirmados pelos da minha idade.
O Carlinhos da Sé quando lhe perguntavam qual a sua idade, respondia: -Perguntai ao Armando Bombadas que foi comigo às sortes. Eu em vez respondo a quem devem perguntar pelos raids às Malápias do Gambôa? Eu respondo: -Perguntai ao Luís Molanchim que era meu amigo e participou em alguns raids que fizeram história.



Bragança 21/02/2024
A. O. dos Santos
(Bombadas)

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