Para assinalar a data, a Associação de Cultura e Língua Mirandesa e o Instituto Politécnico de Bragança celebraram um protocolo mas Alfredo Cameirão, presidente da associação, lamenta a pouca importância que é dada ao mirandês pelas instituições de ensino da região e espera que este protocolo marque um novo capítulo. “Quando, às vezes, sentimos alguma estranheza por em Lisboa se dar pouca importância ao Mirandês, ou não darem importância nenhuma, na mesma linha de raciocínio, às vezes, ficamos espantados, como é que uma instituição de ensino superior do território, muitas vezes, parece não haver grande interesse na língua mirandesa. Esperamos que este protocolo possa ser o virar de página dessa situação. A situação óptima seria onde houver alguém com desejo de querer aprender mirandês, esse desejo poder ser satisfeito”.
O presidente do IPB, Orlando Rodrigues, garante que o protocolo já devia ter sido assinado e olha para esta colaboração com bons olhos. “Este protocolo materializa uma cooperação que já vinha existindo entre o Instituto Politécnico de Bragança e a Associação da Língua Miranda. É um tema que nos interessa particularmente. Temos várias pessoas a trabalhar neste tema no âmbito do nosso centro de investigação transdisciplinar em educação básica. Curiosamente, há cada vez mais investigadores interessados em trabalhar este tema. Para além da investigação, claramente também a formação e o ensino da língua são importantes. Faltam professores qualificados no ensino de mirandês. Esperamos também poder contribuir nesse âmbito, de alguma forma, e este protocolo materializa exatamente essa cooperação. O protocolo já deveria ter sido assinado há muito mais tempo”.
Relativamente às ajudas governamentais, Alfredo Cameirão mostrou-se bastante critico, afirmando que há dois aspetos fundamentais para a continuidade do mirandês, que o Governo pode apoiar sem grandes custos. “Quando se fala em ajudas do Governo ao mirandês, estamos a utilizar uma força de expressão, porque, na verdade, estamos a mentir. São muito poucas, para não dizer que são nenhumas. Há dois aspectos que são fundamentais e que para o Governo da nação custariam muito pouco. São forfalhas, migalhas e para a sobrevivência, para o desenvolvimento e para o resguardo da língua mirandesa, são fundamentais. Por uma lado a ratificação da Carta Europeia das Línguas Regionais e Minoritárias, que não acarreta custos financeiros para Portugal, porque todas as medidas preconizadas estão previstas, a maior parte delas já no terreno. E, por outro lado, a criação da entidade orgânica e instituto, que possa ser a cara, dar a cara, desenvolver estratégias, que possa responsabilizar-se por delinear as estratégias que permitirão a língua mirandesa continuar a ser falada ao longo do século XXI”.
Nas celebrações esteve presente a vice-presidente da Assembleia da República, Teresa Morais, que acredita na evolução do processo de ractificação da carta Europeia das Linguas Minoritárias e diz ser importante ajudar a associação através de apoios provenientes do poder central, mas não só. “A associação tem feito tudo o que pode, é muito activa, mas precisa de apoios, que podem vir da comunidade, do meio empresarial e que também têm de vir, naturalmente, dos órgãos de soberania. Tive a preocupação de me informar sobre esse processo e, na verdade, foi-me dito pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, através da Secretaria de Estado dos Assuntos Europeus, que o assunto está a andar e que, neste momento, está identificada a grande maioria das medidas que o Estado português tem de se comprometer a cumprir no processo de ratificação. Portanto, a minha expectativa é que, nos tempos mais próximos, este processo possa evoluir”.
Já a presidente da Câmara Municipal de Miranda do Douro, Helena Barril, acredita que a união faz a força e para que o instituto da língua mirandesa se torne uma realidade, é importante que a comunidade esteja unida. “Há uma dotação orçamental que está prevista nos orçamentos de Estado e penso que este ano também irá a votação com essa dotação orçamental, para dar corpo a uma instituição que terá a sua sede em Miranda do Douro e tem havido, digamos, esse carinho, para acarinhar e chamar a língua mirandesa. Se há muito mais para fazer, naturalmente que sim, mas se criarmos um corpo unido em Miranda, em que não haja dissidências, vai haver uma força e essa força vai ter a capacidade de chamar para o território esses apoios que tanto precisamos”.
A celebração dos 26 anos do mirandês como segunda língua oficial contaram com várias actividades, nomeadamente a apresentação do audiolivro “Mensagem”, de Fernando Pessoa traduzido para mirandês, a sessão solene com a presença da vice-presidente da assembleia da república e a assinatura do protocolo entre o IPB e a Associação de Cultura e Língua Mirandesa.
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