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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

O VALOR DAS COISAS DEPENDE DE QUEM É

Por: Humberto Pinho da Silva 
(colaborador do "Memórias...e outras coisas...")

Possuía, no século passado, meu pai, na zona histórica, belo prédio barroco – que recebera dos avós, – mas, ao longo dos anos, se delapidara.
Reformara-se com modesta pensão, bastante para levar vida desafogada, suficiente para possuir empregada, que realizava o maneio do lar.
Morrera-lhe a mulher, vítima de um meningioma. Manteve a serviçal, que, desde rapariguinha, trabalhava em sua companhia. Era já da família.
 Com os escassos recursos, que possuía, não lhe era possível realizar as obras que o velho edifício precisava.
Idoso, bastante doente, – enfermidade que o vitimou, – recebe notificação oficial. Dizia o ofício: " Informa-se que deve fazer obras ou demolir o prédio, que possui na rua x, no prazo de três meses. Caso não cumpra, obriga a que esta o faça, e impute a si, as despesas."
Aflito, arrastando os pés, firmando-se na bengala – os filhos cumpriam serviço militar, – recolheu a amigo de infância, para solicitar entrevista com o Edil.
Perante a autoridade, explicou: não possuir recursos para satisfazer o pedido. Mas, como se tratava de imóvel barroco, podiam chegar a acordo: venderia, ao município, por preço modestíssimo.
Era, no momento, impossível tal negócio, segundo lhe disseram.
Colocou o edifício à venda. Apareceu falaz capitalista, que esmagou o preço, já de si irrisório. Comprou-o por tuta-e-meia.
 Decorrido meses (anos?,) numa manhã luminosa, de céu lavado, tive que perpassar pelo prédio e reparei que havia enorme azafama de operários, no interior.
Acerquei-me de mulher, que permanecia recostada a umbral de humilde casa, e interroguei-a: " O que se passa?"
Solícita, informou-me: " É para instalar serviços oficiais".
Agradeci, e fiquei inteirado: o valor de imóvel, terreno. Objecto de arte ou o que for, vale consoante for o proprietário.
Na mão de meu pai, velho e doente, nada valia; na mão de capitalista, era casa de valor, e embelezava o centro histórico.

Humberto Pinho da Silva
nasceu em Vila Nova de Gaia, Portugal, a 13 de Novembro de 1944. Frequentou o liceu Alexandre Herculano e o ICP (actual, Instituto Superior de Contabilidade e Administração). Em 1964 publicou, no semanário diocesano de Bragança, o primeiro conto, apadrinhado pelo Prof. Doutor Videira Pires. Tem colaboração espalhada pela imprensa portuguesa, brasileira, alemã, argentina, canadiana e USA. Foi redactor do jornal: “NG” e é o coordenador do Blogue luso-brasileiro "PAZ".

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