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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Pedra pomes, tijolos e uma princesa oriental

Por: José Mário Leite
(colaborador do Memórias...e outras coisas...)

Um texto inspirado de Manuel Cardoso, na última edição deste nosso jornal fez-me regressar a um tema já aqui abordado: a passagem de um milénio sobre a chegada de Joana Ardzrouni a Castro de Avelãs, vinda do longínquo reino arménia da Vaspuracânia. O cronista de Macedo de Cavaleiros aventa a hipótese, bem plausível, de terem vindo, na bagagem da faustosa comitiva, algumas cepas que ainda hoje estariam a ser cultivadas nas encostas de Bragança. O enófilo confessa encontrar um certo sabor oriental no odor a framboesa detetado num copo de vinho, degustado com gosto e saber, numa esplanada do castelo de Bragança. Atrevo-me a sugerir que na refração luminosa de cor aberta do vinho, teria sido possível vislumbrar, no mesmo transporte secular, a expressão de Noé quando, igualmente se deliciou com o produto da vinha por si cuidada na base do bíblico monte Ararate em cujo pico repousava, segura, a Arca. Tais suposições e a justificada argumentação deveriam ser suficientes para alertar as autoridades locais para o potencial que encerram. Esperemos para ver…
Curiosamente, a propósito de Bragança e Macedo, há um episódio recorrente a que assisti, ao longo de alguns anos. Ouvi, muitas e diversas vezes, um queixume, em jeito de protesto, a responsáveis brigantinos, sobre o facto de que é no concelho de Bragança que a tradição de festividades com caretos é maior em expressão e quantidade. E, porém, os mais famosos são os de Podence! É verdade. O mérito é da autarquia macedense que soube identificar e dar o respetivo relevo a esta manifestação cultural. E, indo à frente, ganhou lugar, destaque e primazia. Tal como Colombo quando colocou um ovo de pé!
Para além das varas de videira, é igualmente plausível que tenha vindo com a princesa arménia alguns conceitos de arquitetura, quiçá, expressos nas estranhas capelas do mosteiro de Castro de Avelãs erguidas com tijolos de barro, por ser o material ali existente, mais parecido com a pedra pomes que serve de matéria prima aos vários templos orientais, de onde vinha, também com formas arredondadas e disposições muito semelhantes. Assim foi sugerido à Associação de Amizade Portugal Arménia que a adotou e se comprometeu a colocar nesta freguesia da capital do distrito, uma das várias estelas (khachkars), feitas, similarmente, da leve pedra vulcânica de fácil modelação… se, quer a Freguesia, quer a Câmara Municipal manifestarem o necessário consentimento e a receberem… o que ainda não aconteceu apesar da manifestação feita já há vários meses.
Pode, perfeitamente, ser possível que, cansada de esperar, a Associação de Amizade encontre, outra localidade, que igualmente justifique a deferência com que pretende honrar a ascendência oriental da nobre família dos Bragançãos de onde nasceram muitos dos valorosos cavaleiros que, um século mais tarde andaram por aí a “filhar Portugal”. Se assim acontecer, é bem provável que, igualmente, os responsáveis bragançanos venham, de novo, reclamar da injustiça de tal decisão pois, como é do conhecimento geral, devidamente comprovado e documentado, foi a Castro de Avelãs que aportou a matriarca da mais poderosa geração lusitana do início deste milénio.
Mas, sendo verdade, e apesar da imposição da memória histórica e do testemunho monumental, se nada for feito, nada acontecerá, só por si.
E, candeia que vai à frente… ou como se diz no chincalhão, a primeira vale um carro!


José Mário Leite
, Nasceu na Junqueira da Vilariça, Torre de Moncorvo, estudou em Bragança e no Porto e casou em Brunhoso, Mogadouro.
Colaborador regular de jornais e revistas do nordeste, (Voz do Nordeste, Mensageiro de Bragança, MAS, Nordeste e CEPIHS) publicou Cravo na Boca (Teatro), Pedra Flor (Poesia), A Morte de Germano Trancoso (Romance) e Canto d'Encantos (Contos), tendo sido coautor nas seguintes antologias; Terra de Duas Línguas I e II; 40 Poetas Transmontanos de Hoje; Liderança, Desenvolvimento Empresarial; Gestão de Talentos (a editar brevemente).
Foi Administrador Delegado da Associação de Municípios da Terra Quente Transmontana, vereador na Câmara e Presidente da Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo.
Foi vice-presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
É Diretor-Adjunto na Fundação Calouste Gulbenkian, Gestor de Ciência e Consultor do Conselho de Administração na Fundação Champalimaud.
É membro da Direção do PEN Clube Português.

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