Para além de quatro apartamentos autónomos, que retratam as vivências de uma casa agrícola tradicional e que chegou a ocupar um bairro inteiro da aldeia, existe, ainda, uma mini-mercearia alojada no espaço da antiga adega e lagar.
Com um grande pátio interior, murado, a Casa da Edrosa esconde, também, um compartimento secreto, que terá sido usado como refúgio dos soldados de Napoleão Bonaparte quando o imperador francês tentou, por três vezes, invadir Portugal, nos primeiros anos do século XIX.
“A loja dos bois é hoje a biblioteca. É o ex-libris. Estive toda a vida ligada aos livros. Está ali a coleção de livros que fiz ao longo da vida. São cerca de quatro mil livros. Há muitas revistas que vêm do início do século XX, como a Modas e Bordados, a Menina e Moça.
É uma coleção sem grande valor mas muito variada”, sublinha.
Ao lado tem um quarto e uma sala para crianças. “Há ainda um espaço que só nos era dado a conhecer quando íamos para o liceu. Era emparedado, entrava-se por umas tábuas. Esconderam-se lá pessoas durante as invasões francesas e era onde se guardavam os víveres durante a II Guerra Mundial, quando houve o racionamento”, conta, com orgulho, Maria Luísa Gonçalves.
A pandemia de Covid-19 deu a ideia a esta antiga professora de recuperar a casa de família.
“Nasci aqui, fui criada aqui e foi nesta casa que aqui tive as melhores recordações de infância. Não era capaz de me despedir desta casa assim, de a deixar cair. Era uma casa agrícola relativamente grande. Na pandemia surgiu a ideia de a renovar. No início não sabia muito bem como fazer mas a pandemia deu-me a ideia de a dividir em apartamentos para as pessoas terem mais autonomia”, explicou ao Mensageiro.
“Assim, da Casa dos Caseiros fiz um T2, na Loja da Égua aproveitei para pessoas com mobilidade reduzida (também T2). No Palheiro das Batatas era onde as mulheres escolhiam as batatas para semear e dar aos animais.
O Quarto do Carlinhos era o quarto de um homem que aqui esteve 40 anos, que foi acolhido pelos meus avós”, conta Maria Luísa.
Carlinhos era uma criança que foi acolhida na casa, em 1928, proveniente de uma família sem posses, e que por ali foi criado, ao longo de 40 anos.
Já o palheiro do feno foi transformado em espaço de recreio e lazer.
Onde era adega e lagar é hoje um bar e uma mini-mercearia, onde as pessoas podem ir buscar o que precisam para os pequenos almoços ou lanches. As pessoas só têm de escrever no livro de deve e haver.
O projeto é marcado pela vontade em recuperar as memórias e os utensílios e mobílias de antigamente.
Por exemplo, da escada com que os homens subiam aos medeiros de feno, com nove metros, foi feito um candeeiro de exterior.
“Fiz questão de recuperar tudo. Os móveis dos apartamentos já existiam nesta casa”, precisa Maria Luísa.
O projeto de turismo já funciona desde o mês de março e por lá têm passado muitos visitantes, incluindo do estrangeiro.
“No mês de agosto tivemos muitos estrangeiros, fundamentalmente holandeses e espanhóis”, explicou.
Também já por ali passaram americanos, canadianos, checos. A próxima fase será a recuperação de um espaço exterior e a construção de piscina. “Todo o projeto foi feito tendo por base a sustentabilidade e ecologia”, garantiu.
Um dos apartamentos está dotado de condições para mobilidade reduzida e era onde, em tempos, estava alojada a égua da casa, utilizada para trabalhos no campo.
A aldeia de Edrosa fica na Serra da Nogueira e tem uma outra particularidade. Na Páscoa, acolhe uma procissão, do Senhor dos Passos, que se realiza apenas de sete em sete anos.
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