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SOBRE O BLOGUE: Bragança, o seu Distrito e o Nordeste Transmontano são o mote para este espaço. A Bragança dos nossos Pais, a Nossa Bragança, a dos Nossos Filhos e a dos Nossos Netos..., a Nossa Memória, as Nossas Tertúlias, as Nossas Brincadeiras, os Nossos Anseios, os Nossos Sonhos, as Nossas Realidades... As Saudades aumentam com o passar do tempo e o que não é partilhado, morre só... Traz Outro Amigo Também...
(Henrique Martins)

COLABORADORES LITERÁRIOS

COLABORADORES LITERÁRIOS
COLABORADORES LITERÁRIOS: Paula Freire, Amaro Mendonça, António Carlos Santos, António Torrão, Fernando Calado, Conceição Marques, Humberto Silva, Silvino Potêncio, António Orlando dos Santos, José Mário Leite. Maria dos Reis Gomes, Manuel Eduardo Pires, António Pires, Luís Abel Carvalho, Carlos Pires, Ernesto Rodrigues, César Urbino Rodrigues e João Cameira.
N.B. As opiniões expressas nos artigos de opinião dos Colaboradores do Blogue, apenas vinculam os respetivos autores.

sábado, 21 de dezembro de 2024

Censo do Lobo: Há agora menos cinco a sete alcateias e futuro da espécie é mais incerto

 Nos últimos 20 anos, o número de alcateias decresceu no núcleo Alvão/Padrela, no planalto mirandês e a sul do Douro. Na área envolvente ao rio, a área de distribuição do maior carnívoro de Portugal também encolheu.

Lobo-ibérico. Foto: Arturo de Frias Marques/Wiki Commons

O relatório coordenado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) avisa que Portugal não está a conseguir desenvolver todos os esforços necessários para que o estado de conservação do lobo-ibérico passe a ser favorável, apesar do compromisso assumido em termos europeus e nacionais.

De facto, os resultados obtidos durante o último censo sobre a espécie (2019/2021), finalmente divulgados vários anos após a sua conclusão, revelam que foram estimadas um total de 58 alcateias, quando no censo anterior estimava-se a existência de 63. Isto numa altura em que os lobos deixaram de estar legalmente protegidos a nível da União Europeia, devido à mudança do estatuto da espécie na Convenção de Berna, uma decisão que recebeu o voto favorável do Governo português.

Das alcateias agora detetadas, foram confirmadas 56, mas destas apenas 37 tinham reprodução comprovada, incluindo apenas três a sul do Douro – mais de metade das cinco encontradas nesta região, além de uma outra alcateia provável.

Para além do sul do Douro, onde a presença do lobo se estende das serras da Freita, Arada e Montemuro (distritos de Aveiro e Viseu) até ao distrito da Guarda, onde já é mais incerta, existem em território nacional outros três núcleos já delineados em trabalhos anteriores sobre a espécie: Peneda/Gerês, Alvão/Padrela e Bragança.

No entanto, apenas no caso da Peneda/Gerês, na região do Minho, houve deteção de novas alcateias face ao censo anterior, um resultado que poderá estar relacionado com uma subida dos esforços de amostragem mas também com o aumento de alimento disponível para esta espécie, devido ao crescimento no número de vacas que pastam sem qualquer vigilância nalgumas áreas.

Já no que respeita aos três núcleos restantes, a morte devida a causas humanas é apontada como o maior motivo na diminuição da presença deste predador. Com efeito, recorda o documento, os dados do Sistema de Monitorização de Lobos Mortos, gerido pelo ICNF, mostram que “o atropelamento tem constituído a principal causa de morte registada, logo seguida do laço e do tiro, encontrando-se tambem o envenenamento entre as causas de morte detetadas”. Aliás, apontam o mesmo relatório, “a mortalidade ilegal continua a constituir uma das principais ameaças à conservação desta espécie no nosso país”.

Ligado aos conflitos entre humanos e lobos parece estar o crescimento no número de bovinos criados em pastagens ao ar livre nas últimas duas décadas, mais exposto a ataques de lobo, o que aumenta a perseguição a este animal e “poderá estar a condicionar a sua recuperação em algumas zonas”, como é o caso da Beira Interior (sul do Douro).

Por outro lado, há cada vez menos áreas de matos e floresta, quer devido aos fogos e à prevenção dos mesmos, quer em consequência da conversão desses territórios para pastagem, agricultura e outros usos, o que reduz “a disponibilidade de zonas adequadas para refúgio e reprodução do lobo”, tal como as áreas necessárias para as presas selvagens de que este se costuma alimentar. Assim, apesar de hoje existirem mais veados, corços e javalis do que há 20 anos, a espécie continua a alimentar-se sobretudo de gado doméstico.

A desfavor de uma boa situação do lobo está também o aumento de parques eólicos e solares e de vias de comunicação, uma vez que levam à fragmentação de habitats e também facilitam o acesso de pessoas em zonas do Norte e Centro onde antigamente a espécie se conseguia refugiar.

Por fim, o aumento no número de cães errantes, aponta o relatório coordenado pelo ICNF, conduz a que o lobo seja muitas vezes dado como culpado de ataques a gado cujos responsáveis foram esses cães. Além do mais, esses animais são um foco de doenças contagiosas para a espécie e por vezes acontecem também casos de hibridação (reprodução cruzada). Até hoje, foram detetados três casos de hibridação.

Necessidade de mais áreas classificadas a sul do Douro

Além de várias ações já antes identificadas como necessárias, como a melhoria do sistema de compensações por ataques de lobo ao gado doméstico e a conservação e recuperação de habitat, o relatório agora divulgado sublinha a necessidade de se avaliar a criação de novas áreas classificadas tendo em conta esta espécie, em especial a sul do Douro.

Isto porque até agora a legislação que estabelece a proteção estrita do lobo-ibérico em Portugal, justifica o documento, não tem dado os resultados esperados, não sendo suficiente “para garantir a conservação de áreas sensíveis em várias situações”.

Em segundo lugar, as metas europeias para as energias renováveis e a simplificação dos procedimentos de avaliação ambiental para a instalação de infraestruturas deste tipo “tornam fundamental uma identificação objetiva das áreas sensíveis para o lobo a proteger também nesse contexto”, sublinham os autores.

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