O alerta foi deixado pela investigadora Paula Rodrigues, do Instituto Politécnico de Bragança, num seminário promovido, na passada sexta-feira, pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Social do Norte (CCDR-N), em Bragança.
De acordo com Paula Rodrigues, a campanha de 2023 foi das mais afetadas, com perdas estimadas de pelo menos 30 milhões de euros.
"Não conhecemos ainda a tendência porque em Portugal a tendência é relativamente recente. O que sabemos é que é um fungo adaptado a temperaturas elevadas e, apesar de já existir na planta, a tendência é que, com condições climáticas mais adversas para a planta, o fungo tenha maior capacidade de se desenvolver e de se distribuir por todos os tecidos da planta e afetar o fruto.
Para além disso, as condições em que conseguíamos conservar a castanha no inverno, porque eram muito frios e conseguia-se conservar a castanha durante algum tempo. Neste momento, essas condições de frio não existem e a castanha apodrece muito mais cedo.
A conjugação destes fatores leva-nos a pensar que esta é uma doença que veio para ficar e, até, para aumentar a sua incidência", alerta Paula Rodrigues.
De acordo com a investigadora, " o que está a acontecer gradualmente é que a planta está cada vez mais sensível ao fungo e à doença porque as condições climáticas estão a torná-la mais stressada, mais sensível às alterações como a seca e o aumento da temperatura". "Os nossos soutos não são regados, a rega não é uma prática cultural habitual no castanheiro. Temos picos de seca que influenciam a planta e irão influenciar a capacidade de instalação do fungo e de aparecimento dos sintomas", explicou.
Para já, não há ainda produtos eficazes para controlar este problema. Têm sido feitos estudos noutras regiões mas não há nenhum que esteja adaptado ao que se passa no Nordeste Transmontano. Mesmo a utilização de cobre não tem dado mostras de ser eficaz. "Não está comprovado. Aliás, em laboratório fizemos alguns ensaios com o cobre e constatámos que não tem efeito sobre este fungo.
Portanto, apesar de ser utilizado com esse objetivo, o cobre parece não ter um efeito muito significativo ao nível desta doença.
É preciso haver estudos e haver financiamento. Temos submetido alguns projetos que não têm vindo aprovados nesta área", revelou Paula Rodrigues.
"Apesar da importância do castanheiro na região, aparentemente, ao nível nacional, não é uma cultura prioritária, pelo que não temos tido a possibilidade de abraçar todas as questões que envolvem a doença. Temos de considerar o souto como um ecossistema e temos de considerar todos os fatores que, sabemos, à partida influenciam a incidência e a severidade desta doença e sem financiamento próprio que nos permita ter recursos humanos dedicados, fazer as deslocações ao campo, o acompanhamento ao longo do tempo, todas as análises laboratoriais (que são custosas)... Não conseguimos fazer tudo isso sem um financiamento próprio. Aquilo que vamos fazendo é com autofinanciamento. Muitas vezes, até, financiamento pessoal. Sabemos que é um problema para a região, grave, mas não temos capacidade para fazer aquilo que nós gostaríamos, uma avaliação mais abrangente do problema", sublinhou.
Paula Rodrigues estima que fosse preciso cerca de um milhão de euros para um projeto de investigação adequado. " Para fazermos esta abordagem mais abrangente, teríamos de ter um financiamento a rondar um milhão de euros. É um valor muito significativo porque precisamos de recursos humanos dedicados, obrigatoriamente. Somos investigadores mas somos professores, temos uma dedicação muito intensiva às atividades letivas. Todas as tecnologias que podemos utilizar e que nos são muito úteis são muito dispendiosas. A abordagem tem de ser por várias vias.
Temos de partir da caracterização dos soutos relativamente aos solos, as condições em que as doenças se instalam com maior severidade, tecnologia em termos informáticos. Claro que não consideramos que uma autarquia possa financiar a esse nível mas ir tendo financiamento, por exemplo, de 50 ou 100 mil euros, conseguimos ir trabalhando nalgum sentido, mas não com esta abrangência", concluiu.
Entre os conselhos deixados aos produtores, está a necessidade de destruir os ouriços após a colheita das castanhas, bem como a de acelerar a apanha das castanhas, para dar menos tempo a que o fungo de desenvolva. "Acelerar a colheita; não deixar castanhas no solo, principalmente durante a noite; a colheita mecânica deve ser preferida para uma colheita rápida; onde for viável, a agitação mecânica da árvore é recomendada para uma colheita rápida levar rapidamente as castanhas para a empresa de processamento (de preferência no mesmo dia da colheita) ou, caso não seja possível, armazenar imediatamente entre 0 – 2 °C antes da entrega. Os ouriços e folhas não devem ser queimados. Uma boa prática pode ser triturar os ouriços e compostá-los. A compostagem elimina o inóculo do fungo e o composto obtido pode, depois, ser espalhado no souto. Estas práticas reduzem o inóculo do fungo causador da podridão castanha e as infeções no ano seguinte.
Em qualquer caso, a remoção dos ouriços deverá ser realizada conforme autorizado pelas regulamentações locais.
Ou fazer pulverização com ureia diretamente sobre os ouriços", concluiu.
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